Eu perdoei o meu pai e tive a minha vida transformada

imagem: envato

Nasci em uma família em que o meu pai teve sete filhos com três mulheres (sendo dois filhos com a minha mãe). Ele era oficialmente casado com uma delas e paralelo a esse casamento, ele tinha mais dois relacionamentos.  Fui um dos filhos fora do casamento de meu pai. Eu e meu irmão vivíamos de “restos” do meu pai, em questões de presença, área financeira e educação.

A família da minha mãe, muitas vezes, tinha que nos ajudar financeiramente. Minha mãe trabalhava como manicure e fazia outros bicos. Na infância, lembro-me quando meu irmão e eu, ansiávamos por um pouco da presença do pai, esperando-o no portão de casa no dia de nos visitar. Éramos filhos escondidos da família do meu pai. Lembro-me quando ele nos levou a noite em sua empresa, (pois se nos levasse durante o dia, alguém da família dele poderia nos ver). Aos nove anos de idade eu desabafava escrevendo sobre o cenário familiar que vivia.

Passamos por sérias dificuldades escolares, tudo em razão da condição familiar que vivíamos. Minha mãe guerreava sozinha pela nossa educação e formação, pois meu pai era passivo nestas questões. Há dois fatos que marcaram a minha juventude: o primeiro foi em um restaurante com meus primos. Lá encontrei meu pai com uma mulher e os filhos dela. Sobre ele se relacionar com algumas mulheres, isso eu já era consciente, mas o que me chocou naquele momento foi um sentimento, como se aquilo que ele nos dava, não era o suficiente, pois ele preferia dar para os filhos desta outra mulher. Saí do restaurante transtornada. O segundo fato triste foi quando a irmã do meu pai faleceu e eu resolvi ir ao velório. Meu pai me tratou como se eu fosse uma conhecida qualquer. Saí do velório aos prantos.

Passei alguns anos da minha juventude buscando preencher um vazio que havia dentro de mim. Virava noites na rua com amigos, danças e bebidas, mas nada daquilo era suficiente.  Era uma falsa alegria temporária. Além disso, eu só me relacionava com rapazes que tinham intenções ruins.

Entrei para a faculdade, mas estava muito difícil me manter financeiramente, pois a ajuda que meu pai nos dava era pouca. Minha mãe entrou na justiça para que o meu pai nos registrasse e ajudasse a pagar a faculdade. Ele tinha condições financeiras de nos ajudar, o problema era que tinha gastos com mulheres e com o time de futebol em que foi diretor e conselheiro. Enquanto o processo estava na justiça, tivemos que ficar distantes do meu pai. Neste período só o vi duas vezes. Após a briga judicial meu pai nos registrou mediante uma “bronca” de uma promotora de justiça. Enquanto o processo estava enrolado na justiça eu continuava a faculdade sem nenhum tipo de ajuda do meu pai. Meu rendimento nos estudos estava baixo, tirava péssimas notas e estava com depressão. Sem suportar toda aquela situação financeira, psicológica, emocional e familiar, eu desejava encontrar a Deus, pois o que eu percebia naquele momento era que ainda não o tinha encontrado. Vivi a minha infância, adolescência e juventude no espiritismo e na Seicho-no-ie e nada havia me preenchido.

Um dia estava em casa e ouvi um hino em um carro de som que passava na rua. Naquele momento senti Deus me chamando. Aos 22 anos de idade, no dia do meu aniversário, seguindo o conselho da minha falecida avó Antônia, comecei a frequentar a Igreja do Evangelho Quadrangular, onde pude conhecer e aprender sobre o verdadeiro e único Deus. Também aprendi com a Palavra de Deus que o único que nos leva a Ele é Jesus Cristo. Entreguei o meu coração e a minha vida ao Senhor. O vazio que eu tentava preencher nas noites e na rua foi substituído pelo grande amor de Deus.

O Senhor falou comigo dizendo que a partir daquele momento o fardo pesado que carregava e os problemas que vivia, não eram mais meus, mas eram d’Ele. Batizei em meio a uma imensidão de alegria e presença do Espírito Santo. Me arrependi de vários pecados que no decorrer da vida tinha cometido, fui curada de enfermidade física e comecei o processo de perdão ao meu pai. A mágoa que tinha dele era um cárcere na minha alma e eu não percebia. Deus falou que eu seria como uma luz na vida do meu pai. Minhas notas aumentaram, me tornei uma das melhores vendedoras na empresa que trabalhava e a depressão sumiu.

No decorrer dessa nova vida cristã, orei perdoando meu pai e minha mãe por terem me gerado naquela situação. Entendi que a mágoa poderia me causar sérios problemas quando me casasse. O processo na justiça foi resolvido, voltei a ver meu pai e ele falou que eu estava diferente. Era Jesus em minha vida.

Certo dia meu pai começou a sentir uma dor no coração. Ele teve dois infartos em um mesmo dia. Ficou internado por 42 dias e na UTI durante uma semana respirando por aparelhos. Foi nesse momento de dor e enfermidade que Deus trabalhou em nossas vidas. Ainda me emociono ao lembrar da reconciliação do meu irmão com o meu pai na UTI. Foi no hospital que tive a oportunidade de conhecer os meus outros irmãos, inclusive uma irmã, que ninguém sabia de sua existência. Ela nos contou que era evangélica e tinha dez anos que orava pelo nosso pai.

Naquela situação, a esposa oficial do meu pai descobriu que ele tinha três filhos fora do casamento. Também descobrimos, que em alguns momentos de sua vida, ele vivia com três mulheres ao mesmo tempo. Mesmo internado no hospital, o meu pai passou a se preocupar conosco financeiramente, não por obrigação, mas por amor.  A partir daquela enfermidade, Deus começou a mudar a vida dele. O Senhor lhe concedeu mais três anos de vida para que tivéssemos um pai que nunca havíamos tido. Foram três anos de restituição. Deus tocou no coração da esposa do meu pai e as portas da casa deles foram abertas para nós. Conhecemos toda a família!

Certo dia, levei o meu pai na igreja. Na ocasião o pastor chamou todos os pais para abençoar os seus filhos. Meu pai colocou as mãos sobre a minha cabeça, orou e me abençoou. Naquele momento me senti livre de todas as palavras contrárias que ele havia falado contra mim.

Um outro dia, também na igreja, tive o privilégio de ver meu pai se arrependendo dos seus pecados, pedindo perdão a Deus pelas mulheres e filhos que fez sofrer e entregando a sua vida para o Senhor Jesus. Naquele dia, além da salvação, ele recebeu a cura em sua saúde física. O último dia dos pais, antes do meu pai falecer, passamos os sete filhos com ele, foi a primeira e última vez. Ele faleceu nos braços de sua esposa, a mulher que Deus lhe deu em sua mocidade.

Também tive o privilégio de acompanhar a esposa do meu pai na oração de confissão a Jesus Cristo e de ver minha mãe sendo transformada pelo Senhor. Uma das maiores honras da minha vida foi ter entrado na igreja com meu tio, irmão do meu pai, em meu casamento. Nesta ocasião meu pai já havia falecido.

Eu perdoei o meu pai, fui curada e tive a minha vida transformada. O meu desejo é que pessoas sejam edificadas através deste testemunho.

Toda honra e glória sejam dadas ao Senhor!

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