Por favor, me empreste a sua identidade para conferência. Puxa, incrível como você se parece com fulano de tal, vocês são parentes? Não, nem conheço! Engraçado, você não é a primeira pessoa a dizer isso.
Bem, este é um diálogo corriqueiro, provavelmente você já tenha vivenciado algo assim. Não é difícil sermos associados a alguém com aparência semelhante e muitos até fazem desta comparação uma fonte de renda. Os sósias, os covers e os dublês de famosos podem confirmar o que digo. O número no documento é único, as impressões digitais, únicas. O nome e a configuração física podem até ser idênticos, porém trata-se de seres distintos.
Qual é a sua identidade? Diante desta pergunta não é difícil ouvir um “como assim?”, um silêncio de testa franzida ou uma mão no queixo e olhos olhando pro teto, sem falar no quase audível chilrear de grilos pela sala. Pergunta complicada de responder, não?
O ser humano é o único ser com a capacidade de refletir sobre si mesmo, ter consciência de quem realmente é. Não estou me referindo à personalidade, determinada por fatores biológicos, inclusive ambientais. Refiro-me à individualidade, à essência, aquilo que nos distingue uns dos outros, a nossa configuração. Até a conceituação da identidade pessoal é complexa, mas perfeitamente inteligível quando nos percebemos como seres absolutamente únicos no universo inteiro.
Impossível seria se perceber, sem entender a própria origem, a jornada da vida e o próprio destino após a morte. Quando o nosso diálogo interior está atrelado em princípios bíblicos e na crença inquestionável em Deus, nos identificamos com Ele por crer que somos a Sua imagem e semelhança. O problema é quando ultrapassamos este limite e agimos como se fôssemos o próprio Deus (às vezes de forma quase inconsciente) ou colocamos um outro ser humano em Seu lugar. Dessa loucura, vem o antropocentrismo, pai das vaidades e da idolatria.
Quando nos reconhecemos únicos e conscientes de nossa própria essência, fica mais fácil entendermos que não podemos julgar ninguém, apesar de lermos e interpretarmos as pessoas pelos seus atos. A percepção de nossa própria identidade nos ajuda a entender que jamais poderemos prestar contas uns dos outros. A questão do preconceito pode estar ligada ao desvio ético de enquadrar e rotular as pessoas de acordo com os nossos padrões, quando deveríamos reconhecer que são únicas, assim como gostamos de ser reconhecidos.
Nossa identidade não é nossa identificação, nossa opinião sobre nós mesmos, nem nossa capacidade de argumentação sobre a imagem que queremos passar de nós mesmos. Sabemos quem somos, ainda que fujamos deste enfrentamento de nossa essência pecaminosa. Nenhuma conversão acontece se esse exercício não for a tarefa de casa de cada um.
O conhecimento de nosso próprio eu adâmico, deve nos levar à contrição, à humildade e a uma vida cristocêntrica. Deus se autointitulou o “Eu Sou”. Jesus Cristo fez o mesmo quando disse quem era: caminho, verdade, vida, pão dos céus, fonte de água viva!
Temos que nos conhecer e confrontar quem realmente somos. O Espírito Santo, uma vez que lhe é dada a oportunidade, ilumina a nossa consciência, revela a nossa essência e nos convence de tudo que precisamos saber sobre nós mesmos.
Esta é a única forma de reconhecer que Deus, que também é único, espera que sigamos pelo único caminho, para que nesta única vida que temos, não vivamos mais para nós mesmos, mas para aquele que restaurou a nossa identidade para Sua própria glória!