Desacelere

Tenho o hábito de ao chegar em casa a noite, depois de um dia corrido de muitas atividades físicas, mentais e deslocamentos distantes em um trânsito urbano caótico, logo após jantar, me sentar em uma cadeira na varanda da minha casa, pôr os pés apoiados em outra cadeira e respirar fundo tentando acalmar meu corpo e minha mente e desacelerar meus pensamentos.

Observo o céu estrelado, a lua, as nuvens que se formam e me permito apenas contemplar e sentir a emoção daquele pequeno e simples momento, e agradeço a Deus por me permitir parar e sentir este instante de tranquilidade.

Quase o tempo todo falamos e escutamos frases do tipo: “Como o tempo voa”, “como o tempo passou rápido”. A sensação é de que o tempo realmente parece se encurtar e que, de alguma forma, uma força poderosa fizesse com que todos os relógios do mundo funcionassem de forma mais rápida levando consigo os dias de intensos afazeres.

A verdade é que o excesso de informações nos obriga quase que de imediato, em nossa mente, a tecer críticas e conclusões sobre assuntos que em maior parte não são de relevância para acrescentar algo positivo à nossa vida. Acabamos por cirandar entre vários temas ao buscar uma informação para resolvermos determinado assunto que realmente necessitamos.

Com essas experiências, nossa mente se condiciona a acelerar para lidar com mais informações, muitas delas desnecessárias naquele momento e não é por acaso que este assunto é tratado nos dias atuais como uma síndrome que tem causado graves problemas à boa qualidade de vida física e mental das pessoas.

O psiquiatra, pesquisador e escritor Augusto Cury a define como Síndrome do Pensamento Acelerado, e seus efeitos podem ser a perda geral da capacidade de pensar, de reter informações e, até mesmo, de elaborar tarefas; sofrimento por antecipação; dificuldade em lidar com pessoas mais lentas; déficit de atenção e memória; dor de cabeça; dor muscular; nó na garganta; fadiga excessiva e distúrbio do sono.

É por esse motivo que precisamos urgentemente desacelerar. É necessário nos perguntar onde deixamos nossa tranquilidade e por que nos cobramos tanto em fazer cada vez mais. Em meio às agitações e às turbulências da vida moderna:

  • Busque o contato com suas emoções e sentimentos, pois as informações sem emoção não têm sentido.
  • Em meio a complexidade, busque observar um evento simples, seja na natureza, no cotidiano, nas relações (flores de um jardim, um sorriso de rosto de uma criança). Entenda que um evento maior é composto de eventos simples.
  • Resista ao medo de parar um pouco aonde quer que esteja. Parar não é desistir, mas sim estrategicamente readquirir forças para continuar.
  • Tenha mais contato com as pessoas, abrace e se relacione mais. Somos seres sociais e necessitamos do contato pessoal e não digital.
  • Cuidado: não se torne uma máquina, seja humano, reconheça seus limites para ser capaz de transpô-los no futuro.

E então, ao final desse ano de 2019, sente-se numa cadeira, respire fundo e ao contemplar a beleza da vida, ao desacelerar,  agradeça a Deus pela missão comprida e lembre-se: “lançando sobre Deus toda vossa ansiedade, por que Ele tem cuidado de voz”. (I Pedro 5:7).

Coluna Artigo

Dr. Leonardo Gonçalves Hayne

Psicólogo clínico, especializado em Gestão estratégica de Pessoas e Neuropsicopedagogia, professor de graduação e pós-graduação nas áreas de psicologia e neurociência.

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