Será que perdoar faz bem ? Não é de hoje que ouvimos falar sobre a influência das emoções na saúde física. Estudos recentes tem comprovado que mágoas, rancores, espírito vingativo e outros sentimentos, podem trazer para quem os acalenta, uma somatização, isto é, sintomas físicos os quais a medicina não explica a origem e nem constituem um quadro clínico específico, mas seriam de origem emocional.
Os consultórios de psicologia, psiquiatria e psicanálise vivem abarrotados de clientes tentando encontrar respostas e soluções para os sintomas que a medicina tradicional já não consegue explicar e nem tratar. Por outro lado, existe um quase consenso entre muitos profissionais, que a eliminação do peso e da tensão causada por estes sentimentos através do perdão, pode trazer alívio à alma e, consequentemente, benefícios à saúde física.
Vivemos uma era em que muita gente está seriamente preocupada com o bem estar físico, e busca na prática disciplinada de exercícios físicos e na alimentação saudável, uma forma de se prevenir contra as mais variadas doenças. Todavia, estas mesmas pessoas, na maioria das vezes, não se preocupam, na mesma medida, com a sua saúde emocional que, uma vez equilibrada, poderá prevenir males até maiores.
O perdão pode ser entendido como processo mental ou mesmo espiritual de fazer extinguir o sentimento de ressentimento contra outra pessoa, por uma ofensa recebida ou até raiva de si mesmo por não lidar bem com os próprios fracassos. Quando o perdão é liberado, o sentimento de revanche e vingança cessa.
Ao contrário, quando a pessoa não libera perdão, ela constrói um sentimento corrosivo e inquietante, passando a exigir um castigo ou restituição por parte de quem o feriu, gerando mágoas arraigadas que podem se arrastar por anos. A intolerância aos erros dos outros ou incapacidade de administrar as emoções decorrentes de fracassos pessoais, produzem um sentimento de inquietação interior altamente destrutivo, que pode provocar alterações no metabolismo e no humor, sintomas físicos diversos e até depressão.
Jesus ensinou que deveríamos oferecer a outra face e não revidar. Devemos perdoar até setenta vezes sete o nosso ofensor, mas o que fazemos é aparentar uma tolerância ao fato, quando na verdade guardamos no coração todo o peso recebido, pensando que o tempo se incumbirá de dissipar aquele sentimento. O tempo passa, a vida muda, mas aquela lembrança está lá dentro, como uma brasa coberta de cinzas que, ao menor sinal de vento, começa a arder novamente.
Ninguém pode garantir que perdoar é fácil, pois obviamente depende da gravidade da ofensa ou da sua origem, mas também não se pode afirmar que é impossível. Tudo começa com uma decisão, e dependendo da gravidade da ofensa pode ser um
processo lento, mas gradativo. Não existem fórmulas ou padrões de perdão, pois caberá a cada um encontrar a melhor forma de lidar com a questão.
De qualquer forma, para funcionar, não pode ser apenas “da boca pra fora” e tem que ser concedido de forma incondicional, sem qualquer expectativa de compensação do ofensor, podendo ocorrer até mesmo sem o conhecimento de quem causou a mágoa. Não se trata simplesmente de uma recusa de vingança, mas um cancelamento literal da “dívida” que o ofensor teria com o ofendido.
Como não se trata de algo qualitativo, ele não pode ferir o orgulho próprio daquele que fere ou ofende, sem lhe impor condições humilhantes. O verdadeiro perdão é sincero, reconhecido por atitudes e não apenas por palavras.
De acordo com a psicoterapeuta Olga Tessari, com o perdão é possível se livrar da angústia causada pelas mágoas passadas. “Não esquecemos os fatos que nos feriram, mas podemos parar de sofrer por causa deles. A pessoa que realmente perdoa, para de se torturar pelo ocorrido e o considera apenas um capítulo da sua história.” Isto traz cura das memórias ruins do passado e leva embora todas as dores físicas e enfermidades na alma que, porventura, estejam sendo provocadas por estas mágoas abrigadas no coração.
Frederic Luskin, um famoso psicólogo estadunidense, aprendeu a partir de uma experiência própria e muito dolorosa, a ter que administrar uma grande mágoa e perdoar. A partir de então, desenvolveu um site onde compartilha nove passos que podem ajudar aquele que decide perdoar. Um destes passos está a instrução de que não devemos esperar de outras pessoas coisas que elas não querem nos dar. É preciso, segundo ele, reconhecer as expectativas descabidas que temos em relação ao nosso próprio comportamento e ao comportamento dos outros. Dessa forma, certamente estaremos trabalhando de forma preventiva, evitando aquilo que teremos que aprender a perdoar mais tarde.
E como o perdão pode fazer bem à saúde?
Pesquisas recentes mostram que perdoar fortalece o sistema imunológico. Portadores do vírus HIV, por exemplo, que perdoaram alguém, registraram um incremento nas células de defesa do organismo. Há uma série de estudos que associa a dificuldade de perdoar com as emoções, como: raiva, tristeza e reações fisiológicas, que incluem tensão muscular, suor e aumento da pressão arterial.
Por isso, o perdão tem a capacidade de reduzir esses efeitos negativos, que abrangem a ansiedade, a depressão e a ira. A redução da pressão arterial e a consequente prevenção de problemas de coração, também foram efeitos observados em pesquisas. Em outro estudo feito com pacientes cardíacos, os resultados mostraram que aqueles com propensão a perdoar, tinham menos ansiedade e depressão, além de apresentar menores níveis de colesterol.
Mas, o maior benefício de todos, que traz uma imensa paz de espírito, alívio pra alma e redução do estresse é a certeza de ter os próprios pecados perdoados. Jesus disse: “e quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas. Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, vos não perdoará as vossas ofensas”. (Marcos 11:25-26). Muitos de nós repetimos a oração do Pai Nosso sem nos darmos conta que a única forma de termos nossos pecados perdoados, é perdoando.
Uma frase do dramaturgo inglês William Shakespeare resume bem o que acontece com quem guarda ressentimentos: “Guardar uma mágoa é como tomar um copo de veneno e torcer para que o seu agressor morra”.
Agora é comigo e com você. Se tudo começa com uma decisão, porque não começamos agora a fazer uma autoanálise pra trazer à luz aquilo que possa estar nos incomodando a ponto de influenciar nossa saúde física?
Pensemos nisto!
Vivamos em paz e com verdadeira saúde física e emocional.