Como desfrutar a vida fora do consumismo?

Associar gastos e compras a cada final de ano, parece ser uma ideia já bem social e culturalmente incrustada em nossas mentes, mesmo que isso traga logo a frente as consequências negativas das preocupações com o endividamento e a falta de condições para honrar os compromissos financeiros assumidos.

Começamos assim mais um ano, da forma como terminamos o outro, ou seja, cheio de coisas que muitas vezes não usamos e não precisamos, e por outro lado, com os bolsos vazios. Por que então agimos assim em sociedade? Creio que a primeira coisa para entender este comportamento é compreender a diferença entre o consumo e o consumismo.

Desde os primórdios da civilização, o consumo está relacionado com a necessidade, à sobrevivência, ao indispensável para a manutenção da vida e o sentir-se bem. Precisamos de alimento, de um lugar para morar e roupa para vestir. Por outro lado, o consumismo extrapola essa necessidade, fazendo com que a pessoa adquira algo que não precisa ou não necessita, pelo menos de imediato, como alimentos e roupas em excesso, por exemplo.

A verdade é que vivemos em uma sociedade já caracterizada pelo hiperconsumismo, como constatou uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), realizada em todas as capitais do país no ano de 2018, apontando que apenas 31% dos entrevistados pratica o consumo consciente, ou seja consomem somente o necessário.

Mas, porque nos comportamos assim? Há fatores psicológicos bastante fortes envolvidos nisso, e um deles é que em sociedade, temos a necessidade de pertencer, de nos identificarmos com o grupo no qual estamos inseridos, e uma maneira de fazer isso de forma evidente é consumindo, comprando o que todos compram.

Nisso, o mercado dita as regras: se todos compram determinado produto, também devo comprar, vinculando assim o sentimento de felicidade ao ato de comprar. Dessa forma, trocamos a nossa identidade de ser pelo ter, e pior, parecer que temos, pois, a roupa que vestimos, o carro e a casa que estão conosco, na verdade estão no poder de instituições financeiras que nos cobram longas parcelas para usarmos estes produtos.

A questão é que o preço a se pagar por isso é muito grande, e não somente material, mas principalmente às custas de um adoecimento emocional, estresse, ansiedade, depressão por querer um status impossível de ser alcançado, podendo chegar a um comportamento patológico de compulsão, chamado nesse caso de oneomania, que é o impulso exacerbado, doentio, de comprar coisas sem que se necessite.

Mas, a pergunta a ser respondida aqui é: podemos desfrutar da vida sem o consumismo? A resposta é sim! Tanto é que já existem movimentos bastante engajados nessa proposta, o chamado minimalismo é um deles, que propõe não deixar de viver bem, mas consumir pouco e de forma consciente, resgatando valores e momentos prazerosos com a família, amigos e conosco mesmo. Apesar de ser um assunto bem amplo, gostaria de expor dois pontos para que você possa começar esta mudança.

  • Ao consumir, crie um hábito crítico de refletir:

Necessito ou apenas quero? Tenho condições de pagar? Se eu passar no cartão de crédito, terei como honrar este compromisso? Eu realmente usarei este produto? (Faça isso antes de sair de casa, pois dependendo da resposta, você talvez nem tire o carro da garagem, o que já economiza o combustível).

Voltando aos fatores psicológicos, nunca faça compras sem antes se alimentar, ou não estiver se sentindo emocionalmente bem, principalmente se estiver irritado. Nesses casos, a tendência é que você acabe comprando tudo que estiver à sua frente, na tentativa de satisfazer aquilo que está somente dentro de você. E apesar de cada vez mais utilizarmos o dinheiro virtual, tente comprar em dinheiro, pois ver o dinheiro reforça a ideia de seu valor e bloqueia o impulso de gastar a mais. Fazendo isso, você viverá menos sobre a pressão do endividamento, e isso é maravilhoso!

  • Inicie uma mudança no ambiente em que vive:

Organize as coisas por categorias de itens que você usa e necessita. Por exemplo: roupas, escritório, alimentos, material de limpeza. Verifique então o que você tem em sua casa que não está nesta lista e descarte, jogando fora ou doando para quem precisa. Creio que com essa atitude, com certeza você encontrará muita coisa em excesso. Com isso você ganhará mais espaço em sua casa e mais tempo que, ao contrário, você gastaria arrumando e organizando coisas desnecessárias. Assim, utilize o tempo ganho para momentos de bem-estar, lazer e a companhia daqueles que você ama.

Talvez seja difícil no início, mas quando começar e sentir os benefícios da mudança, isso o motivará a continuar. Lembre-se que a mudança faz parte da vida, e mudar para melhor não tem preço!

Dr. Leonardo Gonçalves Hayne

Psicólogo clínico, especializado em Gestão estratégica de Pessoas e Neuropsicopedagogia, professor de graduação e pós-graduação nas áreas de psicologia e neurociência.

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