A começar em mim

imagem: envato

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“Somos corpo, e assim bem ajustado, totalmente ligado, unido, vivendo em amor. Uma família sem qualquer falsidade, vivendo a verdade, expressando a glória do Senhor”. Esta bela canção, lançada por Daniel Souza há exatos 20 anos, no álbum Frutos do Espírito em 1994, faz parte do repertório de muitas igrejas brasileiras. Se você é cristão há algum tempo, certamente já cantou ou pelo menos ouviu essa canção sendo entoada algumas dezenas de vezes ao longo dos anos.

Certa vez, numa igreja onde congregava, ouvi de uma pessoa que essa canção devia ser abolida das igrejas, pois, segundo ela, a música não expressa a realidade, já que há muita falsidade e discórdia entre os irmãos. Portanto, cantá-la seria uma grande mentira entoada em comunidade.

Em uma primeira análise, a tendência que temos é de validar esse discurso, afinal, quem nunca teve um problema de relacionamento interpessoal ou uma discórdia dentro da igreja? Ou quem nunca deu vazão para uma fofoquinha aqui ou ali? Então, se é assim, de fato estamos sendo mentirosos ao dizer que somos uma família “sem qualquer falsidade” ou até mesmo “vivendo em amor”. Certo?

Errado! O que cantamos, ou mesmo o que oramos, não necessariamente precisa ser o que de fato somos, mas expressa um ideal no qual nós lutamos diuturnamente para alcançar. Se analisarmos friamente as letras que cantamos, nos encontraremos em uma situação complicada, pois no momento do louvor dizemos a plenos pulmões que entregamos “tudo o que temos”, mas ao ofertar deixamos separado na carteira o dinheiro da pizza para depois do culto. Estaríamos mentindo?

Ou quando oramos, e diante de Deus, nos arrependemos pelos pecados que cometemos, mas logo em seguida tornamos a pisar na bola e errar novamente. Fomos falsos? Não. Em ambas as situações nós apenas expressamos um ideal que queremos atingir, mas que não conseguimos por sermos humanos e cheios de falhas.

Ao vermos o exemplo da igreja primitiva descrita no livro de Atos, encontramos no capítulo 2 a afirmação de que “todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum”, e esse fato era preponderante para o crescimento da igreja. Entretanto, mesmo nessa igreja, tida por muitos como um modelo, havia problemas nas relações interpessoais, o que fica claro em situações como a inveja e a ganância de Ananias e Safira; ou quando os judeus de fala grega queixaram-se sobre o porquê suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimento.

O que quero deixar claro nesta reflexão é que a vida em comunidade nem sempre será um mar de rosas no que tange ao relacionamento entre os irmãos. Expressões como unidade, harmonia e comunhão sempre foram e serão um alvo a ser atingido. Mas nesse processo, encontraremos situações desafiadoras, que exigirão maturidade e compreensão mútua. Por isso, precisamos estar atentos ao que está acontecendo para não permitir que brechas de discórdias e desavenças sejam abertas em nosso meio.

Então, como podemos resolver essa questão? Simples… começando a partir de mim, pois não devemos esperar pelo outro. A verdade é que temos a tendência de esperar por uma atitude adequada de quem está ao nosso redor. Observamos a forma que nosso irmão age e logo imaginamos o quão melhor seria se ele agisse diferente, baseado em nossos padrões pessoais, e considerando que a melhor solução para um eventual conflito seria que essa pessoa mudasse.

Muitos de nós gostaríamos de viver em um mundo melhor; falamos sobre como tantos têm se perdido no caminho e o quanto o amor tem se tornado raro. Entretanto, nós não temos atuado de forma genuína para alterar essa situação. Queremos que a nossa igreja seja um local de perdão, reconhecimento, serviço ao outro e transformação, mas apenas esperamos que isso aconteça, quando na verdade, tudo deveria começar a partir de nós.

Como diz a letra de uma outra canção, essa ainda mais antiga, gravada pelo grupo Vencedores por Cristo no ano de 1982: “A começar em mim, quebra corações, pra que sejamos todos um como tu és em nós. Onde há frieza, que haja amor. Onde há ódio, o perdão. Para que o teu corpo cresça assim, rumo à perfeição.” A letra dessa canção deve ser, na verdade, uma oração constante em nossas vidas.

Que sejamos capazes de clamar ao Senhor para que Ele quebre a nossa soberba e altivez, nos livre de nossa arrogância, a ponto de podermos caminhar rumo a uma comunhão plena que promoverá o crescimento do corpo de Cristo.

Amar e servir só faz sentido se forem direcionados àqueles que estão ao meu redor. Que sejamos capazes de expressar o nosso amor e dispor o nosso serviço em favor das pessoas que nos cercam, vislumbrando o crescimento do corpo de Cristo.

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