Dobrando os joelhos pela família

“Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”. (Efésios 3:14)

Sou fruto de um relacionamento que não deu certo. Meus pais se separaram quando eu tinha cinco anos de idade. Somos cinco irmãos, sendo que o mais velho foi levado pelo pai e cresceu longe de nós. Ele veio morar conosco aos dezoito anos, pois desejava recomeçar a vida em família. Mesmo estando muito carente, meu irmão não conseguiu se moldar ao estilo de vida que vivíamos, uma vez que o seu caráter já estava formado. Atualmente, ele mora em outro Estado e fica um bom tempo sem se comunicar conosco.

Morávamos de favor com a minha avó, éramos amados por alguns, mas rejeitados por outros. Quando meninos, por insistência da minha mãe, íamos à igreja e fomos evangelizados pela força. Em casa crescermos em um ambiente muito pesado, carregado de palavras e atitudes pejorativas. Hoje toda a minha família é convertida ao Evangelho.

Em compensação, tínhamos uma mãe muito dedicada, que trabalhava como doméstica para colocar o alimento na mesa. Só nos víamos aos finais de semana. Nos demais dias ficávamos à mercê da sorte. Sobrevivência: esse era o clamor da minha mãe. Ela pedia que Deus lhe desse a oportunidade de ver os filhos crescidos.

Nesse contexto familiar, cresci com uma mãe que via apenas no sábado e domingo e um pai que não tive contato. Foi assim a minha infância, sem amor e sem colo. Aprendi a me defender na escola, na rua, em casa, nas brincadeiras e em todos os lugares.

Comecei a trabalhar aos oito anos limpando os lotes dos vizinhos e dos parentes. Tinha em mente que deveria ajudar a amenizar o sofrimento da minha família. Logo chegou a adolescência e entrei em colapso emocional: revolta, tristeza e solidão, ingressei no mundo dos introspectivos. Aos quatorze anos iniciei no vício. Fumava e bebia escondido, experimentei a maconha e o álcool, e com o uso frequente, me tornei dependente.

Não há nenhum dos meus irmãos que não tenha uma cicatriz, um ponto sensível na alma, uma revolta involuntária, uma descompensação emotiva ou uma ira descontrolada. Todos nós tivemos uma impressão errada da vida, pois a matriz foi adulterada. Fomos marcados por um pai ausente, que também veio de um berço marcado pela dor.

Você que domina ou que analisa a psique humana, talvez discorde que todo o sucesso e toda amargura está no meio familiar. Para mim, a ausência paterna na vida de um filho é o pior desastre que estamos vivendo neste século. A referência masculina na família transmite equilíbrio emocional, sexual, financeiro e em todas as áreas da nossa vida.

Acredito também que há muitos pais que estão dentro de casa, são provedores, estão presentes em algumas atividades familiares, mas a sua representatividade ainda é insuficiente, pois têm uma personalidade fraca e isso tem o mesmo efeito de um pai ausente. Talvez esse erro dos pais seja porque eles também tiveram deformidades paternas, como: excesso ou falta de amor, de dinheiro, de sim e tantas outras coisas, mas saiba que Deus pode corrigir e preencher esse vazio.

Voltando à minha história. Afastei-me completamente de Deus, aprofundei no submundo do vício. Por várias vezes cheguei em casa de madrugada e minha mãe estava de joelhos aos pés da minha cama.  Ela pedia para os jovens da igreja irem em minha casa para ajoelhar e clamar pela minha vida.

Hoje, tenho uma família, sou pai de três filhos e pastor. Por incrível que pareça, sofro a tentação como qualquer outro ser humano, e por várias vezes tento fazer as atividades familiares e pastorais sem dobrar os joelhos. Resolver os problemas sem dobrar os joelhos é o mesmo que jogar pedra na água e ficar aguardando que no final de alguns saltos a pedra permaneça sobre a água.

Ao ler a Bíblia, a Palavra vai para o intelecto, que dá início à mudança no interior, mas quando me ponho de joelhos, ela entra no processo de moldar o caráter deformado.  As mudanças internas na matriz da alma são possíveis.

Existem muitos motivos positivos para que você se ponha de joelhos. Olhe para o seu casamento, Deus foi bom com você. Entre no quarto de seus filhos e observe o sono deles, como dormem despreocupados. Você é privilegiado, pois tem em suas mãos a oportunidade de usufruir e mudar a história de sua família.

Talvez a sua história tenha traços bem diferentes da minha, mas é provável que a sua vida também tenha traços de fracasso, tristeza, medo, adultério, aborto, suicídio, vícios e outras coisas. Então, você também tem motivos para se colocar de joelhos e abençoar a sua geração para que ela seja diferente. Saiba que a sua posteridade depende dos teus joelhos.

Sou fruto de uma mãe que não desistiu, uma mulher que se colocou constantemente na presença de Deus para abençoar os seus filhos.

Esse é o caminho para formar uma geração forte.

Reflita: qual é a causa que lhe põe de joelhos?

Pr. Westerley Guedes

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