O ser humano é um ser pensante. Isto faz dele alguém capaz de apreciar, entender, diferenciar e julgar. A natureza humana, porém, nem sempre é genial, mas quase sempre geniosa. Sendo assim, muitas vezes faz mal uso dessa maravilhosa capacidade de discernir e escolher. Ao tomar decisões, o ser humano às vezes reforça o individualismo, o egoísmo, a indiferença aos outros, em vez de contemplar a coletividade, o meio ambiente, os mais fracos e pobres, os que não se encaixam em seus critérios preconceituosos de beleza, de raça ou religião, só pra citar alguns estereótipos.
Afinal, o que é bom senso? Quem decide o que é adequado, justo, democrático ou belo? São tantas questões envolvidas que fica difícil estabelecer um padrão. Envolve visões de mundo, leituras de contextos, opiniões embasadas em um sem número de variáveis, então é melhor não tentar definir de forma simplista ou reducionista.
Alguns filtros, porém, podem ser utilizados sem restrições no ato de julgar: razoabilidade, sensatez, consequências. O grande filósofo Aristóteles dizia que o bom senso é o fio condutor da ética, a capacidade de encontrar o “meio-termo” em questões complexas, com o objetivo de adotar a melhor postura. Para além de definir o certo e o errado, o bom senso está intimamente ligado a moral, principalmente para um cristão.
Tudo bem que, dependendo da cultura e costumes em que o ser humano está mergulhado, algumas coisas se relativizam por si só. O conceito de normalidade muitas vezes se torna intuitivo ou subjetivo. A meu ver, aqui entra a ação do Espírito Santo com a devida liberdade de agir, atuando na consciência humana. Assim, na interação com outras pessoas, com o meio e com a cultura, este ser, uma vez “iluminado” pela direção de Deus, passa a ser uma bênção na sociedade, tornando-se um bom conselheiro, uma referência de sabedoria, uma liderança respeitada por sua capacidade de decidir pela “coisa certa”. O famoso rei Salomão foi um exemplo de tudo isto, enquanto permitiu que Deus o inspirasse.
Agora, como imaginar consenso em tempos de polarização e discursos de ódio por todos os lados e interfaces que uma questão possa ter? Como imaginar amor em meio a tudo isso? Se não amor, pelo menos tolerância e respeito? Seria querer demais? De repente, as opiniões e atitudes se misturam às próprias personalidades e daí, pela ótica de quem julga, aparecem os rótulos. Será que estamos nos esquecendo que é possível mudar de opinião, aprender, reavaliar, reconsiderar?
Numa sociedade onde o perdão e a humildade parecem ter dado lugar à arrogância e totalitarismo, qual seria então o lugar do consenso? A Igreja precisa ser o pêndulo de equilíbrio na sociedade, o sal da terra. A voz profética não pode ser implacável, sem misericórdia, sem, contudo, comprometer a verdade do Evangelho. Temos que fazer o possível para focarmos naquilo que nos une, não no que nos divide. Esta máxima é urgente para famílias, comunidades, congregações, mas também para autoridades públicas, governos.
Nunca foi tão necessário orar e clamar por sabedoria! Jesus não começou seu ministério falando sobre humildade aos discípulos numa montanha? Eu trocaria a frase: “Tudo começa pelo respeito” por “Tudo começa com a humildade”. Nunca o brado do Senhor que conclamava ao povo que se humilhasse, orasse e o buscasse foi tão imperativo como nos dias de hoje.
Bom senso é ouvir o que Deus tem a dizer, submeter opiniões ao crivo da Palavra. Consenso é submeter tudo a um filtro de amor e renunciar às individualidades em nome do bem comum, porque o “senso comum” está contaminado pelo vírus do pecado.
Literalmente, só Jesus na causa!