Meu nome é Deusileni Gaspar da Silva, sou casada com Cláudio Cavalcante da Silva, tenho 2 filhas, Elen e Cláudia Carolina (casadas), e um casal de netos, Gabriela e Miguel Davi. Sou filha de Benedito Gaspar Firmino e Brasiela Borges da Silva.
Como muitos brasileiros, meus pais tinham uma vida financeira difícil. Meu pai era Policial Militar e minha mãe lavadeira. Ainda pré-adolescente, percebi que a vida de meus pais não era nada fácil e, com 12 anos de idade, pedi mamãe para trabalhar fora. De início mamãe resistiu mas resolveu deixar, pois assim eu poderia ajudar a comprar material escolar, lanche, etc. Então, batendo de porta em porta, consegui meu primeiro trabalho como babá e depois como doméstica. Prossegui, sem desistir de estudar, até que aprendi a fazer unha e comecei a trabalhar como manicure na minha casa.
Eu convivia com as dificuldades e cresci pensando: eu vou estudar e trabalhar muito, não vou passar por isso. Vou ajudar meus pais. Com esse propósito em meu pensamento, fui crescendo e estudando. Tinha muito forte em meu coração vencer cada obstáculo que aparecia, apesar de tão pouca idade.
Fiz curso de merendeira e toda oportunidade que aparecia eu agarrava, não importava os obstáculos, pois tinha uma forte convicção de que eu iria conquistar todas as coisas que eu almejava. Hoje sei que quem me dava essa certeza era o Espírito Santo de Deus.
Trabalhei também no Frigorífico Brasil Central, em um local chamado desossa e na matança aonde separava partes do animal e lembro-me que o sangue descia quente nas minhas mãos. Saía de madrugada de casa, voltava à tarde e mal dava tempo de passar em casa e tomar banho para ir para o colégio. Não era fácil, mas Deus falava ao meu coração: “continue, pois é só por um tempo”. Tenho pequenas marcas de corte em alguns dedos, penso que é pra eu não esquecer os lugares que já trabalhei e o quanto Deus me prosperou.
Fiz curso de magistério, e antes de terminar, surgiu uma oportunidade de dar aula pela prefeitura em um local chamado Baú, na zona rural. No ato da contratação, fui informada que eu não teria transporte para me deslocar até a escola, e que portanto teria que me virar. A forma que encontrei de me virar era ir e voltar de carona. Ministrava aulas do pré até o quarto ano, cada fila da sala de aula era uma série, isto dentro de uma única sala de aula. Além disso, eu tinha que fazer a merenda e limpar a escola. Lecionei por alguns anos nessa escola, até que surgiu uma oportunidade de dar aula na cidade. Foi um tempo de alívio na minha vida profissional.
Eu tinha um grande desejo de seguir a carreira de Policial Militar como o papai, mas na época eu já havia me casado e em Goiás não aceitavam mulheres casadas na corporação. Na década de 80 e 90, havia uma grande dificuldade de se obter material para estudar para as provas e até mesmo de saber quando abririam as inscrições. Mas, mesmo com todos esses obstáculos, comecei a estudar para o concurso da Polícia Civil, fiz várias provas, inclusive testes físico e psicotécnico, até que fui aprovada em todas as etapas e fui chamada para a Academia de Polícia Civil.
Mas, para tomar posse, eu precisava fazer um curso na Academia de Polícia, na cidade de Goiânia. Na época, eu morava em Pires do Rio, era casada e tinha duas filhas ainda pequenas. Pedi a Deus que me desse uma direção para que eu não perdesse essa oportunidade, afinal eu iria ganhar muito bem comparado com meu salário de professora. Deus, mais uma vez me fortaleceu, mesmo com muita luta e choro, pois sentia falta das meninas e do meu esposo. Passamos muitas dificuldades juntos. Quando terminei o curso e fui aprovada, tomei posse na Delegacia de Polícia em Pires do Rio, onde trabalhei por alguns anos.
