Um AVC, três cidades e o mesmo Deus

imagem: envato

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“Este é o dia em que o Senhor agiu; alegremo-nos e exultemos neste dia.” (Salmo 118:24).

A minha história começa em um dia aparentemente comum: 18 de dezembro de 2015. Eu havia finalizado as entregas dos diários com as notas das escolas onde lecionava, feito as compras do mês, e estava à procura do condicionador das minhas filhas, mas não o encontrei. No dia seguinte, acordei confusa. Ao sair do banheiro, senti como se estivesse vesga. Perguntei à minha filha se havia algo errado com meus olhos, e ela respondeu que estavam normais. Porém, eu não reconhecia minha mãe, e a única coisa que conseguia repetir era que não tinha comprado “aquele negócio que se usa depois do shampoo”.

Minha sobrinha, percebendo que algo não estava bem, ligou para minha irmã dizendo: “Vem pra casa da vó, a tia Zilda está estranha”. Estávamos prestes a viajar para Brasília, onde passaríamos o Natal com um tio-avô das crianças. Antes de seguirmos viagem, fui até o polo da UAB/UnB para entregar a última atividade do curso de Licenciatura em Geografia. Ao ser abordada por uma coordenadora que me perguntou qual curso eu fazia, respondi: “Não sei”. Ela imediatamente olhou para minha irmã e disse: “Corre com ela para o hospital, ela está concluindo o curso e não sabe?”

Fomos ao hospital, e o médico, ao saber que eu era professora, atribuiu meu estado ao estresse de fim de ano. Minha irmã perguntou se não seria um AVC, pois eu estava claramente confusa e desorientada. O médico descartou a possibilidade com convicção, prescreveu um remédio para dormir e liberou a viagem.

Na mesma noite, seguimos de Posse para Brasília. Meus três filhos estavam comigo, com exceção do primogênito. Dormi o trajeto inteiro. Ao chegarmos à casa do nosso tio, fui tentar explicar que meu filho iria cursar engenharia mecatrônica, mas estava tão confusa que ninguém compreendia.

No dia 20 de dezembro, por volta das 8h, minha filha achou estranho eu ainda estar deitada. Quando entrou no quarto e me despertou, percebeu que minha boca estava torta. Tentou me levantar, mas eu não reagia. Estava completamente desconectada. Meu lado esquerdo não respondia. Fui levada para a UPA, e de lá transferida para o hospital de Samambaia, onde permaneci em jejum e sem atendimento adequado, aguardando vaga no Hospital de Base. Só poderia sair dali com uma ambulância. Meu filho mais velho, ao saber da situação, pediu ajuda ao patrão, que o levou de Goiânia até Brasília. Quando chegou ao hospital e sentou-se diante de mim, acariciei seu rosto e disse: “Você parece com meu filho”, sem reconhecê-lo. Ele chorou.

Quero fazer aqui uma pausa para dizer algo importante: seja grato a Deus por acordar, calçar um chinelo, escovar os dentes, tomar banho de pé, vestir-se sozinho… tudo isso é milagre! Não espere algo mirabolante para reconhecer o cuidado de Deus. Cada pequena autonomia é prova da graça de Deus.

A partir desse ponto, minha memória falha, e o restante da história foi contado pelos meus filhos. Fui transferida para Goiânia e levada ao Cais Leste Vila Nova e, depois, encaminhada ao Hospital São Domingos. Entrei andando, com ajuda, mas logo fui internada, completamente paralisada do lado esquerdo. Não compreendia palavras, não me comunicava bem, e os médicos deram diagnósticos severos: que eu não voltaria a andar, falar, ouvir ou enxergar. Meus filhos, contudo, ouviram e repreenderam tudo em nome de Jesus.

Fui internada no Hospital São Domingos e recebi alta depois de alguns dias com recomendação de fisioterapia urgente. Ao me avaliar, a fisioterapeuta disse que eu seria o melhor caso de AVC dela, e que dez sessões seriam suficientes. Eu ainda era totalmente dependente, mas ela orientou meus filhos a não me ajudarem mais.

Na primeira sessão, quando ela abriu a porta do quarto, eu me levantei e saí andando. Ela pediu que ninguém viesse até mim, pois eu deveria ir até eles. A partir daquele dia, tomei banho, me vesti e comi sozinha. No começo, meus filhos me supervisionavam, mas sem me tocar. E para a glória de Deus, nunca caí.

Ficaram algumas sequelas cognitivas, perdi parte do campo visual e minha audição já não é a mesma. Às vezes, pareço uma coruja, encarando quem conversa comigo, pois é a forma como aprendi a compreender melhor. Mas nada disso me entristece. Aprendi a louvar a Jesus mesmo quebrada.

Essa é minha jornada. Três cidades. Dias alternados. Um único Deus, o mesmo no início, no meio e no fim da minha história. E com Ele, a minha vitória!

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