Ao ler esse título, nos vem à mente de forma clara a expressão, e quem sabe até mesmo a experiência de João Batista, que avistou Jesus descendo para o rio Jordão e não pode conter a alegria em contemplar o Filho de Deus naquele momento singular, registrado em João 1:29. Vale refletir ainda, o tamanho da responsabilidade e do peso que carrega o restante dessa frase que ele exclama acerca de Cristo: “…que tira o pecado do mundo”. Quão grande mistério estava por vir, tanto na vida, como na morte de Jesus!
Mas, para entendermos esse momento histórico e a carga espiritual por trás de tudo que representam essas profundas palavras ditas por João Batista, precisamos mergulhar nas escrituras, na história e nas profecias que esperavam para se cumprir ao longo dos séculos.
A principal palavra que nos chama a atenção aqui é “cordeiro”. Porque, afinal, Jesus é chamado de cordeiro de Deus? Para nós que somos cristãos “gentios”, essa expressão não faria sentido se não fosse a constante leitura da Palavra, mas para os judeus, há um significado muito especial, que está presente desde sempre nas raízes culturais do seu povo.
Desde Abraão, patriarca do povo judeu, podemos observar a constante realização do sacrifício de animais. Isso se tornaria ainda mais significativo a partir do estabelecimento da Páscoa, ou Pessach (do hebraico פסח, que significa “passar por cima” ou “passar sobre”). A primeira páscoa aconteceu no Egito, há cerca de 3500 anos, e fez parte do momento de libertação do povo hebreu das mãos do faraó, antes que partissem para a terra prometida, liderados por Moisés. Em Êxodo 12, estão registradas todas as orientações de Deus para Arão e Moisés acerca do que significava, de como deveria ser feita e do que aconteceria na primeira Páscoa.
Como elemento central no estabelecimento da Páscoa hebraica temos o sacrifício de um cordeiro, macho e sem mácula, de um ano. Ele seria servido em uma noite, onde cada família se reuniria para cear o cordeiro, acompanhado de pães sem fermento e ervas amargas. O sangue do cordeiro deveria ainda ser colocado nas ombreiras das portas das casas onde se encontravam, sendo esse o sinal de que o anjo do Senhor “passaria por cima” e não ceifaria naquela casa o primogênito dos filhos e dos animais, mas faria isso nas casas de todo Egito, onde não houvesse o sangue marcado na porta.
A partir desse momento, que representou a libertação do povo de Deus da opressão do Egito, sendo esta a décima praga, em todos os anos seguintes essa data deveria ser celebrada como um memorial da poderosa ação de Deus que acontecera naquele tempo.
A partir desse momento da história, o cordeiro, especialmente no sacrifício, se torna algo muito representativo, e isso será reforçado no imaginário e na vida do povo após o estabelecimento da lei de Moisés, que podemos ler a partir de Levítico 1, onde previa o sacrifício de animais e outros alimentos, dentre eles o cordeiro, macho e sem defeito. Assim foi por muitos séculos.
A morte de Jesus não aconteceu na páscoa judaica por acaso. Teve-se, então,o sinal de que o antigo sacrifício, que na verdade era algo pedagógico para a história da humanidade, foi finalmente substituído pela expiação perfeita, vinda do próprio Deus eterno.
Jesus representaria o fim do sacrifício de animais, cuja expiação era temporária e limitada, Ele era o cordeiro perfeito que tiraria para sempre o pecado do mundo. O cumprimento de toda profecia, o filho do próprio Deus, seria entregue como um holocausto diante do Senhor e de toda a humanidade, rasgando o véu da religiosidade e reestabelecendo para sempre um caminho possível para nos achegarmos a Deus, sem sacrifícios de sangue.
Por isso, toda a história que se cumpre em Cristo, para nós significa a perfeição, a glória e a soberania de Deus, bem como o desejo do coração do Pai em reestabelecer a comunhão novamente conosco.
Assim como exclamou Abraão sem saber, acerca de Jesus, no momento mais desafiador de sua vida ao ser requerido o sacrifício do próprio filho: “Deus proverá o cordeiro para si”, Ele de fato, proveu!
Hoje somos livres para nos achegar ao Senhor, não por mérito nosso, ou por algo que possamos fazer com nossas mãos, mas essa comunhão nos é disponível pelo amor e entrega do próprio Deus: o cordeiro santo e perfeito que foi sacrificado no madeiro.
Portanto, celebre, viva essa comunhão, seja grato, Ele morreu por mim e por você!