Vivemos em um tempo em que a lógica foi elevada quase à condição de um deus moderno. Tudo precisa de provas, garantias e resultados visíveis antes que alguém ouse dar um passo. O mundo ensina: “não invista se não houver certeza”, “não ame se não houver retorno”, “não comece se não tiver todas as condições favoráveis”. À primeira vista, parece prudência, mas, muitas vezes isso é prisão.
Essa mentalidade, infelizmente, também se infiltrou no meio da igreja. Muitos esperam pelas melhores condições ou por aquela “luz no fim do túnel” para dar um simples passo de fé. No entanto, a vida com Deus não cabe nesses cálculos. Abraão, por exemplo, não tinha gráficos de probabilidade quando deixou a sua terra rumo ao desconhecido. Moisés não possuía um plano estratégico para abrir o Mar Vermelho. Pedro não consultou um manual de instruções para caminhar sobre as águas. A lógica diria: “espere mais um pouco, faça sentido primeiro”. Mas a fé ousa dizer: “se Deus falou, eu vou”.
É exatamente essa pequena palavra de grande significado, FÉ, a chave necessária para acessarmos os milagres. Nesse contexto é interessante observar que todas as vezes que testemunhos de cura são relatados nos cultos, a cena se repete: médicos não conseguem explicar o que aconteceu. Aos olhos humanos, o improvável se materializa, revelando como a visão humana é limitada diante do poder de Deus.
A verdade é que a fé é sempre ousada. Basta lembrar da mulher que sofria de fluxo de sangue (Marcos 5:28-30). Ela não esperava que Jesus a olhasse nos olhos ou impusesse as mãos sobre ela. A sua convicção era simples e firme: “Se eu apenas tocar em suas vestes, serei curada.” Que fé extraordinária!
Quantas curas, recomeços e promessas são adiados porque se espera primeiro entender o “como”? Quantas bênçãos são desperdiçadas porque se exige segurança antes de obedecer? É como se Deus dissesse: “Saia do controle, não ouse medir o meu poder.” O excesso de racionalização não apenas paralisa, mas também adoece. Ansiedade e medo se tornam grilhões quando o coração insiste em calcular cenários em vez de abrir espaço para o impossível.
O Evangelho, por sua própria natureza, é ilógico aos olhos humanos. Paulo afirmou: “A loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria dos homens” (1 Coríntios 1:25). É nesse lugar de rendição que aprendemos a confiar sem entender. Assim, fé não é ausência de raciocínio, mas a decisão consciente de acreditar que Deus enxerga além do que podemos calcular. É dar um passo mesmo quando os pés ainda tremem, porque há certeza em Quem se tem crido.
E foi assim com Pedro. Depois de uma noite inteira de redes vazias, Jesus mandou lançar as redes mais uma vez. Pela lógica, era perda de tempo. Pela fé, foi o cenário do milagre. Onde a lógica falha, a fé pesca. Talvez hoje o mar da vida pareça improdutivo, mas a voz do Mestre ainda ecoa: “lança a rede mais uma vez.”
Seja em sonhos, relacionamentos, ministério ou cura, a resposta continua sendo a mesma: obedecer. Acredite: no Reino de Deus, o milagre sempre nasce do encontro entre a voz que manda e a fé que ousa obedecer.