Qualquer distração é TDAH?

Há muitas informações disponíveis sobre questões psicológicas e distúrbios nos dias atuais, o que pode causar dúvidas acerca de sintomas e do momento certo para procurar um profissional. Nesta entrevista, convidamos Selene Milhomem, Psicopedagoga com 33 anos de experiência e estudante de Neuropedagogia, para explicar o que é o TDAH e como identificá-lo na individualidade de cada pessoa. A profissional também traz algumas dicas para aqueles que convivem com pessoas já diagnosticadas e têm dúvidas sobre como agir de forma acolhedora. Confira a entrevista:

  • Atualmente, fala-se muito sobre o diagnóstico de TDAH. O que seria essa condição? Quais as principais causas e sintomas?

O TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) é um distúrbio neurobiológico que, segundo estudos, é decorrente de uma predisposição genética e ocorrência de alterações em neurotransmissores que estabelecem as conexões entre os neurônios da região frontal do cérebro. É caracterizado por desatenção crônica, impulsividade e, em alguns casos, hiperatividade física. Para ser diagnosticado com TDAH, é necessário avaliação clínica e critérios específicos, essencialmente quando há interferência no desenvolvimento, nas relações interpessoais e no trabalho.

  • Qual a diferença entre o déficit de atenção e a hiperatividade?

A hiperatividade está relacionada a um nível excessivo de atividade motora. Geralmente, pessoas hiperativas têm dificuldade em ficar paradas, são agitadas e sentem uma necessidade constante de se movimentar, parecendo estar sempre “ligadas”. Por exemplo, uma criança que não consegue ficar sentada na sala de aula, se levanta constantemente, mexe os pés e fala sem parar. Já o déficit de atenção é caracterizado pela falta de atenção em atividades rotineiras, uma vez que ocorre uma distração facilitada por estímulos do ambiente ou até mesmo por seus próprios pensamentos.

  • Crianças são naturalmente mais agitadas e, devido à alta disseminação de informações, pode haver confusão sobre esse comportamento e as características do TDAH. Como diferenciar o que é comportamento normal da fase infantil e o que é patológico?

A neurociência diz que todo comportamento, seja bom ou ruim, tem uma causa e uma reação e, a distinção entre o que é normal na infância e o que pode ser considerado patológico envolve uma análise cuidadosa dos fatores de intensidade e persistência. Comportamentos normais podem variar amplamente, mas costumeiramente não causam sofrimento significativo ou interferem na vida diária de maneira prejudicial. Entretanto, quando determinada ação é intensa, persistente e prejudica o funcionamento, é essencial a investigação. É importante estar atento aos marcos do desenvolvimento propostos para cada idade, visto que, o que é normal para uma criança de dois anos pode não ser para uma de dez anos. Da mesma forma, destaco que a distração é uma experiência comum e que pode acometer qualquer pessoa, especialmente quando há sobrecarga de informações, falta de interesse na tarefa em questão ou rotina inadequada e, não necessariamente é TDAH. Sendo assim, considerar o contexto é crucial, pois cada pessoa é única. Nesses casos, o acompanhamento e a investigação profissional é fundamental para determinar se há algum problema subjacente ou não.

  • Quais são os tratamentos para quem é diagnosticado com TDAH?

Há casos em que o tratamento para TDAH é realizado através de medicamentos psicoestimulantes prescritos por médicos que ajudam a aumentar a concentração, reduzir a hiperatividade e controlar a impulsividade. Além disso, há um trabalho multidisciplinar com psiquiatra, psicólogo, psicopedagogo e outros profissionais que, juntamente com a família, planejam estratégias e intervenções personalizadas e efetivas para a superação de desafios acadêmicos, sociais e emocionais, e compreensão de seu funcionamento.

  • Como podemos lidar com pessoas que têm o diagnóstico de TDAH?

Ao conviver com uma pessoa com TDAH, é muito importante saber que as dificuldades enfrentadas por ela são reais, e não uma questão de falta de esforço. Por isso, é preciso paciência e empatia, oferecendo um ambiente de compreensão e apoio, sem julgamentos. Ademais, procure destacar com mais frequência as conquistas e habilidades já alcançadas, não ressaltando as suas dificuldades, com a consciência que cada avanço é significativo. Busque manter uma comunicação com linguagem clara e aberta, rotina previsível, estruturada e flexibilidade, pois é comum a dificuldade em seguir instruções detalhadas, lembrar-se de tarefas e manter a organização. O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade não tem cura definitiva, mas é completamente viável gerenciar e melhorar os sintomas com abordagens adequadas.

Deborah Luize Santana de Brito

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