Estive reparando meu neto de cinco meses por um tempo…tanta vida pela frente, tanto a aprender! O momento é de total dependência de alguém, mas logo chega o dia em que a personalidade aparece, o jeito de agir, de reagir e de fazer. Um tempo depois, vêm as opiniões, um modo de se posicionar no mundo das coisas. Ainda que seja devidamente ensinado e cresça num ambiente povoado de bons exemplos, muita coisa terá que internalizar, significar, compor. Meu pensamento me transportou para o terreno da gratidão.
Quanta gente adulta, instruída, bem posicionada no universo das ideias, das posses e dos títulos, religiosas ou não, sequer conseguem expressar, quanto mais demonstrar um sentimento de reconhecimento pelas dádivas, pelas oportunidades e conquistas ao longo da vida.
Ouvi dizer que a gratidão transforma o que temos em suficiente. Todavia, a insatisfação tem sido o motor de propulsão de muita gente, que insiste em se concentrar no que ainda não possui, o que muito contribui para as inevitáveis frustrações, quando não para a mesquinhez, o esnobismo e a vaidade.
Robert Emmons é um psicólogo e pesquisador no campo da personalidade, emoção e religião. Estudando sobre os efeitos da gratidão na vida das pessoas, numa amostragem com mais de 1000 pessoas, com idade entre 8 e 80 anos, concluiu que a gratidão traz uma série de benefícios físicos, psicológicos e sociais.
Quer uma lista? Sistemas imunológicos mais fortes, menor pressão sanguínea, emoções mais positivas, prazer e alegria de viver e otimismo. Além disso, a pessoa grata é mais prestativa, compassiva e generosa, com maior facilidade em perdoar. Como se já não bastasse esses benefícios, a gratidão, segundo Emmons, ainda bloqueia sentimentos negativos, como a inveja e o ressentimento, além de reduzir os episódios de depressão.
Pessoalmente, já notei que pessoas gratas aceitam melhor aquilo que não pode ser mudado. Quanta gente, no dia da adversidade, deixa escapar expressões de inconformismo infantil, autopiedade e até blasfêmias! Tudo bem, concordamos com tudo…mas como desenvolver um modelo mental que aprenda e exercite a gratidão?
Este é um caminho peculiar e particular, mas alguns traços estão presentes na personalidade das pessoas agradecidas que talvez nos indiquem alguns meios. A prática da generosidade talvez seja a principal delas, pois expressa desapego, prazer em servir. Transformar a compaixão em atitude misericordiosa no atendimento à necessidade de alguém, pode ajudar a remodelar uma mente egoísta.
Uma mãe me disse que quando seus filhos pequenos reclamavam de tudo, ela os levava ao hospital do câncer infantil. Segundo ela, colocá-los em contato com realidades de pessoas desfavorecidas os tornavam mais sensíveis aos problemas de outras crianças, e assim, eles se mostravam mais gratos pela vida que tinham. Radical, não? Por este ponto de vista, talvez pensar em qualquer coisa que sejamos ou tenhamos, e que a maioria das pessoas não sejam ou não possuam, principalmente saúde e oportunidades, nos ajude a começar a desenvolver um espírito agradecido, contente em qualquer situação.
Se a gratidão é o antídoto contra a murmuração, talvez quando reclamamos além da conta estamos demonstrando o quanto somos ingratos, não? Se nos colocarmos no lugar de um cego, um tetraplégico, um mendigo, um presidiário, um jovem paciente em estado terminal ou um desvalido de toda sorte na vida, não nos constranger a sermos mais agradecidos, talvez ainda tenhamos um coração de pedra, ao invés de um de carne.
Conte as bênçãos, valorize cada oportunidade extraída das dificuldades. Se vivemos num tempo estranho em que a imunidade física é ouro e ser grato aumenta a imunidade, o que estamos esperando pra aprender?