Falar sobre saúde mental ainda é um desafio, mas também é uma necessidade urgente. Setembro chega com um convite: abrir espaços de diálogo, quebrar tabus e lembrar que conversar pode salvar vidas. Para esta edição, conversamos com Rosirene Tiradentes Siqueira, psicóloga clínica, especialista em Psicoterapia Analítico-Comportamental, integrante da Comissão Especial de Psicologia e Pessoas Atípicas do CRP-09, membro da Igreja Batista Renascer.
Nesta entrevista, ela nos ajuda a refletir sobre a importância do Setembro Amarelo e como cada um de nós pode ser parte ativa na prevenção do suicídio.
- O que é a campanha “Setembro Amarelo”?
A campanha “Setembro Amarelo” é uma iniciativa que reúne governos, sociedade civil e entidades privadas para promover a conscientização sobre a prevenção do suicídio. O objetivo é alertar sobre a importância de falar sobre o tema, informar sobre os sinais de alerta, quebrar tabus e aproximar a pessoa do apoio que precisa. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é um fenômeno complexo, com múltiplos fatores, considerado um grave problema de saúde pública, e sua prevenção deve ser prioridade.
- Por que falar de saúde mental ainda é um tabu em muitas famílias e comunidades?
O tabu nasce de fatores como estigma, preconceito, medo de julgamento e falta de compreensão sobre o assunto. Ainda existem muitos mitos, como: “suicídio é falta de Deus”, “quem comete suicídio sempre tem transtorno mental” ou “falar sobre suicídio encoraja outros a fazerem o mesmo”. Este último merece atenção: precisamos falar sobre suicídio, mas com responsabilidade, sem expor detalhes da morte ou da vida da pessoa. Combater mitos, quebrar tabus e ampliar o acesso à informação são passos essenciais para cuidar da saúde mental.
- Quais sinais de alerta podem indicar que alguém está passando por sofrimento emocional silencioso?
Entre os sinais de alerta estão: expressar desesperança, falar em não ter motivos para viver ou sentir-se um fardo; mencionar dores emocionais ou físicas insuportáveis; mudanças bruscas de humor ou comportamento; perda de interesse em atividades antes prazerosas; isolamento social; aumento do uso de álcool e drogas. Esses sinais merecem atenção e cuidado.
- Muitas vezes temos medo de “falar errado” com quem está sofrendo. Como iniciar uma conversa acolhedora?
Aproxime-se mostrando interesse genuíno, deixando claro que você se importa. Escute mais do que fale, permitindo que a pessoa se expresse sem críticas ou soluções prontas. Validar a dor do outro é essencial. O que não ajuda são frases como: “você precisa dar valor ao que tem”, “isso é frescura” ou “você não tem Deus?”. Elas não acolhem e podem agravar a situação. Se precisar falar, que sejam palavras de esperança, paz e apoio. E, caso não consiga conversar, busque alguém que consiga, mas não deixe a pessoa sem suporte.
- De que forma pequenas conversas no dia a dia podem fazer diferença na prevenção do suicídio?
Conversas cotidianas têm um poder imenso. Ser atencioso, solidário e respeitoso já faz diferença. Demonstre interesse pela história da pessoa, pergunte como ela está se sentindo e ofereça ajuda prática. Dizer “estou aqui para te ouvir” pode abrir portas importantes. É importante também observar aqueles que estão sempre sozinhos ou isolados, pois podem estar enfrentando dificuldades silenciosas. Qualquer um de nós pode contribuir com atenção e compaixão, e nossas atitudes precisam refletir a empatia que expressamos em palavras.
- Que mensagem você deixaria para quem sente que não tem com quem conversar?
É compreensível sentir-se assim, mas ninguém precisa enfrentar tudo sozinho. Buscar um profissional pode ser um passo importante, já que o psicólogo oferece uma escuta qualificada e segura. Nem toda dor desaparece, mas pode ser elaborada, deixando de dominar a vida. Em algum momento, todos nós precisamos de apoio, e pedir ajuda é sinal de coragem. Se sentir necessidade, ligue para 188 ou acesse www.cvv.org.br para conversar pelo chat ou e-mail. Há sempre alguém disposto a ouvir.