A rede, a isca e o anzol

imagem: envato

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Das muitas e melhores lembranças que povoam minhas recordações da infância e adolescência, estão as pescarias na fazenda nos períodos de férias. O ritual envolvia o preparo da vara de bambu, a escolha das linhas, chumbadas e anzóis, a extração das iscas no terreno umedecido próximo às touceiras de bananeiras e a caminhada pelo pasto até os poços rentes às encostas salpicadas de babaçus. Tudo era meticulosamente pensado, embora a prática contínua automatizasse cada etapa do processo.

Uma das coisas mais importantes era, sem dúvida, a escolha do tamanho do anzol e o tipo de isca. Dependia do tipo de peixe que se pretendia pescar. Os lambaris e piabas eram afoitos e disputavam alvoroçadamente um naco da isca no anzol minúsculo. Presa fácil. Os peixes maiores exigiam um planejamento mais elaborado.

Meu irmão mais velho, perito na arte da pescaria em córregos mais largos e fundos, preferia as redes. Enquanto eu gastava um tempo enorme para garantir a fritada de pequenos peixes na boca da noite, ele voltava na manhã seguinte ao local onde havia armado a rede na tarde anterior e voltava exibindo as enormes pirapitingas que a rede havia retido durante a noite. Os tios voltavam com suas tarrafas abarrotadas das represas e rios mais distantes.

Quando Jesus disse a Pedro que faria dele um pescador de homens, após vê-lo maravilhado com a grande pesca naquele milagroso dia, ele usou uma hipérbole que se tornaria uma ordenança a todos os seus discípulos através dos tempos, ainda mais quando associada à grande comissão: ide e pregai o Evangelho.

Homens não são peixes, mas são atraídos por diversos tipos de iscas e se emaranham inúmeras vezes em ardilosos anzóis à sua espreita. Como pescadores de homens, somos muitas vezes tentados a nos comportar como anzóis inadequados e o que é pior, usando iscas que mais repelem do que atraem. Muitas vezes a nossa vontade de persuadir as pessoas, aliada à  pregação de um Evangelho desconfigurado e customizado  às nossas peculiaridades, preconceitos e desamor, nos impede de sermos bem-sucedidos em nossas pescas para o Reino do Senhor.

Voltando à cena protagonizada por Pedro, no mar atulhado de peixes, nossos olhos se voltam para a rede. Não bastou jogá-la incansavelmente a noite inteira. Enquanto Jesus não entrou em cena e passou a compor o cenário e intervir miraculosamente naquela situação, a pesca não teve êxito. Não houve isca, mas uma rede forte e sem rupturas.

Penso que, como igreja, somos como nós desta imensa rede que o Espírito Santo arremessa ao mundo, na expectativa de povoar o Reino. Se estivermos unidos nesta empreitada, numa relação de interdependência uns dos outros, sem divisões, sem lacunas, seremos preciosos nessa divina empreitada.

Se a situação pedir, o ideal é que sejamos anzóis eficientes e, ainda que sinuosos na natureza pecaminosa, estejamos posicionados no ambiente certo, recobertos pela isca apropriada, que é um Evangelho puro, Palavra de Deus ao coração do homem. Se assim for, o próprio Espírito Santo vai testificar da pescaria e não haverá frustração na volta para a casa. Jesus falou a Pedro em duas outras situações distintas sobre igreja: quando foi reconhecido como Cristo, o Filho do Deus vivo e prometeu que a Igreja, contra quem as portas do inferno não prevaleceriam, seria edificada sobre essa afirmativa.

Noutra feita, antes de ascender aos céus, pediu que Pedro apascentasse as suas ovelhas. De repente, o pescador de homens, se configura pastor. Seja como for, existem milhares de peixes esperando para serem pescados para Deus e milhares de ovelhas precisando ser apascentadas. No fim das contas, a  despeito das hipérboles, o Senhor quer nos usar para atrair as pessoas para Ele. O que vem depois, é obra do Espírito Santo, que continua preparando a grande festa da qual se aproxima o grande dia!

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