Quando falar também é sentir – Entrevista com a fonoaudióloga Tatiana Fernandes

imagem: envato

A voz é uma poderosa ferramenta de comunicação, mas também um espelho das nossas emoções, identidade e até espiritualidade. Para entender melhor essa conexão entre voz, emoções e bem-estar, conversamos com a fonoaudióloga Tatiana Fernandes da Silva Corrêa. Com ampla atuação nas áreas de linguagem e motricidade orofacial infantil, Tatiana é especialista no desenvolvimento da fala, da comunicação e das funções orofaciais em crianças. Sua experiência inclui o acompanhamento de casos de atraso de linguagem, distúrbios articulatórios e alterações miofuncionais.

Nesta entrevista, Tatiana nos conduz por reflexões valiosas sobre como o estado emocional pode afetar a qualidade vocal, como reencontrar a própria voz pode transformar a autoestima e por que cuidar da voz é também um ato de autocuidado e propósito. Confira:

  • Por que a nossa voz muda tanto quando estamos nervosos ou ansiosos?

A voz é muito mais do que som: ela é um reflexo direto do nosso estado emocional. As nossas emoções como estresse, medo e ansiedade provocam reações no corpo, como aumento da tensão muscular e alterações na respiração, tudo isso influencia diretamente a voz. Além disso, a produção vocal envolve vários sistemas do corpo: respiratório, fonatório (laringe e pregas vocais), articulatório (boca, língua e palato) e ressonantal (cavidades que amplificam o som). Todos esses sistemas são controlados pelo sistema nervoso, que responde diretamente às emoções. Por isso, é comum a voz sair tremida, falhar ou até desaparecer em momentos de tensão. Esses sintomas podem se manifestar como rouquidão, bloqueios, disfonias e até gagueira e são amplamente estudadas pela Fonoaudiologia.

  • Por que muitas pessoas têm medo de se expressar? De onde vem a dificuldade de “se posicionar”?

Muitas pessoas têm medo de se expressar, porque a voz é uma extensão da nossa identidade. Ela revela emoções, personalidade e o grau de confiança que temos em nós mesmos. A dificuldade de se posicionar está frequentemente relacionada a experiências negativas vividas na infância, como críticas ou repressões, além do medo de errar, da rejeição, da baixa autoestima, da ansiedade e da pressão social para não se expor. Esses fatores podem gerar bloqueios emocionais que se manifestam diretamente na voz, fazendo com que ela trave, falhe ou até desapareça em situações de tensão. Superar esse medo passa pelo fortalecimento da autoconfiança, cuidado com a saúde vocal e desenvolvimento da comunicação. Técnicas como respiração consciente, projeção vocal e, em alguns casos, apoio terapêutico, são fundamentais nesse processo.

  • Você conhece alguns casos de pessoas que reencontraram sua autoestima e liberdade ao “reencontrar a própria voz”?

Sim, há muitos casos de pessoas que, após passarem por terapia fonoaudiológica e receberem apoio emocional, reencontraram a confiança ao se expressar e, com isso, recuperaram também sua autoestima e liberdade de comunicação. Professores, cantores e até indivíduos tímidos que antes evitavam se posicionar relatam que, ao desenvolverem a sua voz, passaram a se sentir mais seguros, valorizados e ouvidos, o que transformou profundamente sua forma de se relacionar com o mundo.

  • Quais são os cuidados essenciais para manter a saúde vocal no dia a dia, especialmente para quem usa a voz com frequência?

Para quem utiliza a voz com frequência, como pais, professores, pregadores, cantores ou comunicadores, é essencial adotar hábitos que preservem a saúde vocal. A hidratação constante ao longo do dia é fundamental, pois mantém as pregas vocais lubrificadas, evitando o ressecamento, especialmente se houver consumo excessivo de bebidas geladas. Também é importante evitar gritar ou sussurrar, pois ambos os extremos sobrecarregam a musculatura da garganta. Falar com firmeza e boa projeção vocal, aliada ao apoio respiratório adequado, ajuda na preservação da voz. Além disso, é recomendável fazer pausas vocais, especialmente em longos períodos de uso, e incluir aquecimento e desaquecimento vocal antes e depois de atividades intensas. Técnicas de respiração diafragmática ajudam a reduzir o cansaço vocal. Por fim, deve-se evitar hábitos prejudiciais como o tabagismo, o consumo excessivo de álcool e cafeína, que podem irritar e ressecar as cordas vocais. Esses cuidados simples fazem uma grande diferença na qualidade e longevidade da voz.

  • O que significa usar a voz com propósito, sensibilidade e verdade, à luz da Bíblia e da vida prática?

Usar a voz com propósito, sensibilidade e verdade é um ato de responsabilidade que vai além das palavras: envolve sabedoria, empatia e sinceridade. A Bíblia ensina que nossas palavras devem edificar e trazer vida (Provérbios 18:21; Efésios 4:29), o que significa escolher expressões com valor e impacto positivo. Falar com sensibilidade é ter empatia e discernimento para saber quando se calar e quando se posicionar. Já a verdade deve ser o alicerce da comunicação, conforme ensinou Jesus: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). Assim, falar com consciência é honrar o dom da comunicação com respeito ao outro e fidelidade ao que se crê.

Compartilhe esse conteúdo!

Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

Matérias Recentes

0
Adoraria saber sua opinião, comente.x