Mais que amigos, irmãos!

Imagine que você recebeu um prêmio milionário. Entretanto, você não pode usar esse dinheiro todo, e só pode usufruir desse prêmio se for capaz de compartilhá-lo com dez amigos, caso contrário, você não receberá nada. A pergunta é: você tem essa quantidade de amigos para dividir o prêmio?

Falando de dinheiro assim fica até fácil arranjar esse tanto de amigos, mas vamos imaginar outra situação: você cometeu um erro grave, agiu de forma errada com alguém e agora precisa ser aconselhado. Nesse caso, é importante confessar o seu pecado, ser orientado, repreendido, confrontado e direcionado ao arrependimento e restauração.

Mas, agora a pergunta é: você tem pelo menos dois amigos a quem você possa se confidenciar, em quem você confia os seus segredos, e que te ajudarão sem julgá-lo, ou que o exortarão sem reservas? E mais, você aceitaria a repreensão destes amigos sem que isso prejudicasse sua amizade e seria capaz de ouvi-los sem se sentir magoado?

Então, deixa eu dificultar a situação. Você sofreu um acidente grave, e agora precisa de ajuda para fazer as coisas mais simples da vida, pois está completamente imóvel numa cama. Você precisa de uma pessoa para te dar banho, te limpar após as necessidades fisiológicas, vestir sua roupa, te alimentar e te levar para qualquer lugar onde você precise ir. Você tem um amigo em quem confie tanto a sua intimidade para fazer isso por você?

No livro de Provérbios 17:17 temos o sábio Salomão afirmando que: “o amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade”. Note que aqui a amizade apresenta dois níveis diferentes. Há a amizade para todos os momentos, sejam eles bons ou ruins, e há aquele que se mostra ainda mais próximo, que pode sim estar presente nos momentos bons, mas tal qual um irmão, ele também permanece firme ao nosso lado na adversidade.

Mais para frente, em Provérbios 27:17 encontramos Salomão dizendo que: “como o ferro afia o ferro, assim um amigo afia o outro”. Aqueles que sabem das técnicas para se afiar facas e ferramentas diversas, entendem que essa analogia está falando do desgaste criado pelo atrito entre os objetos de ferro. Dois objetos duros, sendo atritados entre si, é assim que se afia. E nesse processo, um dos dois objetos, ou mesmo os dois, serão “machucados” a ponto de perder partes de si mesmo. Entretanto, no final, surgirá uma ferramenta forte, afiada e útil.

A Bíblia também nos relata sobre uma amizade que ficou marcada na história. No livro de 1 Samuel, capítulo 18, vemos o surgimento da amizade entre Davi e Jonatas. Ali começa um relacionamento entre amigos que passaram por diversos momentos felizes, tais como vitórias em batalhas e banquetes na mesa do rei, em locais onde certamente havia muita comida e diversão. Mas essa amizade também foi capaz de suportar várias adversidades, como guerras e um conflito familiar com o próprio rei.

Inúmeras situações puseram à prova a amizade de Davi e Jonatas, chegando até mesmo a colocar a vida de um deles em risco por várias vezes. E ainda assim, a amizade entre esses dois guerreiros era tão forte que ecoou para as gerações futuras. Um exemplo citado pela Bíblia é quando Davi se tornou rei, sendo Jonatas já morto, ele se lembrou do pacto firmado e honrou a memória de seu amigo que tanto amava.

Entretanto, na contramão de tudo isso, o que temos visto nos dias atuais é que nossa sociedade caminha para relacionamentos cada vez mais superficiais. Pensar em amizades que possam compartilhar prêmios e alegrias é até muito fácil, pois muitos que estão ao nosso redor serão capazes de desfrutar de momentos felizes ao nosso lado e sempre estarão por perto enquanto vai tudo bem. E ainda há outros que farão parte daquele grupo ainda maior de amigos que se relacionam conosco apenas através das redes sociais, e que conhecem de nossa vida apenas aquilo que postamos e compartilhamos nas mídias, o que, via de regra, diz respeito apenas às coisas legais e divertidas.

Quando lemos o Novo Testamento podemos encontrar o que chamamos de Imperativos de Mutualidade (Amai-vos uns aos outros, suportai-vos uns aos outros, perdoais-vos uns aos outros, exortai-vos uns aos outros, etc.). Todos estes verbos imperativos, cerca de 25 apenas nas epístolas de Paulo, nos mostram que é na mutualidade e no relacionamento interpessoal que seremos moldados e aperfeiçoados. Assim como uma ferramenta bruta que precisa ser afiada, precisamos estar dispostos a sermos “desgastados” para podermos ficar bem afiados.

Acredite: relacionamentos superficiais jamais irão nos proporcionar isso. Não digo aqui que teremos vários amigos tão chegados assim, porém, os poucos que atingirão este nível de amizade devem ser capazes de nos moldar, nos confrontar e nos fazer melhores. O que não podemos é deixar de ter este tipo de pessoa em nossas vidas.

Certamente, são esses poucos amigos que serão capazes de nos tornar melhores e estarão ao nosso lado no dia em que a adversidade chegar.

Pr. Thiago Tiradentes Araújo

Formado em Música pela UFG; Pastor do Ministério de Louvor Batista Renascer.

Você também vai gostar de ver

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
0
Would love your thoughts, please comment.x
()
x