Momentos de despedida e perda afetam profundamente o psicológico de quem está enlutado, gerando uma carga emocional intensa e difícil de suportar. Nesse contexto, é crucial enfatizar a importância de cuidar da mente e guardar o coração para não se deixar consumir pela tristeza e pela dor. A história que se desenrola reflete como esses momentos dolorosos podem ser atravessados com esperança e resiliência, demonstrando que, mesmo em meio à dor mais profunda, é possível encontrar forças para seguir em frente e manter a saúde mental e espiritual intactas.
O olhar furioso da mulher era tão intenso que se tornou inesquecível. Ela não suportava ver o corpo de seu pai estendido naquela caixa desde o momento em que ele chegou. Durante todo o velório, permaneceu afastada, sem reconhecer que estava na fase de negação do luto. Não conseguia aceitar a perda de uma das pessoas mais importantes de sua vida e reagiu com indiferença às expressões de dor ao seu redor.
Há pouco tempo, havia conseguido perdoar o pai por feridas antigas que a aprisionavam. Infelizmente, esperou pela má notícia para admitir a dor que sufocava seu peito, causava-lhe ansiedade e tirava-lhe o sono. Deus, com quem mantinha um relacionamento formal e distante, já havia alertado para a necessidade de tomar uma posição de perdão. Ele revelou as causas de seus traumas e inseguranças que, mesmo depois de anos frequentando cultos e cantando no coral, ainda pesavam em seu coração.
No canto, imóvel, tentava absorver o que estava acontecendo enquanto soluços e choros enchiam o ambiente. Indagava-se se permitiria a si mesma sofrer por essa perda ou se assumiria o controle para evitar julgamentos alheios.
A dor se tornou insuportável e, finalmente, ela soltou um choro alto e amargo, isolada em sua própria agonia. Pela primeira vez naquele velório, suas lágrimas fluíram como as de uma criança, rendida aos braços invisíveis de um consolo que não se podia ver, mas sentir. O sofrimento daquela mulher fez refletir sobre o papel do coveiro naquela situação, compreendendo que encerrar a última lembrança dos que se foram é mais do que uma tarefa; é uma missão.
Embora o coveiro, até aquele momento, tivesse sido fiel aos protocolos de sua profissão — evitando olhar nos olhos das pessoas para não ser envolvido pela dor —, naquele dia sentiu um profundo sentimento de compaixão pela filha deixada para trás. Fechar aquele caixão, que simbolizava o fim de um ciclo, parecia mais difícil do que nunca. Permaneceu diante dela e, gentilmente, perguntou se poderia fechá-lo. Ela o olhou com olhos marejados e semblante cansado, e, com um aceno de paz, deixou ali um fardo que nunca deveria ter carregado sozinha.
Mais tarde, soube que a mulher conseguiu lidar com o luto, seguiu em frente e iniciou um novo relacionamento com Deus, aquele que seu pai a apresentou ainda na infância. Deixou para trás uma vida medíocre e abraçou a fé em seu Aba, que assumiu o papel de Pai Celestial. Hoje, ela compartilha sua história como um testemunho do poder transformador do perdão e da renovação que a fé proporciona.
A verdade é que equilibrar a abordagem do luto com uma mensagem de esperança é essencial para que, mesmo em meio à perda, seja possível encontrar forças para seguir em frente. Por isso, é fundamental aprender a lidar com as emoções, permitindo que o amor e a fé se sobreponham à tristeza.