Nessa edição, a Revista Renascer conversa sobre Medicina e Fé com o Doutor Adem Pereira, médico cirurgião geral, Tenente do Exército Brasileiro, casado e membro da Igreja Batista Renascer – Sede – há um ano.
Infelizmente, há em nossa sociedade uma ideia de que a ciência pode tudo, e que a fé, ou qualquer argumento relativo a ela, é considerado um atraso. Leia a entrevista:
O senhor considera a medicina como sendo algo vindo de Deus? Porque?
Não tenho dúvida de que a medicina é algo divino e oriundo do amor de Deus para com seus filhos. Existem inúmeras passagens bíblicas que citam a ciência médica. Desde a origem de Eva, criada a partir do corte na costela de Adão (Gênesis 2:21-22), onde, através da “operação cirúrgica”, Deus nos mostra que todos os seres humanos têm sua origem biológica, genética e química, ou ainda, quando, sobre a direção de Deus, o profeta Isaías prescreve um medicamento para Ezequias (Isaías 38:21). Somente através da compaixão do Senhor, que podemos ter a capacidade do alívio dos sofrimentos do corpo.
Há evidências de que a fé faz bem para a saúde?
Desde os primórdios, o homem tende a procurar explicações para eventos em que não apresentam uma resposta lógica. Atualmente, existem vários estudos científicos que comprovam que a fé faz bem à saúde física e mental, fortalece a imunidade (quando ativamos uma área no cérebro ligada a nossa capacidade imunológica), reduz os eventos cardíacos em até 20%, doenças psiquiátricas, como a depressão, além de garantir melhor resposta frente a um tratamento. Todos meus pacientes recebem essa orientação extra, que é tão importante quanto as medicações. Sempre aconselho para que orem, de acordo com sua religião ou crença, e isso tem se mostrado muito benéfico nos resultados. Para além da melhora física, a fé possibilita a busca de um significado e uma resposta para a própria enfermidade. O paciente tem mais otimismo e esperança na superação de sua enfermidade.
Como cirurgião, o senhor já vivenciou alguma situação em que a fé lhe ajudou a exercer a sua profissão, e consequentemente a curar um paciente?
Tenho oportunidade de atuar na área cirúrgica do trauma, e é impossível ser inerte a força da fé nessas situações. Ao se defrontar com jovens feridos por armas de fogo, ou crianças vítimas da violência do trânsito, muitas vezes a capacidade técnica se torna limitada. Somente a fé dos pacientes, familiares, e também do próprio paciente justifica certas recuperações. Como explicar que um indivíduo transferido de uma cidade do interior, vítima de acidente automobilístico há mais de 24 horas, com lesões de pâncreas, fígado, intestino e baço, consegue se recuperar sem nenhuma sequela? Ou em outra situação onde uma gestante de 8 meses, em uma tentativa de autoextermínio, atira fogo no próprio corpo e sua filha acaba nascendo, e mesmo prematura, vem ao mundo saudável? A fé em Deus é a única certeza que dispensa provas.
O senhor avalia que a conciliação entre ciência e fé está próxima? Será possível as duas caminharem juntas?
No meu ponto de vista, elas caminham lado a lado. A ciência promove o bem estar material através das invenções, descobertas e avanços tecnológicos. A fé e a religião afetam o equilíbrio espiritual, através da ética, dos bons costumes, na igualdade e amor ao próximo. Portanto, a fé e a ciência coexistem, e apesar de ainda existir estudiosos que confrontam essas duas áreas, cada vez mais percebemos cientistas cristãos, que não negam as suas crenças em Deus, e nem encontram motivos para desistir da fé. Existe uma frase atribuída a Albert Einstein, em que ele diz que: “Cada descoberta nova da ciência é uma porta nova pela qual encontro mais uma vez Deus, o autor dela”. Dessa forma, acredito que a própria ciência nos mostra tudo o que Deus fez e faz.
E os médicos, estão preparados para abrir espaço para a fé de seus pacientes?
É preciso que isso aconteça. Mesmo profissionais mais radicais que não acreditam em Deus, têm percebido que é fundamental o exercício da prática da fé pelos seus pacientes, durante o processo de tratamento e reabilitação. Um medicamento bem receitado, ou um procedimento cirúrgico comprovadamente eficaz, pode oferecer a cura e prolongar a vida de um indivíduo, mas quando um médico fala ou permite que seu paciente exercite o viver em Jesus, as pessoas encontram o remédio para a vida eterna.
Como a Palavra de Deus e a igreja podem preparar os futuros médicos para o exercício de sua profissão?
A Palavra de Deus é o alicerce que nos sustenta, e por isso é importante que os médicos em formação saibam que nos momentos de dificuldade, onde todas as alternativas parecem ter se esgotado, há um Deus que nos conduz, mesmo quando o insucesso terapêutico é eminente. O recurso médico é limitado. Os avanços da ciência não são infinitos, mas o amor de Deus, sim. Dessa forma, a vivência na igreja do estudante médico irá fornecer instrumentos para conhecer a Deus, pois quando não O conhecemos, corremos o grande risco de não nos conhecermos, e consequentemente, se perder e meio às crises que surgem no decorre de nossa profissão.
Qual o principal desafio hoje na posição que ocupa?
Hoje, grande parte dos profissionais médicos vivem em uma rotina exaustiva de carga horária intensa, recursos limitados e pressão constante. O maior desafio é ainda se manter, sempre com um atendimento de qualidade, humanizado, resolutivo e ético. O médico também precisa compreender que a relação com o paciente não pode ser subvalorizada. Muitas vezes, o olhar e o ouvir se torna tão importante quanto um diagnóstico correto.
Qual mensagem o senhor deixaria para os cristão e estudantes de medicina da nossa igreja?
Estudar medicina pode ser uma experiência estressante e cansativa, pois são várias matérias e responsabilidades que vão surgindo, progressivamente, aos semestres que compõe a graduação. Mas, não são 6 anos de faculdade que fará de você um médico, nem mesmo quando você
perceber pela primeira vez, que uma ressuscitação cardiopulmonar teve sucesso, muito menos um “Dr.” antes do seu nome. A medicina vai além. Não seja indiferente diante do milagre da vida, e nem se torne escravo ou refém do quanto seu serviço lhe rende financeiramente. Jamais sacrifique sua família por sua carreira de médico, pois esse equilíbrio lhe dará ferramentas para ajudar seus pacientes. Acima de tudo, seja um instrumento de Deus para todos que você se deparar, e permita que o conhecimento adquirido, bem como a prática correta da medicina, seja sempre alinhada com a vontade de Deus.