Do cativeiro ao ministério

Que amor é esse? A maioria de vocês conhece a minha história. Meu caso repercutiu em rede nacional no ano de 2008. Algo aconteceu na minha vida, e se não fosse o amor de Deus, eu não estaria aqui. Sai do cativeiro e encontrei o meu ministério.

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu seu filho unigênito, para que todo aquele que Nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna”. (João 3:16)

Tudo começou com a separação dos meus pais, quando eu tinha menos de 7 anos. Com o divórcio, eu e meus irmãos ficamos “perdidos” e divididos, pois cada um foi morar em uma casa diferente. Para ficar um pouquinho com os meus pais, todos os dias nós dormíamos na casa de um. Aos 9 anos, eu fui para a casa da minha mãe definitivamente. Morávamos em um barracão de dois cômodos e tínhamos muita dificuldade financeira.

Certo dia, conhecemos uma mulher: empresária, casada, mãe de três filhos homens e bem-sucedida. Essa mulher tinha tudo, menos uma filha mulher, que era o sonho dela. Foi através da minha tia que nós a conhecemos, e passamos a ter uma amizade. Um dia ela pediu para minha mãe para que eu fosse morar com ela e, pensando no melhor para mim (estudo e oportunidades), minha mãe permitiu. Então eu me mudei.

No começo eu tive a vida que ela realmente prometeu. Fui tratada como filha. Mas, com o passar do tempo, o tratamento mudou. No lugar de filha, eu virei escrava. Trabalhava dia e noite limpando parte da casa, e quando eu terminava, ela passava barro para que eu tivesse que limpar novamente. Essa mulher, me manteve em cárcere privado e fazia barbaridades comigo, com uma sequência de torturas que nem sei mensurar. No entanto, após todo o martírio, ela fazia algo que mudou a minha vida: me obrigava a ler a Palavra de Deus! Todos os dias eu era obrigada a ler a Bíblia e foi exatamente por isso que eu fui salva! A história de Jó me enchia de esperanças.

No dia 15 de março, essa mulher me acorrentou nas escadas um pouco antes das 8:00 horas da manhã. Ela me colocou com as mãos erguidas, acorrentadas e trancadas com cadeados. Na minha boca tinha um pano enrolado com pimenta e um esparadrapo para deixá-la tampada. Ela me deixou assim até eu dormir em pé, pendurada. Acordei às 10:22 da manhã, e naquele momento decidi fazer uma oração. Se Deus me escutaria, eu não sabia, mas eu resolvi fazer. Como eu estava amordaçada, não conseguiria falar, então fiz uma oração em pensamento. “Papai do céu, por que eu estou nesse lugar? Por que eu estou aqui? Deus, eu tenho meu pai, minha mãe, meus irmãos… por que eu sofro tanto, Senhor? Deus, se o Senhor existe mesmo, me tira daqui, se não, eu prefiro morrer. Eu não consigo mais sofrer. Se o Senhor existe, me tira desse lugar”.

Depois que fiz essa oração, dormi novamente, parecia um sono profundo de horas, mas na verdade, só tinha passado 3 minutos. Acordei às 10:25 da manhã, e escutei alguém chamando. Uma mulher entrou na casa onde eu estava e logo me viu amordaçada, acorrentada e pendurada na escada. Ela gritou: “Meu Deus! Tem uma menina presa aqui! ”. Quando eu olhei para o lado, vi que nas mãos dela tinha um papel escrito: Polícia Civil.

Assim que eles tiraram os panos da minha boca, eu os mandei embora, pois aquela empresária havia falado que o dia que eu a denunciasse, ela mataria meu pai, minha mãe, meus irmãos e, por último, a mim. A policial pediu para me acalmar, e então falou: “Fique calma, foi Deus que nos mandou aqui! ” Naquele momento eu comecei a gritar “Deus existe! ” Três minutos após a minha oração, o Senhor escutou o meu clamor. E a policial concordava dizendo: “Sim, Ele nos mandou aqui para te salvar. Você não vai mais sofrer! ”

Aquela policial me tirou das escadas e me abraçou, e ali eu senti um amor que eu não consigo explicar. Durante aquele abraço ela me disse “Filha, eu te amo! ”. Nem conhecia aquela mulher, mas hoje eu entendo que era o Senhor falando através da boca dela.

