Entrevista com Francine Walsh

Fruto é uma palavra que salta aos olhos repetidas vezes para todo aquele que lê as Escrituras com atenção e zelo. É verdade que o “dar frutos”, principalmente no Novo Testamento, parece estar aliançado com a essência de um verdadeiro cristão. Sobre o assunto, Francine Walsh parece ter assumido o “frutificar” como um dos cernes de seu propósito de vida. A escritora que atualmente mora em Minnesota, nos Estados Unidos, lidera um grupo de estudos bíblicos intitulado como “Frutíferas”, parte do ministério Graça em Flor, também criado por ela.

As raízes de um ministério

Quem olha para os seus frutos visíveis — vídeos com milhares de visualizações, publicação de dois livros em tradicionais editoras cristãs e números expressivos de seguidores — pode acreditar que esses são os sinais mais evidentes de sua obediência. No entanto, para ela, que aprendeu a aceitar o título de “professora da Bíblia” como ofício, não há nada que se compare com o perfume exalado pelos frutos de vidas transformadas e dos corações inclinados a conhecerem o Senhor com profundidade e constância.

Atualmente eu diria, meio que brincando e meio que seriamente, que sou esposa e mãe em tempo integral, e professora da Bíblia meio período. E na verdade esse termo, “professora da Bíblia”, também foi algo que eu demorei a abraçar. Eu cresci sonhando em ser escritora, e quando vi meu nome em um contrato editorial, foi uma alegria poder dizer que essa era minha profissão. Mas hoje me vejo mais como uma professora da Bíblia que ensina a Palavra em diferentes formatos, como livros, podcasts, vídeos e até mesmo no Instagram”, completa.

Francine conta que cultivou o hábito de criar conteúdo para a internet quando o assunto ainda nem era visto com ares tão “profissionais” e bem estruturados como se observa atualmente, mas que com o passar do tempo, enxergou um propósito maior no uso da ferramenta. “Eu só comecei a ver a criação de conteúdo na internet realmente como um serviço a Deus e à Igreja em 2015, quando criei o Graça em Flor. O nome veio, inicialmente, de uma música da banda Mumford & Sons que diz, “Com graça em seu coração e flores em seu cabelo“; mas com o tempo eu entendi que Deus me deu esse nome por motivos muito mais profundos”, afirma a escritora que hoje já ultrapassa a marca de 45 mil seguidores nas redes sociais do projeto.

Sementes literárias

Em “Bem sei que tudo podes”, seu primeiro livro com uma narrativa de ficção, Francine apresenta a história de Cecília, uma jovem que vê a sua fé sendo provada e moldada por uma experiência traumática e de Ian, um garoto que ao se apaixonar pela protagonista, se vê diante de desafios e dilemas típicos de inúmeros jovens cristãos. Mais do que um romance, a obra abre espaço para o leitor conhecer as características do amor de Deus e por meio das histórias vividas pelos personagens centrais, ser conduzido a pensar sobre sua própria jornada de fé.

Eu lembro de contar ideias da narrativa pro meu marido, enquanto escrevia, e ele dizia, “nossa, clichê demais”, e aí eu mudava o rumo. Foi tudo assim, muito orgânico mesmo. Mas, em relação a ser um instrumento de evangelização, esse foi outro presente da graça, porque eu realmente não o imaginava como um projeto evangelístico enquanto escrevia. Esse foi o rumo que o Espírito criou para a história. O que eu fiz foi transbordar muito de mim em cada personagem, tanto nos que acertaram quanto nos que erraram, e acabou que nisso a história tomou um rumo de apontar à graça do Evangelho, porque minha vida é um testemunho da graça”, reflete.

Os frutos da feminilidade bíblica

Um estudo teológico consistente ainda é visto por muitos como uma realidade distante e, em certa medida, até dispensável, para mulheres cristãs. O equívoco ainda está relacionado com distorções transmitidas ao longo das gerações e que comprometem a ótica de muitas mulheres diante das Escrituras e dos papeis assumidos dentro e fora de seus lares. Nesse contexto, Francine encontrou um espaço para reflexões profundas o suficiente para serem transformadas em um livro sobre o tema: “Ela à imagem d’Ele”, publicado em 2022.

As mulheres não só podem, mas devem ser ativas na Teologia, porque somos tão necessárias à causa do Reino quanto os homens. E quando eu digo Teologia não falo somente no sentido acadêmico, para a qual nem todas são chamadas. Falo do ensino e aprendizagem de Cristo pela revelação na Palavra. Falo das teólogas dentro dos lares, dentro das escolas, dentro dos escritórios. Teólogas do dia-a-dia, do ordinário”, explica ao ser perguntada sobre a importância do incentivo à cultura de estudos teológicos.

Francine é incisiva quando aponta para posição da mulher ao buscar uma rotina ativa de estudos e da revelação de sua identidade em Cristo.  “Para além desse desafio mais individual, creio que coletivamente falando, nossas igrejas têm visto o desafio de ajudar suas mulheres a compreenderem seu lugar em uma sociedade profundamente caótica. A mulher que dá frutos é aquela que vive de maneira digna do Evangelho de Cristo, crescendo no conhecimento de quem Ele é, agradando o seu Senhor em tudo, perseverando nas dificuldades com alegria e em tudo dando graças ao Pai”.

Jéssica Lima

Formada em Jornalismo, atua como revisora editorial, produtora de conteúdo para redes sociais e atua como jornalista na equipe editorial da Revista Renascer.

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