Uma antiga canção da banda cristã Petra dizia que “nós somos estrangeiros, nós somos aliens, nós não somos deste mundo”, isto é, um cidadão de outra dimensão vivendo neste planeta. O apóstolo Paulo, vivendo em um tempo em que a cidadania romana era muito valorizada e garantia status a quem a herdasse ou comprasse, já ensinava que somos concidadãos dos santos e que nossa cidadania está nos céus.
Em tempos de luta contra o preconceito e a intolerância, em meio a debates acalorados sobre o que seria uma opinião ou comportamento politicamente corretos, justiça ou injustiça, absolutos ou relativos, às vezes temos dificuldades em nos posicionar… e não é pra menos.
Poderíamos talvez começar a conversa por estabelecer um perfil do “cidadão do céu”. Bem, a Bíblia traça este perfil em um livro que muita gente acha lindo na superfície, mas que não mergulha pra encontrar os tesouros escondidos: o livro dos Salmos. Num destes famosos cânticos, uma pergunta é feita ao Senhor: Quem habitará no céu? A resposta é direta: “Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo, que de coração fala a verdade e não usa a língua para difamar, que nenhum mal faz ao seu semelhante e não lança calúnia contra o seu próximo, que rejeita quem merece desprezo, mas honra os que temem ao Senhor, que mantém a sua palavra, mesmo quando sai prejudicado, que não empresta o seu dinheiro visando lucro nem aceita suborno contra o inocente” (Salmos 15:2-5, NVI).
Olhando para esta resposta, percebemos que estes traços de perfil são desenvolvidos em nossa vida social e estão intimamente ligados à nossa relação com o próximo, mas antes disto, tem a ver com integridade, justiça e verdade. O problema é que, de uns tempos pra cá, deu-se para negociar e relativizar estes conceitos ou princípios, e penso que é exatamente neste ponto, que o título de “cidadão do céu” pode estar comprometido.
Se cremos que a Bíblia vem do céu, regra de fé e prática para todos os que creem, a sintonia da nossa mente com a mente do inspirador da Bíblia deve ser perfeita, não? A tarefa não nos é fácil. Aplicar estes versículos à nossa vida e submeter nossos pensamentos e atitudes a estes critérios, é realmente desafiador.
Como se não bastasse, uma carta do apóstolo Paulo aos Filipenses também traz vários filtros sobrepostos, aos quais também devemos submeter nossos pensamentos: verdade, honestidade, justiça, pureza, amabilidade, de boa fama, digno de louvor e cheio de virtude. Não seria este o verdadeiro acróstico do cidadão celestial? Pensar nas coisas que são do alto passa por aí. Muitos monges preferem se refugiar nas longínquas montanhas para se “santificarem” e fugirem das tentações. Jesus Cristo, porém, andava, se relacionava e comia com pecadores e não se contaminou. E nós, que compramos, vendemos, estudamos, nos casamos, convivemos, elegemos governantes, educamos filhos, influenciamos pessoas e falamos o tempo todo, como nos enquadrar neste perfil? Bem, sou tentado a dizer que este é o genuíno processo de conversão, de exercício de amor e misericórdia, de nos tornarmos, a cada dia, imitadores de Cristo, como Paulo ensinou, afinal, ainda que sejamos peregrinos na terra, não estamos aqui a passeio, mas viemos para trabalhar, com credibilidade, para que mais pessoas voltem conosco pra casa.