“Todavia não me importo nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, desde que eu termine a corrida e complete o ministério que o Senhor Jesus me confiou: testemunhar do Evangelho da graça de Deus” (Atos 20:24).
Este texto bíblico de Atos foi um divisor de águas para eu compreendesse meu lugar de serviço no Reino de Deus, e tudo começou na minha adolescência. Desde os 14 anos, eu ia sozinha à Igreja e sempre servi em diversos ministérios. Na verdade, praticamente morava na Igreja nos finais de semana. No entanto, abominava a ideia de me tornar missionária em tempo integral. Embora essa vocação fosse vista como positiva e incentivada pela minha Igreja, para mim ela representava anonimato, falta de estabilidade financeira, riscos desconhecidos e ausência de raízes, considerando o meu projeto de formar uma família.
Afinal, qual adolescente no auge do Ensino Médio, bombardeada pela pressão dos vestibulares e pela ideia de que uma boa carreira profissional seria redentora, consideraria essa ideia “maluca” de se tornar missionária, não é mesmo? No entanto, Deus tem seus propósitos para alcançar o nosso coração. Ele conhece quem realmente somos e o que te fato desejamos.
Muitas vezes somos como folhas levadas pelo vento, mudando por influência, por opiniões ou pela falsa ideia de liberdade conquistada por nossos próprios méritos. Mas que bom que o Senhor conhecia as profundezas do meu coração e, estrategicamente, me alcançou e me convenceu. Esse processo começou a brotar após minha conversão, aos 17 anos, durante viagens missionárias e visitas de Capelania, e desabrochou quando, aos 21 anos, decidi abandonar meus estudos em Música para estudar Teologia no Seminário Palavra da Vida.
Nesse processo, recebi muitas opiniões e enfrentei tentações que tentavam me distrair e mudar de rumo. No entanto, isso era apenas o começo. Afinal, que árvore não enfrenta pragas, ventos fortes, chuvas, sol escaldante e seca? Lembro-me do Salmo 1, que fala sobre sermos como árvores plantadas junto a ribeiro de águas, para que não adoeçamos e deixemos de frutificar. E por que a árvore enfrenta tudo isso? Para oferecer algo. E essa é a nossa missão: oferecer algo.
A nossa missão é oferecer esperança, apresentar o Caminho, testemunhar a Vida e conhecer a Verdade: Jesus Cristo (João 14:6). Em Mateus 28:18-20, temos uma ordem clara e prática d’Aquele que tem toda autoridade sobre céu e a terra: fazer discípulos de todas as nações e ensiná-los a obedecer ao que Ele nos deixou.
Quando saí da minha cidade pra estudar no Seminário, tinha em mente um “campo missionário”, mas durante os anos de estudos, várias oportunidades em foram apresentadas. Uma delas foi em uma igreja em Atibaia, onde servi por quatro anos. Foi uma experiência diferente do que eu havia imaginado pra mim, mas aprendi que o Senhor quer nos usar nas oportunidades que Ele coloca diante de nós diariamente.
Hoje, sou missionária com minha família no mesmo Seminário que estudei, discipulando e ensinando jovens dentro no curso. Meu esposo coordena o curso CLD/CLJ há um ano e as oportunidades que o Senhor apresenta diariamente vão além do “campo missionário do Seminário”. Abro minha casa para estudo com mulheres da Igreja, recebo ex-alunos, familiares, casais e jovens, para aconselhamento, busco desenvolver amizades intencionais com mães da escola dos meus filhos e continuo servindo na Igreja Batista Revive.
Assim, o versículo que iniciei esse compartilhamento continua sendo um norte e ao mesmo tempo um divisor de águas para mim e para minha família. Abdicar de tempo, perseverar em ouvir e acolher pessoas, estar longe da família e dedicar-nos ao discipulado e ensino de jovens, fora os desafios pessoais, financeiros e familiares, só é possível quando lembramos que a nossa vida não nos pertence, mas existe para testemunhar a graça de Deus. Essa é a nossa missão!