Era uma manhã comum: o celular despertou às 6h e eu acordei. Mas, não consegui mover as minhas pernas. Eu tentava tirá-las da cama, mas nada! “Será que fiquei paraplégica durante a noite?”, pensei, depois de lembrar de um livro da adolescência em que o autor narrava uma situação parecida. Pedi para o meu marido me beliscar e eu senti a dor. Neste momento, as lágrimas escorreram pelo meu rosto. Comecei a chorar como uma criança e só conseguia pensar em uma coisa: “não quero ir para o trabalho”.
Eu costumo dizer que eu precisei estar no emprego dos meus sonhos para descobrir que não era o que eu queria. Foi justamente neste período da minha vida em que tive a experiência narrada acima.
Eu amava ser repórter na maior emissora do estado e representar a maior empresa de comunicação do país. Eu era uma excelente profissional, mas o brilho nos olhos diminuía a cada dia. E era uma dor silenciosa. Afinal, se eu arriscasse contar para alguém, ouviria: “Pare de murmurar. Você apresentou um jornal líder em audiência no estado aos 23 anos. Com 26 anos, já participava ao vivo na Globo News. Você é uma privilegiada, isso sim!” Mas, algo estava incompleto. Eu só não sabia o quê.
Me lembrei de um livro que li em 2009, chamado “A Unção e o Propósito Profético”, do pastor Marcelo Oliveira Almeida. A mensagem central do livro é: você pode ser um excelente cristão, dizimista, amar a sua família e ajudar o próximo, mas só se sentirá completo quando estiver no centro do seu chamado. Afinal, a unção está no propósito profético.
Na época, achei que isso só valia para a vida espiritual, mas nada como a maturidade para ensinar que ministério vai muito além das paredes da igreja.
E este foi o ponto zero da minha transição de carreira, em 2019. Desde 2017, eu já era palestrante e professora, mas exercia essas atividades como um Plano B e sem divulgação (por questões contratuais com a emissora). No entanto, a cada turma de oratória, ao fim de cada palestra, eu sentia meu corpo energizado. As pessoas vinham compartilhar depoimentos sobre como algo que eu disse transformou suas vidas e aquilo sim, fazia meus olhos brilharem. Saía dali com a sensação de que: “nasci para fazer isso”, mas o medo de não ter um salário fixo no fim do mês me assustava demais.
Precisei que meu corpo me parasse para assumir que algo estava errado. Infelizmente, foi na dor que tomei coragem para sair da minha zona de conforto e me tornar o que nasci para ser em Cristo: instrumento de transformação.
Uni a minha fé, tive o apoio do meu esposo, busquei conhecimentos e iniciei a transição de carreira. Abri mão da fama e do reconhecimento que tinha na TV. Voltei para Goiânia para ter minha família por perto, a comunhão da igreja e o apoio psicológico para lidar com a depressão.
Depois de pedir demissão do emprego dos sonhos, precisei me organizar financeiramente. Fui para uma emissora menor para me afastar da grande mídia e ainda ter um salário fixo, com o qual pagava as contas, e assim, guardava o que a minha empresa lucrava. Me assumi como empreendedora nas redes sociais e abri agendas para mentorias individuais.
Passados 1 ano e 10 meses, tinha a reserva financeira para me dedicar exclusivamente ao meu negócio e assim, concluí a transição. Atualmente sou Mentora em Comunicação. Atendo profissionais e empresas que desejam aprender a se comunicar com segurança e credibilidade. Treino palestrantes, tenho clientes no Brasil e em mais três países, já impactei mais de 3500 pessoas diretamente e atendi em mais de 60 mentoriais individuais. Mas isso só foi possível porque resolvi me questionar: “adianta eu fazer o certo no lugar errado?”. E isso também não significa descartar outras transições que podem vir pela frente, desde que eu entenda O MEU LUGAR. Pois seu propósito profético está no lugar onde você gera transformação na vida de alguém.
Portanto, meu objetivo não é fazer com que você peça demissão, ok? Talvez o seu chamado seja estar bem aí, mas será que você tem se permitido ser instrumento neste lugar?
Apenas planeje-se e movimente-se para estar onde você fará a diferença nesta geração. Pois não há fama ou dinheiro que superem o valor em fazer algo e sentir que é exatamente o que você foi feito para ser!