Na difícil e nobre missão de criar filhos, é comum que várias perguntas e incertezas se façam presentes na rotina dos pais. Assumindo o papel de verdadeiros aprendizes, a intencionalidade na educação das crianças é uma atitude que gera mais assertividade nas escolhas diárias. Para entendermos mais sobre o assunto, conversamos com Alessandra Martinez, fisioterapeuta, especialista em Desenvolvimento Infantil Intencional e autora do e-book “Educação Cristã”.
Revista: Por que é importante discutirmos sobre a intencionalidade na criação de filhos?
Alessandra: Hoje em dia, nos preocupamos com os aspectos físicos e intelectuais de nossos filhos, o que é necessário. Porém, é preciso irmos além. Eu aprendi que para alcançarmos um nível mais elevado na educação dos filhos, precisamos terceirizar menos e abraçar mais essa causa. Por exemplo, é comum vermos pais esperando os filhos alcançarem uma idade mais avançada para introduzir uma vida espiritual na vida da criança. A igreja pode exercer esse papel até certo ponto, porém, ela não fará aquilo que cabe aos pais fazer. Além disso, ser intencional é ter um olhar específico para aquele indivíduo único, e traçar um plano educativo apropriado para ele. Existem coisas que funcionam para todas as crianças, como a rotina, por exemplo. Porém, já o cantinho do pensamento não dá certo para alguns, nem todos vão responder da forma esperada.
Revista: Quais perguntas os pais podem se fazer para compreender as necessidades específicas de seus filhos?
Alessandra: Muitas vezes vemos pais mais reativos, que não avaliam o motivo pelo qual a criança está agindo daquela maneira. É preciso estudar e discutir com quem estuda sobre o assunto para entendermos a criança e o seu desenvolvimento. Em que fase ela está? Qual o nível intelectual ela tem para receber determinadas ações? Falo isso porque educar é agir intencionalmente para com a criança e não reagir com gritos e palmadas. Agir significa saber o que podemos esperar deles. Não são miniadultos capazes de compreender tudo o que falamos e assimilar logo de primeira. Assim como nós, nasceram com a marca do pecado e por isso, carecem da misericórdia do Senhor sobre as suas vidas.
Revista: Quais são os sinais de uma educação que não está sendo intencional o bastante?
Alessandra: Eu entendo que cada família possua as suas circunstâncias, muitas mães precisam trabalhar e não mais ficar em casa em tempo integral. Porém, o que eu vejo são crianças que ficam com babás ou vão para a escola, mas que estão em um lar onde não existe uma intenção voltada para ela. No caso de babás, elas devem ser acompanhadas e direcionadas pela mãe enquanto educadora. A babá precisa incentivar que a criança coma sozinha, guarde os seus brinquedos, durma no horário estabelecido, boa alimentação, brincadeiras ao ar livre, sabendo da importância que isso tem no desenvolvimento das crianças. Vemos hoje em dia crianças de 5 e 6 anos totalmente dependentes para tudo, e isso não deveria ser assim.
Revista: De que forma os pais podem incentivar bons hábitos?
Alessandra: O incentivo aos bons hábitos é resultado de uma rotina bem ordenada, com horários estabelecidos. Dessa forma, educamos a “vontade” dessa criança. Ela será capaz de realizar coisas difíceis, porém, por um bem maior. O coração deles será grande e aberto as coisas do alto. A intencionalidade diz respeito àquilo que desejamos para a vida de nossos filhos na vida adulta. O nosso desejo vai desde a felicidade, aquisição de bens materiais, uma boa profissão, que tenham um bom caráter, que sejam pessoas realmente boas. Para isso, é preciso percorrer o caminho com eles. Por exemplo, o hábito da leitura inicialmente é feito através da leitura em voz alta. Não é preciso que a criança pare e te olhe o tempo todo, a leitura ela é incrível no processo de aprendizado e atenção. Uma criança de 18 meses é capaz de brincar e ouvir a história da mãe. Certo dia, essa criança irá repetir algo da história ouvida. Isso é a formação de um hábito maravilhoso e saudável.
Revista: De que forma os pais podem acompanhar o processo da educação nos filhos na escola?
Alessandra: O acompanhamento escolar é iniciado na escolha da escola. Quais valores são pregados? Quais são os livros recomendados? Que estejamos presentes nas atividades em casa, e atentos ao que a escola ensina. Ser intencional é estarmos um passo à frente dos nossos filhos. As pessoas com as quais nossos filhos se relaciona são da nossa responsabilidade. Não devemos permitir que assuntos difíceis, como a sexualidade, sejam tratados por qualquer pessoa. É importante que a primeira menção seja dada pelos pais. Dediquemos tempo à mesa, para sondarmos os corações de nossos filhos. Que exerçamos neles, mesmo que de forma falha, com carinho e firmeza.
Revista: Na sua opinião, quais são os principais hábitos que os pais devem incentivar nos filhos ainda na infância?
Alessandra: A depender da idade, os hábitos vão mudando. Existe um tripé que podemos adotar na educação e desenvolvimento das crianças desde o seu nascimento: nutrição, descanso e exercício. Então, envolvemos alimentação, sono e repouso, além do crescimento intelectual. Nesse caso, será expresso por aquilo que disponibilizamos para as crianças, como música, contato com a natureza e atividades visuais. Além disso, temos o exercício religioso, com oração, leitura da Bíblia, culto doméstico vida na igreja. Há ainda o tipo de exercício que está relacionado às atividades manuais, como massinha, artesanato e os que treinam uma maior destreza com as mãos. Como fisioterapeuta do desenvolvimento infantil, digo que todo pai e toda mãe precisam estar atentos ao desenvolvimento adequado de seus filhos, sem tentarem “pular etapas”.