O cristão e a depressão

O mês de setembro é marcado pelas ações de conscientização promovidas pela campanha Setembro Amarelo, que visa incentivar discussões em torno de temáticas como a depressão e o suicídio. Segundo pesquisas, houve um aumento de 42% no número de diagnosticados com depressão entre o período de pré-pandemia e o início de 2022. Os transtornos mentais chegam aos mais diferentes tipos de ambiente, classes sociais e faixa etárias. Nessa edição, convidamos a psicóloga Dielly Parreira, que destaca a importância de assuntos ligados aos transtornos mentais serem reconhecidos e acolhidos no meio cristão. Confira a entrevista na íntegra:

  • Qual o principal equívoco cometido pelos cristãos quando o assunto é a depressão e outros transtornos psicológicos?

O principal equívoco do cristão é não compreender que a depressão é uma doença e acreditar que por ser cristão, está imune. Todas as pessoas, cristãs ou não, estão sujeitas às doenças físicas (câncer, gastrite, pressão arterial), quanto às emocionais (depressão, ansiedade, pânico). Portanto, não há relação de causalidade entre a doença e o pecado, muito menos com a falta de Deus.

  • Por que não podemos enxergar a depressão como pecado ou como algo que demonstra a ausência de fé?

A depressão é uma doença caracterizada pela alteração de neurotransmissores no cérebro, o que produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como os distúrbios do sono e do apetite. Temos exemplos na Bíblia de pessoas que possivelmente enfrentaram grande depressão e ideias suicidas: Noemi (Rute 1:20-21, Rute 1:20-21), Elias, Jeremias (Jeremias 20:18) e Paulo (2 Coríntios 4:8-9).

  • Quais tipos de comentários e comportamentos adotados pelas pessoas podem desmotivar outras a buscarem por ajuda profissional?

Exemplos de comportamentos comuns que desmotivam uma pessoa a buscar ajuda profissional são: falta de apoio familiar; ignorar o comportamento deprimido da pessoa; achar que é frescura; dizer que psiquiatra e/ou psicólogo são coisas de louco; relatar que depressão é falta de Deus e/ou pecado; dizer que só Deus pode curar. Pare e reflita: ao ser diagnosticado com uma doença, você irá buscar por tratamento ao mesmo tempo que busca e crê em Deus, certo? Com a depressão não é diferente.

  • Como podemos entender de forma mais clara os limites entre tristeza e depressão?

Tristeza é mais um sentimento de afeto que sentimos diante de acontecimentos difíceis e desagradáveis, mas que são inerentes à vida de todas as pessoas — como a morte de um ente querido, a perda de emprego, os desencontros amorosos, desentendimentos familiares, dificuldades econômicas, etc. Por outro lado, na depressão a tristeza não dá tréguas. Temos uma tristeza que não melhora, um vazio que persiste. Sentimos falta de vontade de fazer coisas que antes nos davam prazer.

  • De que maneiras a igreja, os ministérios e a própria família podem demonstrar ajuda e apoio às pessoas diagnosticadas com o transtorno depressivo?

Pessoas com depressão nem sempre conseguem expressar toda sua dor. Portanto, mesmo que você tente conversar, muitas vezes não estará pronto para falar sobre o problema. Nesses casos, mostre-se apenas presente, expresse o quanto você se importa com ela e o quanto está disposto a ajudá-la. Não tente forçá-la a falar, apenas demonstre que está presente e que no momento que sentir necessidade, ela pode contar com você. Caso a pessoa consiga conversar e expressar o que sente, escute-o e não faça julgamentos. Deixe-o falar, chorar e colocar para fora suas angústias. Apenas demonstre empatia e interesse em ouvi-lo. Pode parecer um gesto simples, mas acredite, pode ajudar e muito a pessoa a se sentir acolhida e compreendida em meio a um momento difícil.

  • Qual é a relevância de temas extremos como o suicídio serem discutidos no meio cristão?

O suicídio é um assunto que não pode passar despercebido pela Igreja. Embora receba pouco destaque nos noticiários devido às orientações vindas do Código de Ética do Jornalismo, a cada 40 segundos, uma pessoa tira a própria vida em todo o mundo, segundo dados da OMS. A Igreja precisa acolher e dialogar para evitar possíveis casos de suicídio. É preciso observar o comportamento, chamar para conversar, ouvir o que a pessoa tem a dizer e destacar a importância dela na vida das pessoas ao seu redor. Além disso, não julgue, mas aponte possíveis soluções! Ore com e pela pessoa e sem dúvidas, encaminhe para um profissional da saúde.

Jéssica Lima

Formada em Jornalismo, atua como revisora editorial, produtora de conteúdo para redes sociais e atua como jornalista na equipe editorial da Revista Renascer.

Você também vai gostar de ver

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
0
Would love your thoughts, please comment.x
()
x