Para a minha querida amiga, que insiste em andar apertada:
Minha doce amiga,
Escrevo para você com o coração cheio de ternura e um toque da experiência que a vida (e alguns calos) me deu. Tenho pensado muito em você e naquela sua mania sutil de tentar se moldar a lugares e expectativas que, convenhamos, nunca foram feitos para o seu número. E sabe o que me veio à cabeça? A metáfora do sapato apertado.
Você já passou por isso, não é? Aquela paixão por um par lindo na vitrine, talvez um salto maravilhoso ou uma bota superestilosa, mas que, na hora de calçar, a gente sabe: não cabe. A forma é estreita, a ponta aperta os dedos, o calcanhar insiste em roçar. Mas a gente insiste, não é? Pensa: “O investimento foi alto”, “Vai lacear”, “É só um pouquinho”, “É tão bonito que vale a dor”.
E o resultado? Pés em carne viva, bolhas, a dor que irradia pela perna e muda até o nosso caminhar.
Tenho visto você calçar esses “sapatos” do número errado em tantas áreas da sua vida. Seja naquele relacionamento que você tenta encaixar no seu mundo, mesmo sabendo que a forma dele é rígida e não dá espaço para os seus dedos se moverem. Seja naquele emprego ou naquela tarefa que você carrega por culpa, ou por achar que “deveria” se encaixar ali, mesmo que isso te deixe exausta e te impeça de dar passos firmes e leves na sua própria direção. Ou ainda, naquela roda de amigos onde você precisa diminuir o volume da sua risada para caber no silêncio deles.
Muitas vezes amiga, a gente faz isso por medo, não é? Medo de desapontar, medo da solidão, medo de ser “a diferente”, a que não conseguiu se ajeitar.
Mas, minha amiga, o que a maturidade tem me ensinado é que a dor de tentar caber é sempre maior e mais duradoura, do que a leveza de simplesmente ficar descalça e ir embora.
Não precisamos mais andar machucadas só para agradar ou pertencer. O seu pé, a sua alma, o seu jeito de ser são únicos. E não há nada mais elegante do que o caminhar de uma mulher que está confortável na própria pele (e nos próprios sapatos).
Por isso, amiga querida, permita-se tirar esses calçados apertados. Com carinho e sem julgamento, tire-os! Vai doer no começo, sim, pois tirar a bandagem e ver as feridas dói, mas a verdadeira libertação está em sentir o alívio imediato e reconhecer que você merece um caminho sem bolhas.
Deixa eu te dizer com todo o afeto do mundo: Deus não nos criou para vivermos feridas só para parecermos fortes. O mundo está cheio de “sapatos” no seu número, aqueles que te dão estabilidade, que te permitem correr, dançar e caminhar sem dor.
Deixe de gastar a sua energia forçando o que não encaixa. Gaste-a buscando o que te acolhe, o que te dá espaço. Lembre-se: você não está sendo “difícil” ou “exigente” por buscar conforto; você está sendo saudável e autêntica.
Portanto, vista a sua liberdade, calce sua leveza e ande por aí com a dignidade de quem sabe o próprio valor.
Com todo o meu amor e torcida pelo seu caminhar macio,
Sua amiga de alma.