O filme “Sempre ao seu lado” conta a história do professor universitário Parker Wilson, interpretado pelo ator Richard Gere, e do seu cachorro, o qual espera seu dono todos os dias no mesmo horário na estação do trem, quando ele retornava de seu trabalho. Volta e meia ouvimos histórias semelhantes, normalmente de cães, que permanecem às portas de hospitais onde seus donos estão internados ou em cemitérios, onde seus donos estão sepultados. Além de serem histórias comoventes, servem de pretexto para as nossas meditações a respeito de lealdade e fidelidade.
Embora muitos linguistas considerem sinônimos, estes dois conceitos podem assumir significados distintos nas relações interpessoais ou comunitárias. Lealdade, que em latim remete para o conceito de lei, designa alguém em quem é possível confiar e que cumpre as suas obrigações legais. Alguém que não falha com seus compromissos, imbuído de responsabilidade e retidão. O contrário disto seria alguém que apresenta uma conduta traiçoeira, falsa ou desonesta.
O princípio de cumprimento às regras estabelecidas, deveres ou promessas feitas também está presente no conceito de fidelidade, que muitas vezes parece estar mais ligado a uma questão de princípios do que simplesmente atitudes. Há quem afirme que é possível ser leal sem ser necessariamente fiel e vice-versa, quando se refere à coerência de ações relacionadas a compromissos assumidos. Há quem afirme que fidelidade está implícito em lealdade.
Controvérsias à parte, o certo é que lealdade é uma questão de moral, que é uma das bases sólidas para um relacionamento saudável, seja entre duas pessoas ou mais. Vivemos um tempo de relações frágeis, divórcios de várias naturezas, apego a coisas em detrimento de pessoas, desapego a princípios considerados fundamentais à construção de uma sociedade moralmente equilibrada. Há tempo de sobra para a bisbilhotice à vida alheia, fake news, exposição desnecessária da própria vida e da vida dos outros. São tempos de flagrante, descompromisso a promessas assumidas no altar, nos cartórios, nos palanques políticos, além de esquecimento a juramentos feitos numa formatura, num casamentonou numa assinatura de contrato.
O cenário é nebuloso porque a humanidade se afunda num mar de futilidades e vulnerabilidades, calcadas no egocentrismo e no hedonismo, tornando raros e caros os exemplos de fidelidade e lealdade. Particularmente, não consigo desvincular estas qualidades do amor ao próximo, ao cônjuge, à pátria, ao próprio nome e a Deus. Todavia, nem tudo é caótico. O exemplo dos cães leais não é único. Mesmo nas ausências, nas fraquezas do outro e até quando não há recompensa, quem tem um coração leal, jamais negocia a honra à própria palavra empenhada, não abre mão de amalgamar suas atitudes ao bom caráter e não deixa sua probidade ser contaminada com as tentações de “chutar o pau da barraca”.
Quem são estes exemplos? São aqueles imitadores do Deus fiel da Bíblia, a quem o salmista atribui um amor leal, cuidador, provedor e protetor. Honrar um matrimônio, um contrato ou uma promessa de campanha, é se comprometer com o resgate de valores cada vez mais vituperados, adulterados, relativizados.
Por fim, acreditemos que o amor como vínculo da perfeição seja também uma chancela para a promessa feita. Afinal, o verdadeiro amor nunca falha !