Eu também tinha o sonho de fazer um curso superior. Na minha cidade naquela época não tinha faculdade, tudo era muito difícil. Prestei vestibular para o curso de Direito e passei na cidade de Catalão. Iniciou-se então uma grande peleja: conseguir transporte de segunda a sexta pra ir para a cidade de Catalão estudar. Então, me juntei com algumas pessoas que também haviam passado no vestibular e “importunamos” o prefeito da época que, de tanto insistirmos, cedeu um ônibus para transportar os estudantes. Era uma luta, tinha dia que eu ia sem jantar pra faculdade e meu esposo levava as meninas pra me ver no ponto de ônibus. Quantas vezes deixei nossa filha Cláudia aos prantos. O coração doía, mas com muito esforço e a ajuda de Deus me formei.
Em um dia na Delegacia foi nos visitar um jovem senhor, chamado Mauri Moura, Policial Federal. Então, o meu amigo Vicente nos apresentou. Imediatamente acendeu uma luz: eu quero trabalhar na Polícia Federal. Curiosa, enchi o homem de perguntas sobre a instituição, quanto mais conversávamos mais desejo eu tinha de trabalhar na Polícia Federal. Então, pedi a ele que quando abrisse inscrição para o concurso, me informasse. Uns 6 meses após a nossa conversa, ele levou o Edital e fixou no quadro de avisos da Delegacia. Decidi fazer o concurso. O meu tempo de estudo resumia-se dentro do ônibus, enquanto eu viajava pra Catalão, nas madrugadas. Onde eu ia levava a minha inseparável apostila.
Chegou o grande dia da prova, e eu sabia que Deus estava comigo. Após vários dias, saiu o resultado da primeira prova: fui aprovada. Em sequência, retornei para Goiânia e fui submetida a vários testes físicos. A cada prova eu ia tendo êxito. Colhi os resultados! Em seguida, fiz a prova de datilografia e fui aprovada. Agora eu estava na expectativa de ser chamada para a Academia da Polícia Federal em Brasília. Apreensão por causa da família, mas feliz por ter logrado êxito em meio a milhares de concorrentes. Deus sempre tem planos mais altos do que os nossos, mas temos que enfrentar as dificuldades que aparecem e jamais cruzar os braços.
Fui chamada para fazer o curso na Academia da Polícia Federal, existia em mim um misto de alegria e tristeza por deixar minha família em Pires do Rio, mas era preciso olhar pra frente e eu não podia fraquejar naquele momento depois de vencer tantas etapas. Na Academia teria que conquistar tudo novamente, o curso envolvia várias provas, conhecimentos, testes físicos, aulas de tiro. Era preciso foco e determinação. Viajei para Brasília, chorei muito dentro do ônibus, mas sabia que estava indo para uma grande conquista profissional. Depois de quase seis meses estava eu com a minha família na formatura – que grande dia! Fui aprovada com ótimas notas e logo tomei posse como Escrivã da Polícia Federal.
Como Policial Federal trabalhei em várias áreas: Setor de Corregedoria, Inquéritos Especiais, realizei investigações em vários Estados do Brasil, participei de inúmeras operações, umas complexas, outras nem tanto. Fui designada para fazer segurança de vários chefes de Estado, dentre eles Fidel Castro, José Sarney e outros. Aprendi muito e tive incontáveis experiências.
Na Polícia Federal comecei a participar de competições de vôlei e corridas em alguns Estados que me renderam várias medalhas. Venci competições na corrida de 100 e 200 metros rasos em Nova York. Em tudo o Senhor me ajudou, mas foi preciso me empenhar e muitas vezes sacrificar a mim e a minha família. Tudo que conquistei, cada diploma, cada degrau que subi na vida, meus pais, meu esposo e minhas filhas fizeram parte. Também tive alguns poucos amigos(as) que me estenderam a mão, louvo a Deus por isso, realmente há amigos mais chegados do que um irmão.
Deus sempre falou e ainda fala ao meu coração na passagem Bíblica de Josué 1:1-9 “… não tô mandei eu? Esforça-te e tem bom ânimo; não pasmes, nem te espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo, por onde quer que andares.”
Portanto, não importa seu sobrenome, sua condição social, sexo ou as dificuldades que aparecem, enfrente-as no poder do nome de Jesus Cristo e você vencerá.