O universo da ficção cristã

Nos últimos anos, um novo gênero de histórias vem atraindo a atenção de leitores cristãos. Tratam-se das narrativas de “ficção cristã” que, na realidade, são escritas há décadas. Você deve conhecer nomes como C.S Lewis (As Crônicas de Nárnia) e J. R. R. Tolkien (O Senhor dos Anéis).

Porém, com as redes sociais, o conceito de “ficção cristã” vem ganhando três coisas essenciais para o fortalecimento de um formato no mundo editorial — novos leitores, uma comunidade curiosa pelos títulos e claro, mais escritores que apostam em criar suas próprias histórias.

Mas, afinal, o que pode ser considerado como ficção cristã? “Não existe uma definição oficial para o termo ficção cristã, mas, de modo geral, entendemos que é a literatura ficcional criada por cristãos e que aponta para Cristo e o plano de redenção, ainda que nem sempre de forma explícita. Podemos incluir nesse meio aqueles livros que refletem os valores da vida cristã nos personagens”, é o que explica a leitora e escritora Gabriela Fernandes.

Nesse sentido, para um livro “entrar” nessa categoria, nem sempre elementos do cristianismo vão aparecer de forma explícita. Em alguns livros, os personagens vão à igreja e durante a história, são citados versículos bíblicos, por exemplo. Em outros, isso não aparece. No entanto, elementos da cosmovisão cristã são espalhados pela história.

“Na ficção cristã revelamos o Evangelho de inúmeras maneiras, usando da criatividade que recebemos do primeiro Criador. Existem as ficções cristãs explícitas, aquelas histórias que são um recorte da vida cristã e adaptações ou releituras bíblicas. Mas, há também as implícitas, quando a mensagem cristã é levada de uma forma mais sutil. Nesse caso, o autor usa de algumas ferramentas como: metáforas, alegorias e simbolismos, ou quando a própria narrativa deixa que as causas e consequências transmitam a moral da história”, detalha a escritora cristã.

Referências

Apesar do crescimento recente, há sem dúvidas um passado repleto de boas referências de escritores que “pavimentaram” o caminho para novos escritores. Entre eles, Gabriela destaca nomes como Frank E. Peretti, Francine Rivers, Janette Oke e Robin Gunn. Além dos que são considerados os “pais da fantasia”, como Lewis e Tolkien.

“Tem uma frase de C.S. Lewis que eu gosto bastante: ‘quaisquer ideias teológicas podem ser contrabandeadas para dentro da mente das pessoas sob o disfarce de um romance sem que elas percebam’. Eu acredito que a literatura ficcional é um meio do Evangelho chegar onde a literatura teológica, muitas vezes, não alcança’”, ressalta a escritora.

Assim, a Literatura aparece como um instrumento. Para Gabriela, as próprias Escrituras apontam para essa possibilidade. Nos livros, em meio aos personagens, cenários e diálogos ficcionais, a Verdade da Palavra é revelada.

“A literatura, assim como as outras formas de arte, também tem esse poder. Vemos isso até mesmo na Bíblia quando o rei Davi não conseguia enxergar o próprio pecado e o profeta Natã precisou contar uma história fictícia que o fez, enfim, se arrepender; ou quando o Senhor Jesus veio ao mundo e pregou a Verdade através de parábolas. A ficção não tem como objetivo anular a Bíblia, mas ser um meio de levar as pessoas até ela”, destaca.

A escrita

Um mundo marcado por divisões e guerras. Heróis que passam a questionar o que defendem. Civilizações que se agarram a “lendas” sobre a Verdade que traria redenção e transformação. Protagonistas fortes e destemidos, mas ainda assim, humanos e vulneráveis.

Esse é um pouco do cenário de “As andorinhas de um continente em chamas”, livro de ficção cristã escrito por Gabriela Fernandes. Formada em Direito, Gabriela começou a jornada de escritora em 2020, e hoje comemora o lançamento da edição física de seu livro.

“Meu livro trata de muitos temas contemporâneos à luz do Evangelho de uma forma nem um pouco convencional, já que é uma distopia com cenas de ação e muitas reviravoltas. Mas, acho que a principal reflexão que a história traz é de que um herói, antes de salvar o mundo, precisa ser salvo”, resume.

Para quem deseja escrever histórias, Fernandes destaca três conselhos principais: “Leia muito e não tenha pressa. Reescreva quantas vezes forem necessárias”.

No seu ponto de vista, ainda é preciso que mais cristãos “mergulhem” nas ondas da ficção cristã. “Precisamos quebrar muitos preconceitos com o gênero e fazer o cristão entender que consumir ficção é saudável e importante para a propagação do Evangelho”, afirma.

Jéssica Lima

Formada em Jornalismo, atua como revisora editorial, produtora de conteúdo para redes sociais e atua como jornalista na equipe editorial da Revista Renascer.

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