Ele convidou um amigo para pescar e levou o sogro a tiracolo. Sabia que o rio era caudaloso e estava animado, afinal queria proporcionar uma experiência inesquecível aos seus convidados. Depois de passarem pelas cabanas de palhas de aluguel para temporadas de pescas, andaram por uma trilha sinuosa até chegar às margens, num trecho mais raso do rio, com pedreiras e correntezas. “Tem certeza de que é aqui?” – Perguntou o amigo um tanto quanto frustrado. Bem, disse ele, este é o lugar que te falei. Era período de seca, o rio estava com volume bem mais baixo que o habitual e, naquele trecho, o rio era mais raso e mais estreito.
De qualquer forma, não iriam perder a viagem. O jeito era preparar as iscas, os molinetes, encontrar o melhor lugar para se posicionar à margem e tentar a sorte. A jornada só estava começando e tudo que ele desejava era ser surpreendido, mas, no íntimo, estava triste por ter decepcionado o amigo e o sogro. “Esta história ainda vai dar muito o que falar” – pensava consigo enquanto preparava seus apetrechos. Isca lançada, silêncio, expectativa. A ideia era procurar os recantos mais fundos, onde a correnteza não atrapalhasse tanto. Quem sabe os peixes estivessem tentando romper contra a correntes e fossem atraídos para uma apetitosa isca colocada bem no seu trajeto? O jeito era acreditar.
No fim das contas, não é que foi uma pescaria inesquecível? No fim do dia, nunca haviam pescado tantos peixes graúdos, os mais vistosos. Cada um deles que rebrilhava ao sol saindo da água e se contorcendo no anzol, era motivo de comemoração! Foi algo estranho. Um local improvável, que não atrairia qualquer pescador mais experiente, foi o cenário de uma aventura exitosa que entrou para as memórias familiares como a mais bem sucedida pesca já feita!
Ainda que no imaginário popular história de pescadores recebam comentários muitas vezes desconfiados, como se cada pescador quisesse contar uma vantagem maior que a do outro, esta história é bem verdadeira… e dela se pode extrair bons ensinamentos. Ela nos leva a meditar, por exemplo, em quantas vezes nos deparamos com situações adversas das quais não esperamos muita coisa e somos surpreendidos positivamente. Como aquele colega da escola de outrora que reencontramos depois de décadas, a quem ninguém dava nenhum crédito e nos deparamos agora com seu sucesso profissional, familiar e financeiro. Quantas vezes, em situações como estas, nossa mente exclama incrédula: quem poderia imaginar!
Milagres são assim. Inexplicáveis, maravilhosamente surpreendentes. Quando nos lembramos da pesca maravilhosa do discípulo sob a ordem do Mestre, nos lembramos que o desânimo e a frustração deram lugar ao triunfo, tudo porque quem controlava as tempestades no mar também tinha poder para ordenar aos peixes que se ajuntassem junto ao barco, para serem colhidos pela rede.
Dizem que quem conta um conto aumenta um ponto. Nas histórias de um pescador bravateiro, se aumenta quantidades, centímetros e quilos. Todavia, na boca de quem fala sempre a verdade, até a história de pescas aparentemente milagrosas, o que excede é a gratidão e o louvor!