A história se repete: a grande maioria dos brasileiros vai usar o décimo terceiro salário pra quitar dívidas. Afinal, que dívidas? Onde foi parar aquela determinação no réveillon de frear o impulso de comprar e cadê aquele firme propósito de esperar o melhor momento para as tomadas de decisão? As respostas a estas perguntas, como talvez dissesse o poeta, estão no ar. A sociedade do consumo dança ao som da orquestração do mercado abarrotado de coisas que julgamos precisar ou que a mídia nos convence que precisamos. Foi assim desde as primeiras décadas do século passado e intensificada de forma exponencial nos dias de hoje. Soma-se ao propalado aquecimento da economia, um marketing agressivo e a busca de um lucro desenfreado por parte das empresas e assim está criado o cenário perfeitamente atraente para todos aqueles que, por vaidade, impulso, ansiedade, ilusão, senso de pertencimento, status ou seja lá por que motivação for, se veem enredados por uma teia consumista que via de regra, acaba por sugar as economias, drenar os suados recursos que, ao invés de promover o bem estar, acabam por trazer a frustração de não ter reais necessidades satisfeitas.
O que muita gente não se dá conta é que o consumismo aliado ao imediatismo, além de provocar cada vez mais ansiedade e sensação de falsa necessidade, pode estar promovendo um ciclo vicioso de insustentabilidade ambiental e social, uma vez que muitas grandes companhias não tem nenhum compromisso com a preservação do meio ambiente ou quaisquer preocupações com as consequências do uso de seus produtos para a saúde humana. Já pensou nas toneladas de lixo, nos recursos naturais exauridos, no impacto na matriz energética? Nas novas fobias e patologias? Pois é, assim caminha a humanidade…
Hoje a tecnologia tem grande participação em nosso modo de vida, seja no trabalho, lazer, saúde e até rotinas domésticas, pra citar alguns exemplos. Tudo está à mão. Na maioria das vezes, nem é preciso sair de casa pra consumir. Tudo é pra ontem, tudo se descarta e assim a nossa relação com as coisas vão se resinificando sempre. Sejamos sensatos: quem é ensinado a esperar? Quem é orientado por prioridades ou necessidades reais? Por outro lado, quem disse que tudo é tão urgente e necessário? A mídia publicitária nunca empregou tanta gente!
O conselho de Jesus nunca me pareceu tão atual: buscar em primeiro lugar o Reino de Deus! Na prática estamos correndo atrás das demais coisas, muitas vezes até com a desculpa de que é para abençoar o próprio Reino de Deus. E quanto à famosa canção de Davi que exaltava ao Senhor como seu pastor certo de que nada lhe faltaria? Talvez estejamos até, inconscientemente, cantando que se nada nos faltar, o Senhor será nosso Pastor. Temos que reaprender muita coisa, principalmente sobre nós mesmos, sobre nossa fé e sobre nosso modo de usufruir da vida aqui. Talvez assim não percamos a perspectiva da eternidade, nos lembremos que estamos aqui de passagem e que o nosso tesouro deve estar no céu, onde, neste caso, estará também o nosso coração.