Nenhum cristão convicto duvida que Deus tenha criado a Terra com um propósito. Este fato, por si só, deveria acender uma luz na consciência daquele que crê, despertando-o a olhar a criação com olhos cuidadores, afinal, seria uma forma de agradar Àquele que, ao criar o jardim, delegou à sua criatura, o homem, à missão de guardá-lo.
Não me refiro àqueles que cultuam as coisas criadas, atribuindo divindades a árvores, espíritos a animais e energias a pedras. Neste caso, tais pessoas o fazem por idolatria, numa das muitas tentativas da criatura de se desobrigar da prestação de contas de suas vidas ao Criador, o que implicaria em responsabilidades e submissão à Sua vontade.
A Bíblia diz que o Senhor colocou o homem no jardim do Éden para o cultivar e guardar. Com a queda do homem, estas duas funções também foram maculadas e, assim o cuidado com o jardim de Deus ficou comprometido. Para ser bem direto, muitos cristãos pensam que não precisam se preocupar com a questão ambiental, porque Jesus vai voltar logo ou que seria uma causa perdida, afinal a natureza vai cada vez se degradar mais, porque a raça humana está cada dia mais depravada.
Outras pessoas, por desinformação ou conveniência mesmo, acham que cuidar da natureza é papo de ambientalista radical, que serve a interesses políticos ou conversa de esotéricos panteístas. Eu admito que não é fácil encontrar um meio termo, a não ser para os cientistas cristãos, que já se livraram dessas paixões panfletárias e às vezes oportunistas, e sabem que os recursos naturais renováveis estão em perigo, frente à ganância humana e o descompromisso com gerações futuras.
Vamos ser mais práticos: será que, em pequena escala, no ambiente que nos foi dado para “cuidar”, temos realmente feito a nossa parte? O que dizer do nosso desperdício de água, do destino que damos ao nosso lixo e da poluição visual e sonora que provocamos? Estará o fazendeiro cristão preocupado em cultivar o solo de modo sustentável, reduzindo ou eliminando o uso de pesticidas em suas lavouras? O que dizer daqueles que frequentam igrejas e maltratam animais? Como não se envergonhar daqueles que vertem lágrimas nos cultos, mas são insensíveis às demandas do próximo?
Somos jardineiros de Deus. Se compreendemos bem o sentido de mordomia cristã, deveríamos aplicá-lo também ao cuidado com a natureza. Daquilo que Deus designou, o ser humano tem lembrado de cultivar, mas se esquecendo de cuidar. A Bíblia referencia a natureza em inúmeras passagens, desde os salmos e cantares até as parábolas de Jesus. Árvores, animais, flores e rios pontilham-na de capa a capa, ora ilustrando, ora exaltando sua importância. Temos que assumir a responsabilidade que nos foi imputada, em primeiro lugar para com a vida cristã, mas também para com toda a criação. Precisamos enfraquecer o time dos exploradores e saqueadores da natureza, e engrossar a fileira dos equilibrados conscientes, que amam e preservam este patrimônio vital e fundamental a todos os seres viventes. Esta atitude glorifica o Criador. Não necessariamente como militantes ou xiitas ambientais, sobretudo como filhos de Deus designados como mordomos da sua excelente criação.
Sejamos nós cristãos, o exemplo de cuidadores do jardim, onde Ele mesmo nos plantou para sermos frutíferos!