Onde foi que eu cresci?

Meu nome é Gleice, tenho 41 anos e sou a caçula de uma família totalmente desajustada. Nasci e cresci em um lugar totalmente improvável, e por isso quero compartilhar com os caros leitores, um pouco sobre a minha história, pois sei que o Senhor esteve comigo em todo o tempo, me livrou da morte, me salvou e curou, pois Ele tem um grande propósito para a minha vida.

Começo falando sobre os meus pais. O meu pai era macumbeiro e tinha um centro em casa. Minha mãe era católica e sempre que meu pai iria realizar algum trabalho, ela tirava meu irmão e eu de casa para que não pudéssemos ver o que ele estava fazendo. A verdade é que mamãe nunca concordou com aqueles trabalhos, e por esse motivo, as brigas e agressões eram constantes.

Minha mãe sempre foi muito humilde e muito submissa ao meu pai, que era treze anos mais velho que ela. Infelizmente, o meu pai sempre nos humilhou muito: batia, machucava, xingava, nos colocava para fora de casa, não nos deixava comer e nem dormir. Assim, todos os dias sofríamos uma humilhação diferente.

Como se não bastasse todo esse cenário, em abril de 1986, com apenas quatro anos de idade, uma tragédia aconteceu. Eu estava na porta de casa, quando de repente um carrinho de cortar gramas da prefeitura, chamado “tobata”, invadiu a calçada, me atingiu e arrastou pela rua por um bom tempo. Esse carrinho tinha várias lâminas de corte afiadíssimas, na qual serviam para o corte das gramas de praças.

Foi um acidente gravíssimo. As lâminas desse carrinho deceparam o meu calcanhar, o tendão de Aquiles e também os ossos. Sofri um traumatismo craniano, quebrei a perna, os dentes, a mandíbula e tive várias escoriações pelo corpo. Além de tudo isso, o combustível quente derramou na minha perna esquerda inteira e tive queimaduras seríssimas.

Com tudo isso, ali mesmo no local, entrei em estado de coma e fui levada para o hospital. Minha mãe me contou que no hospital ela se desesperou e pediu muito a Deus pela minha vida. Fui conduzida então para a UTI e ali permaneci por vinte e um dias.

Mamãe também me contou que ela ficava na porta da UTI e que de vez em quando os médicos deixavam ela entrar. Até que um dia, um dos médicos chamou a minha mãe e pediu para ela assinar um documento, autorizando a amputação da minha perna, pois eles já tinham feito de tudo para tentar salvar. Minha mãe se recusou a assinar o documento, e disse ao médico que Deus iria me curar.

O fato é que, mesmo com tantos problemas com o meu pai, a minha mãe sempre acreditou em Deus. A fé dela é o que precisava para o meu milagre. Foi então que no vigésimo primeiro dia em coma, comecei a dar sinais de melhora. Acordei e logo saí da UTI para o quarto, e depois disso, comecei um novo tratamento e uma luta diária para sobreviver. Eu e minha mãe ficávamos dez dias no hospital e três em casa, e assim foram ao todo 11 cirurgias e vários exames. Os médicos diziam que eu não iria andar, mas quem dá o último diagnóstico é Deus, e Ele não desistiu de mim, mesmo crescendo em um lar tão complicado,  o Senhor me concedeu uma mãe que teve fé e que cuidou de mim.

Fiz fisioterapia e voltei a andar. Hoje, ando sem nenhum problema, para honra e glória do Senhor. Sou um verdadeiro milagre de Deus. Mas as lutas não acabaram por aí. Mesmo adulta e totalmente recuperada do acidente, a minha família continuava com sérios problemas.

Em 2001 levei uma surra do meu pai.  Momentos depois, sentada na porta de casa com o meu coração muito triste com aquela situação, pensei em ir embora, mas fiquei com receio de que  minha mãe ficasse muito decepcionada.

Foi então que a pastora Maria Amélia, da Igreja Assembleia de Deus que tinha acabado de ser inaugurada ao lado da minha casa, me chamou para visitar a igreja. Perguntei o horário do culto e decidi ir. Naquele momento, senti um alívio e fiquei bem animada com o convite.

No dia do culto, meu pai me perguntou aonde eu estava indo, eu disse que iria ao culto e ele ficou furioso me dizendo que eu não iria para a igreja. Mas, eu o contestei e disse que ia mesmo assim, foi então que ele me deu outra surra. Mesmo naquela situação, eu fui!

Meu pai não aceitava a igreja e reclamava do barulho. Assim foram passando os anos e todo domingo era um problema diferente. Ele desligava a água, tirava o sabonete, mas eu ia para a igreja como estava. Minha mãe me deu uma Bíblia de presente, e ele não aceitava, então eu a guardava embaixo do guarda-roupa para que ele não pudesse ver.

Mesmo com toda essa luta, aceitei Jesus e as coisas começaram a mudar na minha vida. Me casei e não podia ser mãe, devido aos problemas que passei com o acidente na minha infância. Mas, eu sabia o Deus que eu servia, e suplicava por um filho e assim Ele me mandou um menino lindo, o Bento, para honra e glória do Senhor Jesus Cristo!

E hoje sou casada, mãe, feliz e abençoada. Apesar da família disfuncional, de todo esse sofrimento no passado e das cicatrizes no corpo e na alma, eu nunca perdi a fé. Pelo contrário, a cada obstáculo a minha fé em Jesus Cristo se tornava ainda maior. Nunca perguntei a Deus o porquê de tanto problema, só agradeci.

Meu pai faleceu há 7 anos, mas antes ele aceitou Jesus e teve a salvação. Mamãe faleceu há 9 meses, acometida de um câncer no estômago, e essa foi mais uma dor que passei. Essa é a minha linda história. Sim, hoje falo que é linda, pois até mesmo em meio ao caos, sangue e muito sofrimento, a fé em Deus tornou tudo lindo e florido.

Sinto que Deus sempre esteve comigo, desde a minha concepção. Se Ele não tivesse me carregado nos braços, me levantado as inúmeras vezes em que caí, com certeza eu não suportaria as dores. Hoje eu sei que Deus me permitiu crescer naquela família e passar por tudo, para que eu pudesse ajudar alguém. Deus é bom o tempo todo!

Gleice Roberta Alves Borges de Jesus

Membro da Igreja Batista Renascer. Casada com Enio Pereira de Jesus e Mãe do Bento e do Jefferson.

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José Divino de Leiros
10 meses atrás

Testemunho edificante da minha amada irmã, sou um dos filhos de seu pai e sei bem a luta que passou, te conheci em 1992 e desde o dia que te vi te amei, e hoje somos unidos como nunca, além de irmãos de sangue, somos irmãos em Cristo Jesus. Deus seja louvado.

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