Ela continuou abraçada comigo e me perguntou o que acontecia comigo ali, e eu comecei a contar: ela me afogava no tanque, fazia levar choque, todos os meus dedos eram esmagados em uma porta de madeira, minha língua era apertada com alicate, era puxada, cortada com tesoura, passava pimenta nos meus olhos, me deixava presa, abusava de mim sexualmente, me dava pauladas na cabeça, no estômago, me obrigava a comer barata, fezes de cachorro, urina de cachorro e até a minha própria urina, me deixou sem tomar banho, sem escovar os dentes, sem comer (precisei comer a ração do cachorro para não morrer de fome), dormia no chão frio, me queimava com ferro de passar roupa e com colher esquentada no fogão, me enforcava com uma corda, batia a minha cabeça na parede e muito mais.

Morei dois anos com aquela mulher, e durante um ano e meio sofri muito. Mas chegou o dia que o Senhor me libertou e acabou com o meu sofrimento. Fui então morar em um abrigo. Certo dia, recebi uma carta de uma pessoa com uma música (até então não sabia que era uma música) “Aos olhos do Pai”. Achei linda a letra e fui até a coordenadora do abrigo e falei que o meu sonho era conhecer a cantora Ana Paula Valadão.

No mesmo final de semana, coincidentemente, a cantora Ana Paula Valadão esteve em Goiânia. Um jovem viu uma entrevista minha no jornal e deu para a cantora ler. Fui então conhecê-la. Ela me sentou no colo e cantou aquela canção para mim. Nesse dia eu também conheci a pastora Ezenete. Eu a abracei e a perguntei: “Tia, você me ama? ”. Ela me olhou assustada com a pergunta e respondeu “Eu estou te conhecendo agora, mas o Deus que te criou, Ele te ama, e por isso eu posso te amar”. Ela foi embora, mas Deus falou para ela depois: “Filha, não abra mão da Lucélia”. Foi então que a pastora Ezenete pediu ao juiz para eu passar 15 dias na casa dela em Belo Horizonte. Nos dias que estava lá, teve uma linda festa da filha dela de 8 anos e eu fiquei encantada. Eu disse a ela que o meu sonho era ter uma festa igual àquela. Ela me respondeu que se o juiz autorizasse eu ir para Belo Horizonte com ela, eu ganharia uma festa de aniversário lá, mas se ele não autorizasse, mesmo assim, ela faria uma festa de aniversário no abrigo para mim.

No dia 1 de novembro (meu aniversário), a pastora Ezenete chegou no abrigo cantando parabéns para mim e pediu para arrumar minhas coisas, pois a minha festa de verdade seria lá em Belo Horizonte, e na casa da Ana Paula Valadão! Depois de uma semana na casa dela, comecei a chamá-la de mãe e o marido dela de pai. Deus colocou esse amor em nós. Eles ganharam a minha guarda na justiça e hoje são os meus pais adotivos. Morei 9 meses com a minha mãe Ezenete. Lá eu conheci o Deus que eu sirvo hoje. Foi um tempo precioso!

Após esse tempo eu falei que gostaria de voltar para Goiânia para ver os meus pais. Eu queria poder chegar neles e falar que eu os amava e os perdoava por tudo, por não terem cuidado de mim e por não terem percebido como eu estava. Eu queria dizer como eu os amava e que eu os perdoava, esse é o segredo da minha vitória! Deus me deu muitas chances, e após muitas escolhas erradas, um dia eu decidi que eu viveria para o Senhor!

Hoje eu sou missionária, viajo o Brasil e até fora do país, pregando a Palavra de Deus e contando o meu testemunho. O Senhor realizou um dos meus maiores sonhos, que era casar, ter filhos e uma linda família. Nada teria acontecido na minha vida se eu não tivesse perdoado os meus pais, e principalmente aquela mulher que me fez tão mal.

Hoje o meu maior sonho é escrever um livro com a minha história, para que assim, mais vidas sejam alcançadas pelo amor do nosso Deus!

Do cativeiro ao ministério – Lucélia Rodrigues

Lucélia Rodrigues

Missionária. Contatos: (62) 9 9102-9106 @luceliarodriguesoficial

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