Caro Pai,
Gostaria de me acostumar a chamá-lo dessa forma, mas ainda não é uma tarefa fácil para mim. Por mais que o Senhor diga que sempre esteve ao meu lado, não consigo encontrar sentido. Como poderia estar comigo naqueles momentos mais difíceis? Quando tudo o que eu conseguia ouvir era o som dos meus medos, das minhas falhas e das minhas inseguranças mais profundas.
Escrevo essa carta para dizer que estou tentando. Todos os dias acordo pela manhã e me esforço para ouvir a Sua voz, parece que todos são capazes de ouvi-lo, menos eu. Talvez seja porque eu ainda não seja bom o suficiente, mas sinto que não importa o que eu faça, ainda não seria o suficiente. Mas, me disseram que o Senhor já sabia. E por isso, já me deu tudo.
Preciso pedir a sua ajuda, algumas vozes rondam os meus ouvidos e acredito que eu não seja capaz de vencê-las sozinho. Elas sussurram meus piores medos e gritam sobre todos os meus erros do passado. Essas vozes tentam me provar que alguém como eu, nunca seria completamente amado e aceito por alguém como o Senhor. Às vezes, passo a acreditar.
Não quero continuar errando, odeio o sentimento que isso gera dentro do meu coração. É um peso enorme, como se algo dentro de mim me mostrasse que aquilo que estou fazendo entristece o Seu coração. Nunca havia sentido isso antes, mas é um peso esmagador. Toda vez que acontece, surge uma escuridão diante de mim e sinto as minhas forças sendo minadas. Evito falar com o Senhor ou olhar para os Seus olhos, pois não sei se consigo suportar o reflexo de tamanha decepção. Pode ser loucura, mas desde que comecei a te chamar de Pai mais vezes, é como se estivéssemos conectados.
Eu quero aprender a confiar na Sua Palavra, mesmo que tantas pessoas tenham mentido para mim. Quero derrubar os meus muros e aprender a viver sem a proteção que criei ao meu redor. Certa vez, um amigo me disse que o Senhor é diferente, e que não existe nada que eu faça ou deixe de fazer que fará me amar menos ou mais. Como isso pode acontecer? Pelo visto, com o Senhor as coisas não seguem a lógica que estou acostumado. No começo, isso me assustava, mas agora, começo a entender que estou sendo chamado para uma liberdade que nunca vi igual.
Então, vejo que é verdade — nem a morte, nem a vida. Nem o presente, ou o futuro. Altura, ou profundidade, nada será capaz de me separar do Seu amor. Essa não é a paternidade com a qual estou acostumado, mas é a que eu recebi. Foi para isso que fui criado — ser amado.
Com amor, seu filho.
Equipe editorial da Revista Renascer