Um dia Jesus Cristo advertiu os discípulos que tentavam estorvar as crianças de se achegarem a Ele, dizendo que elas não podiam ser impedidas porque delas é o reino dos céus. Noutra feita, disse que quem não se tornasse como um daqueles pequeninos jamais entraria no Seu reino. Às vezes me deparo com biografias de grandes homens, responsáveis por grandiosos feitos, os quais hoje dão nome a ruas, monumentos e até cidades. Fico impressionado em saber da simplicidade e humildade desses autores. Na mesma medida, às vezes fico a observar figuras que se julgam ilustres e ostentam pequenos títulos, mas são poços de arrogância e auto bajulação. Penso que fomos criados e até chamados para sermos grandes, mas nos esquecemos que também fomos advertidos a sermos humildes, pequenos em nós mesmos, vazios de nossa prepotência para sermos cheios de significância. A própria natureza mostra isto.
Tudo cresce, se engrandece, amadurece, mas, o único ser racional do sistema capaz de compreender essa dinâmica da vida, é também o único a perder sua essência, tornando-se muitas vezes irreconhecível se comparado ao que era quando criança, quando a leveza, inocência, transparência e simplicidade eram seus principais atributos. Uma criança é sempre inspiradora e nós também devemos ser.
O sorriso franco, a ausência de malícia, a confiança na provisão do Pai, a esperança no futuro e a ingenuidade são traços perceptíveis. Mesmo quando se percebe outras características não tão apreciáveis, é possível se inspirar nelas. Quer um exemplo? Segundo alguns estudiosos, no processo de formação de seu caráter, a criança apresenta comportamentos egocêntricos, é dominadora, às vezes agressiva, tem muita necessidade de aprovação, tem um certo grau de irresponsabilidade e vive testando o mundo à sua volta. Quando começa a crescer e a se perceber, passa a não tolerar críticas, depender de elogios, se torna um tanto possessiva, mas continua testando o mundo à sua volta.
Nesta fase da vida é que surge algo inspirador: a disposição para aprender, a capacidade de ser ensinável, educável. A percepção de sua incompletude como pessoa, a convicção de que o mundo não gira em torno de si e consciência de que é apenas parte de um todo, se bem trabalhadas pelos adultos ao seu redor, podem oportunizar o surgimento de um adulto responsável, consciente do seu lugar no mundo, com traços firmes de respeito ao próximo e à natureza e às suas próprias limitações. Se assim for, será um adulto que não perderá seu coração de criança, como dizia um poeta sobre outro numa famosa canção popular: “cabeça de homem, mas o coração de menino”.
O apóstolo Paulo, em carta aos Romanos, um povo conhecido por seu sentimento de autossuficiência, ensina que se deve ser excelente para o bem, mas inocente para o mal. Como poderia o amor habitar um coração carregado de malícia, preconceito e maldade? Como poderemos nos tornar como uma criança, sermos “grandes pequeninos” e entrarmos no Reino dos Céus? Bem, isto tem a ver com conversão, com processo. Sobretudo, tem a ver com sermos ensináveis, moldáveis, transformados de glória em glória, até nos tornarmos como crianças, que encontram abrigo seguro no colo do Pai!