Com o final do ano se aproximando, o aumento das compras e os preparativos para as festas colocam em evidência o consumo consciente. Para nos ajudar a entender como equilibrar desejos e responsabilidades financeiras, conversamos com Felipe Menezes da Silva, especialista com mais de 17 anos de experiência no mercado financeiro. Sócio-fundador da Cultura Capital Assessoria de Investimentos e da Lend Consultoria, Felipe é certificado pela ANCORD e Ambima, atuando com excelência na estruturação de crédito e gestão de investimentos. Nesta entrevista, ele compartilha insights valiosos sobre como planejar as finanças e tomar decisões conscientes durante a temporada de compras de final de ano. Acompanhe:
- Quais são os principais fatores que levam as pessoas a gastar mais durante as festas de fim de ano?
As festas de fim de ano trazem, junto ao clima de celebração, uma predisposição natural ao consumo. O desejo de expressar afeto, reconhecer o valor dos laços que cultivamos e, de certo modo, encerrar o ano com momentos memoráveis leva muitos de nós a abrir um pouco mais a carteira. Há uma espécie de expectativa, alimentada pela tradição, de que o Natal e o Réveillon sejam marcados por gestos grandiosos, seja na escolha de um presente, na mesa de jantar ou até mesmo em viagens. Esse contexto social e cultural, somado a ofertas e promoções pensadas para o período, coloca o consumidor diante de uma série de incentivos que muitas vezes transformam o ‘eu preciso’ no ‘eu mereço’. Não podemos esquecer do papel das estratégias de marketing que, nesta época do ano, ganham um tom de urgência. Dessa forma, o consumo no fim do ano não é apenas sobre gastar, mas sobre reafirmar valores e buscar sentido para o que investimos, mesmo que este sentido seja, por vezes, difícil de mensurar.
- Quais são as armadilhas mais comuns que os consumidores enfrentam ao fazer compras de final de ano?
Por trás do impulso pelas comoras é que há armadilhas que, muitas vezes, não percebemos.
Uma das primeiras é o consumo impulsivo. Durante as festas, somos cercados por campanhas que exaltam ofertas e oportunidades únicas, induzindo a ideia de que é agora ou nunca. Esse estímulo desperta em nós a vontade de aproveitar o momento, mas, ao mesmo tempo, nos faz perder de vista o que realmente precisamos ou desejamos. Há também a questão do crédito facilitado. A possibilidade de parcelamento, que tanto nos atrai, pode acabar comprometendo nossa renda futura de uma forma quase invisível. Outro ponto sensível é o apelo emocional. Presentear nos faz sentir próximos, e há uma satisfação em atender às expectativas de quem amamos. Mas, quando compramos para corresponder a um ideal de generosidade ou para impressionar, muitas vezes nos distanciamos da essência do gesto, transformando-o em algo que gera mais dívida que satisfação.
Esquecemos que o propósito do presente é o sentimento que ele carrega, e não o preço que ele ostenta.
- Que tipo de planejamento financeiro você recomenda para evitar dívidas após as compras de Natal e Ano Novo?
Para que o início do novo ano não comece com a carga de dívidas, o planejamento financeiro precisa estar a serviço de algo maior: a serenidade de quem pode celebrar sem comprometer o futuro. O primeiro passo é definir, de forma realista, o quanto se pode gastar. Esse valor, que muitas vezes parece limitado, na verdade é libertador, pois nos ajuda a evitar o excesso e a manter o foco no que realmente importa. Uma recomendação simples, mas eficaz, é priorizar as compras à vista. Esse gesto, além de nos afastar dos juros altos que tantos produtos parcelados carregam, nos devolve o controle sobre o que entra e sai. Se for inevitável parcelar algo, que seja dentro de um cálculo consciente, onde cada parcela caiba com folga no orçamento dos próximos meses, sem roubar o espaço do essencial. Outro ponto de apoio importante é reservar, ao longo do ano, uma pequena quantia voltada para o final do ano. Esse hábito, por menor que pareça, permite que cheguemos às festas com uma reserva para usar com liberdade.
- Você sugere algum método ou ferramenta para ajudar as pessoas a controlarem seus gastos durante essa época?
Para ter organização sem perder o rumo financeiro, sugiro um método que une simplicidade e clareza, trazendo mais consciência para cada gasto. Atualmente utilizo o Moneymio, um aplicativo simples, fácil e moderno, lançado há menos de um ano. Ele facilita tudo, pois permite que você registre gastos pelo WhatsApp, e o app organiza tudo automaticamente. Uma prática que pode fazer toda a diferença é criar listas detalhadas antes de sair para as compras. Quando colocamos no papel cada presente ou item que pretendemos adquirir, e estipulamos um valor para cada um deles, estamos trazendo clareza para a intenção de cada gasto. Essas estratégias servem como um convite para que possamos viver o espírito das festas com mais equilíbrio e significado.