Algumas frases que ouvimos ou lemos num dado momento da nossa vida, dependendo do contexto quando elas se nos apresentam, têm um impacto certeiro em nossas mentes e muitas vezes se tornam princípios norteadores de ações e decisões do presente e futuro.
Quando eu era adolescente no interior e fazia alguns serviços burocráticos para meu pai, me lembro de ler em um envelope de uma instituição bancária uma frase do tipo:
“Viva o dia de hoje como um milagre que jamais se repetirá”. Este pensamento sempre me ocorreu vida afora e muitas vezes me motivou ao “carpe diem”
Essa expressão foi repetida à exaustão no famoso filme “Sociedade dos poetas mortos”, como incitação a aproveitar o dia.
Outro pensamento que faz muito sentido pra mim é de que o passado é um lugar de visitação e não de moradia, o que, se devidamente compreendido e internalizado, talvez pudesse ajudar muita gente a avançar e não a retroceder.
Muita gente diz que o futuro sequer existe pois, quando chegar, será presente e que, em função disto, o que importa é o momento hoje, o que está acontecendo no tempo vigente. Isso não deixa de ser verdade, desde que não nos esqueçamos de que o que virá, está intimamente ligado ao que já foi e ao que é, como elos de uma corrente formada de causas e consequências.
Longe de querer divagar sobre afirmações que podem até soar chavões ou clichês, minha intenção é mesmo falar do presente como presente, dádiva, milagre! Temos sido tão expostos a tantos tipos de morte todos os dias que, continuar sobrevivendo, remando contra a maré e persistindo teimosamente em permanecer de cabeça erguida, saudável e justo, tem sido um desafio e tanto!
Vendo por outro lado, nunca tivemos tanta informação, tantas possibilidades de escolhas, tanta fertilidade de ideias e tantas oportunidades na vida que, cada dia que recebemos pra viver ou cada fatia de tempo que nos é dada, se torna realmente um presente, um fôlego a mais, uma maravilhosa sobrevida.
Pode parecer mórbido pensar no fim quando há tantos começos fervilhando à nossa volta, mas às vezes precisamos ser racionais. Quando lembramos que, pela nossa finitude e efemeridade, não temos sequer como prever quanto tempo ainda teremos, é prudente admitir que cada novo dia é um novo milagre, uma nova chance, uma nova oportunidade. Até aqui nada de novo, certo?
O que realmente me encanta nessa abstração sobre a vida, o tempo e os milagres é a nossa capacidade de nos reinventar, nos adaptar e, sobretudo, o efeito que a gratidão por este presente diário pode nos impulsionar para Deus, para o próximo e para a vida eterna.
Tudo faz sentido quando reconhecemos que, por mais projeção que tenhamos, seja fama, dinheiro e poder, estamos todos expostos, somos todos iguais e nada que façamos pode nos dar garantia nenhuma. Isso nos mostra não apenas nossa pequenez, mas nos aponta para a nossa dependência e interdependência de outrem, o que deve nos fazer mais humildes… e a humildade é base de todo crescimento.
Quando tudo de bom que recebemos da vida é considerado dádiva, graça, presente, nossas expectativas se desvanecem e com ela nossas angústias. Se o aqui e o agora são as únicas coisas que temos e nem isto depende de nós, isso precisa nos alertar para quem somos, sobretudo, precisa nos revelar quem Deus é e nos compelir a buscá-Lo com mais intensidade.
Um presente recebido, quando é esperado, é bom, mas quando nos surpreende naquilo que mais desejamos, é infinitamente melhor!
Feliz Natal! Que Deus te presenteie com muito mais tempo e que isto se traduza em louvor e glória a Ele, a fonte de toda vida, Senhor passado, presente e futuro!