Um coração aquecido

imagem: envato

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Quando criança, eu tinha dois amigos inseparáveis: Esopo e Lobato. Não eram pets nem amigos imaginários, eram os contadores de estórias mesmo. Esopo veio primeiro, permeando as páginas de um grande livro salpicado de aquarelas de coelhos, tartarugas, lobos, florestas. Enquanto meus ávidos olhos corriam o texto, eu tentava adivinhar “a moral da história” sempre numa frase em negrito destacada nos rodapés.

Depois de Esopo vieram os Irmãos Grimm, os fascinantes contos de suspense e magia, poções, densas florestas, casas mal-assombradas. Claro, depois veio Júlio Verne. Monteiro Lobato chegou depois, para ficar. Na adolescência, me deslumbrei com Emily Brontë e a saga dramática de Heathcliff e Catherine, talvez motivado pelos sombrios textos da pré-adolescência, mas agora com o tempero do romance. Foi assim que o meu amor pelos livros só cresceu. Qual o fio condutor? As boas histórias, sempre com algo a dizer, a ensinar.

Hoje amo também as parábolas de Jesus, os livros de Jó, Ester…São textos que me remetem a um universo de significados e aprendizagem. Na igreja, sempre fui atento às biografias, testemunhos de milagres, histórias de superação pessoal por intermédio da fé.

Era neste ponto que eu quero chegar. Boas histórias, ficcionais ou reais, são um combustível para a alma, independentemente de serem poéticas, líricas ou dramáticas. Quando ouvidas e internalizadas, deixam o universo do subjetivo para ser objetivo em nós, como já ensinou Watchman Nee, quando falou da crucificação de Jesus.

A nossa fé precisa destes aquecimentos, pois é uma forma de confirmar, referendar, chancelar aquilo no que nossa vida está firmada: princípios. Eu já ilustrei muitos dos meus sermões com histórias assim. Vou compartilhar uma delas: não me pergunte a origem, a autoria, se verdade ou ficção. Estou igual ao Chicó de “O Auto da Compadecida”, do memorável Suassuna: “Só sei que foi assim…”.

Conta-se que o sul do Brasil, lá pelos rincões dos pampas, estava sendo assolado por uma seca medonha. Uma pequena congregação decidiu fazer uma vigília numa capela no meio da campina. A pequena multidão, enquanto caminhava, afirmava fervorosamente que até a manhã seguinte a chuva viria. Era início da noite. Poucas crianças. Lá pela madrugada afora, ouviram os pingos no telhado e logo veio a copiosa chuva. Brados de louvores se seguiram por minutos.  Passada a euforia, começaram a se perguntar: Como iremos voltar para casa? Ninguém estava devidamente paramentado. Apenas uma criança de nove anos se colocou junto à porta observando a chuva na densa noite, com um guarda-chuvas em punho. Moral da história: quem, no meio da multidão, teve fé?

Boas memórias e boas histórias aquecem o nosso coração no dia da angústia e nos ajudam a firmar os passos na Rocha. Alimente-se delas, seja autor de muitas delas, curta e compartilhe! Vivendo dias de trevas, nada como um rio de luz de esperança para afugentar a escuridão. Uma boa história às vezes funciona como uma harpa, como aquela que nas mãos ungidas de Davi, produzia  um som que “espantava” os demônios de Saul.

Aqueça o seu coração com uma boa história de fé. Depois, estará pronto para ser protagonista da história de alguém num dia triste. Conte as bênçãos!

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