Uma das coisas mais marcantes que observei em minha única e curta incursão pela Ásia alguns anos atrás, foi a quase onipresença dos idosos na vida social ativa e produtiva. Eles estão nos balcões das farmácias, servindo nas casas de chá, nas bilheterias dos zoológicos, nos conselhos consultivos das grandes empresas, não raramente com um sorriso que afina ainda mais a linha de seus já repuxados olhos. No metrô, se algum desavisado ocupa o lugar destinado a eles, logo sua foto estará exposta no painel lateral do trem com os dizeres “Este cidadão não respeita os idosos”. Você poderia argumentar que isto se deve à cultura oriental que cultua os seus ancestrais e crê em reencarnações, mas eu prefiro aprender isto como respeito e valorização da sabedoria.
Existe, porém, algo que nunca devemos nos esquecer: um idoso já foi uma criança, influenciado por alguém, guiado pela vida até aprender a caminhar sozinho, com caráter e personalidade formados já na primeira infância. Honrar o idoso começa por ensinar uma criança, como a própria Bíblia diz no livro de Provérbios, para que quando for velho, não se desvie do caminho em que foi ensinado.
Você acha que velhos rancorosos, pervertidos, arrogantes e mesquinhos, aprenderam a ser assim quando envelheceram? Da mesma forma, idosos compassivos, sábios, humildes, resilientes e amáveis foram quebrantados apenas quando vieram os cabelos brancos? Definitivamente não. Estes estereótipos são uma construção contínua, um processo ao longo da vida, através das vivências e experiências, das várias interações e sinapses, mas, com certeza, foram os primeiros anos que definiram a plataforma emocional e psicológica que receberia toda a carga ao longo da jornada.
Quando somos pais, somos lidos o tempo todo pelos filhos que tendem a reproduzir ou referenciar nossos comportamentos. O caminho que eles devem andar lhes é ensinado muito mais pelo exemplo do que pelo discurso, concorda? Hoje em dia é ainda mais complicado, porque além da dualidade do bem e do mal, do certo e do errado, existe o relativismo desmedido.
Na tomada de decisão, quando o princípio não for claro, a base não for sólida e a referência não tiver identidade definida, fica mais difícil ensinar, formar, sustentar. Todavia, não há motivos para alarmismo e desespero. Existe muita gente boa disposta a ajudar, profissionais de primeira linha, literatura excelente, arte educativa, igrejas saudáveis, escolas bem estruturadas, enfim, pessoas coerentes e ferramentas colaborativas sempre prontas a serem parceiras no processo de condução destes pequenos.
Um idoso sábio é um excelente formador de opinião quando consegue se fazer ouvir, quando não se aliena do mundo moderno numa postura reacionária, mas esbanja bom senso, ponderação e prudência, valores tão raros no mundo de hoje.
O que vemos na sociedade é um quase completo desrespeito ao idoso, tanto na aplicação de políticas públicas, planos de saúde, ridicularização da imagem do velho. Basta ver a busca desenfreada pelo rejuvenescimento, um sintoma do nosso tempo. Mas, uma profecia para os últimos dias diz que os jovens teriam visões e os velhos teriam revelações, ambos pela ação do Espírito Santo derramado. Revelações aos velhos? Sim! Ninguém melhor para guiar um jovem pelas veredas pelas quais já passou, conduzir pelos picos e vales, apontar os caminhos, corrigir rumos. Pense na relevância do conselho e intervenção de um idoso sábio e instruído pelo Espírito Santo! Afinal, como o velho sábio Salomão já dizia, não há nada de novo debaixo do sol.
Portanto, os princípios eternos estão lá, firmes fundamentos, caminhos batidos, verdades reveladas. Honrar o idoso não é apenas cuidar dele, mas, sobretudo, aprender com ele o caminho em que se deve andar, pois a melhor forma de honrar alguém é dizer a esta pessoa: quero ser como você!