Depois que as luzes se apagam…

imagem: envato

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Quando as fazendas não possuíam eletricidade, nos idos da década de setenta, eu ficava encantado com as luzes de muitos lampiões à gás que iluminavam os arredores da casa grande impecavelmente varridos e preparados para uma festa à noite. Ainda hoje sonho com o contraste da negritude noturna com aquele clarão no meio do nada, ofuscando a luz da lua e das incontáveis estrelas que todas as noites se exibiam na imensidão.

Na manhã seguinte, ainda que não visse a festa, porque menino tinha que ir para a cama cedo, ajudava na arrumação do ambiente onde os adultos se esbaldaram até alta madrugada em rodas de dança e bebidas, ao som da sanfona, do pandeiro e do reco-reco. Depois da euforia, vinha o cansaço, a ressaca e, para muitos, o arrependimento, a culpa e o vazio.

Preparar uma festa é empolgante. Haja luz, haja enfeites, entusiasmo e expectativas. Era assim nas antigas festas de debutantes, nas cerimônias de casamento, nas formaturas… e continua sendo assim, principalmente no Natal e no Ano Novo. Algumas festas têm custos exorbitantes, outras são bem singelas, mas sempre há brilho, luz, na medida da empolgação e da importância.

No Natal, as luzes não se restringem aos pinheirinhos no canto da sala, mas sobem os muros, as fachadas, tomam os jardins e as praças. No réveillon à beira mar, são as luzes que dão o tom do espetáculo. Sempre elas, transformando ambientes sombrios e inexpressivos em cantos e recantos charmosos e esplendorosos.

Mas…e depois que a festa acaba?  O que vem depois que tudo passa? O que fica nas memórias, no coração e na alma? Só existe um jeito de saber.

Uma festa, um brilho extra, mais um natal e mais um réveillon, provavelmente só vão amplificar ou emudecer o que já estava antes dentro de nós, aquilo que construímos no dia-a-dia, em nossos relacionamentos, em nossa rotina de trabalho e na comunhão com a igreja.

Às vezes o brilho ilusório pode ser apenas uma fuga, um subterfúgio. Quando todo o glamour passa, quando os convidados vão embora, quando os adornos das festas são retirados e engavetados, é hora de olharmos para dentro de nós, de contabilizarmos perdas e ganhos, de tomarmos decisões a respeito de economias, dietas, projetos e planos.

Quando transformamos os momentos de festas em oportunidades de congraçamento, perdão, reajustes, consertos e reparações, o brilho da festa se transfere para dentro de nós. O artificial passa a ser substancial, o externo passa a ser orgânico em nós. Quando a festa é apenas mais uma, o brilho é efêmero e, depois de tudo, nada de bom sobra pra contar a história, talvez tenhamos que fazer algo acontecer em nós.

Acabar com as festas? De forma alguma, mas fazer delas momentos de celebração daquilo que conquistamos, não prenúncio do que deveria acontecer. Temos que ter a chama acesa em nós, aquela que só Deus acende, quando ateou “fogo” no mundo, enviando o Espírito Santo. Quando existe este brilho crepitando em nosso coração como na sarça ardente no Monte Horebe, este brilho não nos consome, mas nos aviva.

A Bíblia diz que a vereda dos justos é como a luz do amanhecer, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. Que esta luz brilhe em nós até se confundir com a nossa própria essência. Só assim, de glória em glória, seremos realmente aquilo que Jesus disse que devemos ser: a própria luz do mundo! Feliz Ano Novo!

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