Glúten: podemos chamá-lo de vilão?

Quem não acorda pela manhã e pensa logo naquele pãozinho francês cheiroso saindo do forno? Ou mesmo naquela rosquinha da vovó que te leva ao seu tempo de menino com tantas lembranças afetivas e gostosas? Mas, o pão nosso de cada dia tem ficado cada vez mais na vitrine e nos ataques de blogueiros, nutrólogos e nutricionistas, pois para muitos, trata-se de um vilão para a nossa saúde. Isso acontece porque ele carrega um elemento muito popular chamado glúten. No entanto, nesse artigo quero falar um pouco sobre esse elemento da nossa nutrição, esclarecendo se estamos ou não diante de um vilão para a nossa saúde.

Na verdade, o glúten é encontrado não somente no pão, mas também em bolachas, biscoitos, bolos, massas, alimentos processados, temperos e bebidas alcoólicas.

Como nutrólogo, eu não creio que o glúten seja um vilão, a não ser em algumas situações como em diagnosticados com a doença celíaca, onde o paciente terá problemas com a ingestão desses alimentos, pois trata-se de uma situação patológica, e não do cotidiano. No dia-a-dia, tenho visto uma mistura de informações desencontradas, midiáticas e sem fundamento. Volto às origens da nutrição básica de que o que faz realmente mal é o desequilíbrio e o exagero.

Algumas pessoas acham que alimentos sem glúten são mais saudáveis, mas isso depende, pois as evidências mostram que provavelmente não foi a retirada do glúten que contribuiu, mas sim, a natureza do equilíbrio que existe por trás de uma alimentação restrita ou equilibrada.

Você não perdeu peso porque parou de comer glúten, mas porque passou a comer menos e cortou uma fonte energética importante que é a farinha, onde está o glúten. Algumas pessoas param de comer pizza todo dia, por exemplo, e afirmam que perderam peso porque pararam de comer glúten! Pois bem, essa pessoa achou o culpado errado, pois quem o engordava não era o glúten, mas o exagero. Percebe como sempre queremos nos iludir e achar culpados?

Agora, é interessante destacar que existem pessoas que são mais intolerantes ao glúten, provavelmente 6 de cada 100 pessoas não toleram bem este produto. Por esse motivo, eles sentirão desconforto e gases, visto que o trânsito intestinal torna-se temperamental. Isso significa que algumas pessoas terão que ter um controle maior do que comem, como se alimentam e a hora para consumo de alimentos que tenham glúten.

Como mencionado anteriormente, há também o grupo de pessoas com a doença celíaca, uma patologia autoimune, que faz com que seja proibida a ingestão desses alimentos. Os fatores genéticos são importantes nesta patologia que, segundo dados, acomete mais mulheres do que homens.

Mas, a verdade é que toda vez que alguém chega no consultório com a intenção de cortar o glúten, ela está de fato pensando em emagrecimento. Mas, acredite: isso é um mito! Você irá emagrecer não porque parou de comer glúten, mas porque parou de comer farinha, bolos, pães, biscoitos e lambiscar fontes ricas em energia fora de hora. Seu nível glicêmico diminuiu, sua insulina diminuiu, seu pâncreas agradeceu, mas não coloque a culpa no glúten. Foi a melhora dos seus hábitos, simples assim.

Estudos mostram que ter uma dieta livre de glúten não a torna melhor, mas facilita a sua digestão, já que alimentos com glúten apresentam em sua estrutura a gliadina e a glutenina, duas proteínas de difícil digestão e absorção.

Portanto, não pense em ficar sem o glúten, mas em ponderar e escolher bem a hora de se nutrir. Por isso é importante saber se é fome ou ansiedade, usar alimentos dentro de um padrão de equilíbrio e fazer da alimentação uma fonte de saúde, onde o grande vilão não será exatamente o alimento que a natureza te oferece, mas o quanto é consumido, a forma e a combinação do prato.

Alimentação é formada pelo   elo entre a nutrição e a emoção, portanto se você sente saudades do tempo em que o pão de queijo da vovó estava na mesa, faça desse tempo, um tempo de alegria para a sua alma, mas lembre-se, tudo com moderação!

Dr. Paulo Marcelo

Médico Nutrólogo

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