Na atualidade, a utilização das Tecnologia Digitais da Informação e da Comunicação é marcante em diferentes atividades sociais. Essa ampla utilização, de certa forma, contribui para a acessibilidade das pessoas às informações de maneira simples e eficaz, assim como a utlização de um eletrodoméstico. Esse uso excessivo merece destaque quando refere-se às mudanças que vêm ocorrendo na maneira de agir, de pensar e de produzir presentes no mundo atual. A internet, por exemplo, tem quebrado muros, colaborando para trocas, aquisição de conhecimentos e novas experiências. Frente a essas transformações, a família não poderá ficar alheia à influência que essas tecnologias têm tido, principalmente na formação da personalidade infantil.
Até pouco tempo atrás a preocupação dos pais estava restrita a encontrar a dose ideal de televisão e videogame na vida das crianças, hoje essa preocupação se estende aos tablets, smartphones e computadores, dificultando ainda mais as negociações com os pequenos. É cada vez mais comum ver crianças ainda bem pequenas dominando tecnologias altamente modernas e com acesso a conteúdos muitas vezes impróprios para a faixa etária na qual se encontram. E aí, o que fazer? Restringir o uso? Proibir? Qual o papel da família diante de tantas informações expostas de forma tão fácil e rápida?
Na verdade está cada vez mais impossível ver nossas crianças livres da influência dessas tecnologias via equipamentos eletrônicos. Nesse sentido, os limites recomendados para a utilização dos mesmos precisam ser revistos e analisados criteriosamente por parte dos pais e (ou) responsáveis. Em outubro deste ano, a Academia Americana de Pediatria lançou um documento que orienta como e quando deve ser o primeiro contato dos pequenos com o universo digital.
Segundo o documento, este contato poderá acontecer a partir dos 18 meses, com a tolerância de no máximo 1 hora ao dia, desde que aconteça com a supervisão e participação dos pais – o que se torna um grande problema. Devido às características da vida moderna, os pais não têm tido tempo para os filhos, principalmente no que se refere ao monitoramento e a quantidade de tempo que os mesmos passam em frente a uma tela, até porque estender esse tempo para várias horas diárias passa a ser valioso para o adulto, que precisa cumprir com suas tarefas cotidianas sem ser interrompido por repetidas expressões como: “mãe, mãe, mãe, mãe…” ou “pai, pai, pai, pai, pai…”.
Mesmo liberando a utilização da telas antes dos 2 anos de idade, alguns pediatras, americanos e brasileiros, enxergam poucos benefícios no hábito. “Os riscos são maiores do que as vantagens educacionais”, afirma a pediatra Jenny Radeski, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Nessa faixa etária, entre o primeiro e o segundo ano de vida, o cérebro necessita de boas doses do mundo à sua volta para que se estruture como o esperado. “É um período em que, por causa dos estímulos recebidos do ambiente externo, aumentam as sinapses, ou seja, as conexões entre os neurônios”, explica Telma Pantano, fonoaudióloga e psicopedagoga da Universidade de São Paulo (USP). Brinquedos, músicas, livros e palavras são essenciais para a construção de pontes cerebrais, que conectam novas áreas na mente em amadurecimento, como a formação da personalidade e o aperfeiçoamento da linguagem.
Segundo o neuropediatra Erasmo Casella, do Hospital Israelita Albert Einstein, da cidade de São Paulo, o tempo que a criança passa sozinha de frente a uma tela não tem benefício nenhum em seu desenvolvimento cognitivo, pelo contrário: “Ele dificulta o desenvolvimento da empatia e do autocontrole e a capacidade de lidar com relacionamentos”. Daí novamente a importância da presença de um adulto enquanto o pequeno faz uso da tecnologia digital. Para tornar essa realidade menos maléfica, não dá para esperar que os menores resolvam se desapegar dos aparelhos. Os adultos precisam dar o exemplo. Inclusive pesquisas sugerem que há menos conexão emocional e até mais conflitos se os pais ficam totalmente ligados aos seus smartphones.
Portanto, o uso saudável não vale somente para as crianças. “Famílias que ficam só assistindo à TV ou cada um com seu celular enfraquecem seus vínculos”, reforça a psicóloga Elizabeth Monteiro, autora do livro Criando Filhos em Tempos Difíceis (Summus). “Isso fará falta na adolescência, quando os pais perdem autoridade e os filhos se afastam”, completa.
Uma forma de combater o excesso é se envolver com o hábito da garotada e definir os limites de tempo, pois com o uso moderado as vantagens do uso da tecnologia vão sendo solidificadas, pois existem aplicativos e jogos eletrônicos que nos dão a possibilidade de exercitar o raciocínio lógico, o pensamento estratégico, habilidades matemáticas e linguagens.
Outra saída interessante seria definir momentos offline entre todos da família. Desligar os aparelhos eletrônicos e partir para um jogo de tabuleiro ou recordar as brincadeiras de antigamente seria uma ótima opção, afinal de contas, o que nossas crianças estão mesmo precisando é de momentos agradáveis em família, seja por meio de uma roda de conversa, uma videoconferência, tirando fotos, brincando ou participando de uma batalha virtual. O mais importante é apoiar uns aos outros, estar juntos sempre, compartilhando ideias, experiências e transformações no mundo real…e no digital também, porque não?