Quando a dona de casa coloca o tempero na comida, os sabores aparecem. O sal não pode roubar a cena, senão tudo se perde. Quando uma luz se acende, a escuridão à sua volta é dissipada instantaneamente. Quando uma ofensa é proferida, o sorriso da pessoa ofendida também se esvai e uma nuvem de tristeza repousa sobre seu coração. Todavia, quando uma palavra de ânimo chega é como se abrissem as cortinas da alma, como se os raios de sol iluminassem uma atmosfera sombria, como se uma brisa morna e envolvente aquecesse um coração resfriado pela angústia.
Quando um sopro vigoroso remove as cinzas sobre a brasa ainda quente, a chama renasce. Somos influenciadores e influenciados o tempo inteiro. Quando nascemos, impactamos o meio ambiente. Quando somos devolvidos ao pó da terra, o mesmo acontece. Quando tomamos consciência de que nossas palavras e principalmente nossas atitudes não são neutras no âmbito da convivência em sociedade e que também não estamos imunes à influência dos outros, passamos a sentir a necessidade de nos policiar quanto ao que vemos ou ouvimos, quanto a nos expressar ou nos silenciar, avançar ou retroceder, nos expor ou nos conter.
O curioso é que hoje, no atual cenário das exposições virtuais, são chamados ou autodenominados “influenciadores” todos aqueles que são seguidos ou vistos por uma imensa massa afoita por todo tipo de conteúdo, de frivolidades a estilo de vida. E quanto aos influenciados?
O que impulsiona estes milhares de pessoas a buscar referências em celebridades e subcelebridades e, em muitos casos, a depender destas “influências” para seguir adiante? O que move um ser humano a se espelhar tanto em outra pessoa, a ponto de permitir suprimir a sua própria identidade para viver, ainda que ilusoriamente, a vida do outro?
Obviamente muitos ditos influenciadores usam sua visibilidade para promover o bem comum, a dignidade humana, a quebra de preconceitos e fobias, mas esta não tem sido a regra. Sempre reflito nas demandas das pessoas ávidas pela projeção no outro e me pergunto sobre as lacunas em suas vidas, o que as move sempre na direção de outrem para beber de suas fontes, reproduzir suas “verdades”, replicar suas filosofias de vida, úteis ou fúteis.
O que incomoda é essa dinâmica de gado, de “maria-vai-com-as-outras”, de vacas de presépio. Falta bom senso, falta originalidade, falta autenticidade, falta conteúdo. Todo mundo, em dado momento, se comporta como influenciador ou influenciado. Tudo tem seu lado positivo. O problema está nas escolhas, nas tomadas de decisão, na leitura que cada um faz de si próprio e na supervalorização do outro.
Pensando em quem buscar influência, me lembro do personagem bíblico Jó, que em suas abstrações, disse certa feita que fez uma aliança com seus olhos para não pecar. Por que não nós? Não disse Jesus que se os nossos olhos forem bons, todo o nosso corpo será luminoso? Quanto ao momento em que passamos de influenciados a influenciadores, me pergunto: se sou árvore, que tipos de frutos as pessoas querem (e precisam) achar em mim quando estiverem famintas?
Nenhum nome influenciou mais a humanidade do que Jesus Cristo, imitado pelo apóstolo Paulo, o qual nos convida a sermos seus imitadores. Nenhuma escritura influenciou mais a humanidade do que a Bíblia Sagrada. A reflexão vai longe. Não nos deixemos influenciar pelo mal. Sejamos elos da corrente do bem. Se ninguém pode oferecer o que não tem, é hora de refletirmos sobre quem somos, em quem nos espelhamos e como podemos impactar positivamente a nossa geração.