A carta de amor

imagem: envato

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“Paulo, prisioneiro de Jesus Cristo, e o irmão Timóteo, ao amado Filemom, nosso cooperador,
E à nossa amada Áfia, e a Arquipo, nosso camarada, e à igreja que está em tua casa:
Graça a vós e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo”.
(Filemom 1:1-3).

Caro leitor, você já fez a leitura do livro de Filemom na Bíblia? Eu arrisco dizer que esse livro, com apenas 1 capítulo, não faça parte das leituras mais frequentes das Escrituras Sagradas. Na realidade, trata-se de uma carta escrita pelo Apóstolo Paulo, e embora não seja um livro que apareça em muitas pregações e ensinos, em seu conteúdo está uma lição valiosa para todo cristão. Descobrir esse ensinamento será o principal propósito desta Palavra Pastoral. Sendo assim, aproveite a leitura!

Primeiramente, saiba que Filemom é uma carta pessoal, escrita por um homem já velho, provavelmente em Roma, rabiscando em meio a uma cela fria. Por que? Paulo, o escritor, precisava enviar um recado urgente para o seu filho na fé, o nobre Filemom. Este era um homem de posses, no entanto, Paulo precisava justamente que uma de suas posses, um escravo, ganhasse a liberdade.

Estamos falando de Onésimo, o outro filho na fé de Paulo, mas que vivia como um fugitivo. O caso é que Onésimo era escravo de Filemom, e naquele momento, ainda era um escravo fugitivo. Assim, estamos diante de um caso que envolve um homem de posses, que passou a crer em Cristo Jesus por meio do ministério paulino. Do outro lado, um escravo fugitivo, mas que também passou a seguir a Cristo e que havia se tornado um grande apoiador do Apóstolo Paulo.

Duas realidades completamente distintas, o que já nos revela que o verdadeiro e bom ministério consegue alcançar a todos com a mesma integridade e amor. A verdade é que o ministério genuíno, alicerçado na integridade das Escrituras, alcança todos os tipos de pessoas. O livro de Filemom, escrito pelas mãos trêmulas de um homem já avançado na idade, nos mostra um posicionamento a favor de um escravo fugitivo. Mas a pergunta é: como a nossa mentalidade ocidental e atual pode compreender algo assim?

Não sabemos o que Onésimo fez para estar vivendo como um escravo em fuga. Todavia, Paulo foi incansável em pedir para que Filemom recebesse Onésimo novamente, e dessa vez, como um homem completamente livre. Em outras palavras, Paulo estava dizendo:

“Filemom, por direito Onésimo é seu escravo, você o comprou, ele não te serviu de forma correta, e então ele fugiu. Mas, eu quero que você o receba de volta, porque ele fugiu de você, mas se encontrou comigo.”

Nesse caso, Paulo esclareceu um novo dilema: se Onésimo tornou-se seu filho na fé assim como Filemom, agora ele não era mais o seu escravo, mas seu irmão. Não pense que essa é uma realidade muito distante de nós. Hoje mesmo, você pode estar fugindo do seu passado, de quem você costuma ver ou daquilo que outras pessoas pensam a seu respeito.

Todavia, essa carta de amor nos relembra a verdade de que uma vez encontrados por Cristo, não podemos mais viver como presos. Somos chamados para a liberdade. Paulo ainda vai além: na carta que escreve a Filemom, ele afirma:

“Assim, se você me considera companheiro na fé, receba-o como se estivesse recebendo a mim. Se ele o prejudicou em algo ou lhe deve alguma coisa, ponha na minha conta.”

 (Filemom 1:17-18)

Paulo desafiava a Filemom a manifestar a sua capacidade de demonstrar a Graça e o amor pela qual um dia, ele mesmo foi alcançado. Aqui cabe uma reflexão para a sua vida: se você precisar receber um “Onésimo” em sua vida, como você o receberia? Sem dúvidas, Filemom não estava em uma situação simples. Imagine: uma pessoa que ele amava, Paulo, estava pedindo que ele recebesse alguém que até ali, era alvo de seu ódio. Ele certamente sentia que tinha o direito de se sentir assim.

No entanto, apenas uma coisa separava Onésimo de sua sentença de morte — a carta de amor escrita pelo Apóstolo Paulo. Ele que começou a sua jornada de fuga como escravo, agora havia se tornado útil para o ministério grandioso de Paulo. Existem teólogos que afirmam que Onésimo tenha se tornado escriba, e outros, acreditam que tenha terminado a sua vida como bispo da Igreja de Éfeso. Seja como for, ele teve a sua sentença transformada.

Mas, afinal, o que essa carta nos ensina sobre o amor?

Primeiro, que o amor trabalha como árbitro, capaz de equilibrar até mesmo lados opostos. Além disso, que ele é antes de tudo, capaz de promover a paz. Assim, queridos leitores, o amor transforma a tal ponto de fazer com que mesmo o mais improvável aos seus olhos, possa um dia, ser abraçado pelos seus braços.

Aquela carta de amor foi a responsável pela emancipação de Onésimo, pois antes, ele não tinha nem mesmo para onde voltar. Depois, ele poderia voltar não para a casa do seu senhor, mas para a casa de seu irmão na fé. Percebe a semelhança?

Um dia, eu e você também não tínhamos para onde ir. Nascemos condenados e separados do nosso Pai. Vivíamos como escravos do pecado. Você se lembra de quando Paulo diz: “ponha na minha conta”? Você é capaz de perceber a semelhança? Assim, fica claro o porquê dessa aparente “simples” carta estar presente nas Escrituras Sagradas, que é a própria Palavra de Deus.

Nessa narrativa, Paulo é a sombra de Jesus Cristo.

Assim como Onésimo, todos nós éramos escravos fugitivos, mas Cristo proclamou: “ponha na minha conta”. Todos nós tínhamos uma alma presa em meio aos cativeiros, mas, Cristo diz: “ponha na minha conta”. Aquele que no princípio, era a Palavra, ou seja, a própria carta, olha para a humanidade caída e diz: “ponha na minha conta”.

 Portanto, estamos livres, pois Cristo é a carta de amor do nosso Deus.

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