O que foi a Reforma Protestante?

No dia 31 de outubro, comemoramos 505 anos da Reforma Protestante. Creio que muitos de nós estamos familiarizados com esse termo, pois o estudamos na escola e ao longo dos anos, continuamos a ouvir e até mesmo a comemorar a reforma. Mas, me pergunto: será que nós como cristãos conseguiríamos explicar com mais detalhes ao invés de apenas dizer que: “A reforma protestante foi encabeçada pelo Martinho Lutero, quando ele pregou suas 95 teses na porta da igreja”?. Como estava o cenário político e religioso daquela época? Existiram mais reformadores? O que eram de fato as 95 teses defendidas pelo Lutero?  Quais foram as consequências dessa ação? Afinal, quem foi Martinho Lutero? Já pararam para refletir sobre essas perguntas? Convido você leitor a mergulhar nesse texto onde traremos pontos principais sobre a Reforma Protestante.

Contexto Histórico

Para prosseguirmos e entendermos o valor da  obra de Martinho Lutero, faz-se necessário abordar de forma resumida um pouco sobre o contexto histórico antes da reforma, pois foi através desses aspectos que ela pode ser consolidada.

A igreja Católica passava por uma decadência, onde sua liderança usava o papado como objeto de poder. O papa impunha-se como autoridade, além do campo religioso, alcançando assim o campo secular (política). Nessa época, havia muito nepotismo e corrupção papal, além do elevado  abuso de poder. Os reis da Europa tinham seu poder sustentado pela autoridade da Igreja, uma vez que era praticamente impossível manter-se no comando sem a aprovação do papa. Dessa forma, a Igreja Católica detinha o monopólio da vida política e religiosa europeia. Eles cobravam impostos de todos os seus fiéis e tinham em seu domínio grande quantidade de terras e outras riquezas em suas mãos.

Um dos maiores abusos cometidos pela Igreja Católica que culminaria em um dos fatores cruciais do questionamento de Lutero, foram as vendas de indulgências. Tratava-se da  compra da salvação! Você pagava por um pedacinho de terra no céu, pelo perdão dos seus pecados e ainda, poderia pagar por um parente seu sair do “purgatório”.

Assim, as indulgências se caracterizavam como um mecanismo criado para obter vantagens econômicas, sendo uma forma de comércio para enriquecer ainda mais a Igreja, uma oferta que faziam para compensar uma penitência. No auge do período renascentista (movimento cultural com retorno aos clássicos gregos), a igreja, na figura do papa Leão X, incentivou as indulgências na ideia de reconstruir a Basílica de São Pedro, nos novos moldes artísticos da época. A preocupação do clérigo era mais com o embelezamento, com as obras de arte do que com o cuidado com o rebanho e com as tarefas eclesiásticas.

Pré-reformadores

Por conta de todos esses fatores: corrupção, o poder, as cruzadas (uma série de guerras realizadas pela igreja católica), a inquisição (tribunal formado pela Igreja para condenar e punir pessoas que tinham desvios aos dogmas do cristianismo, chamados de hereges) e as cobranças de indulgências pela Igreja, vários movimentos esporádicos surgiram contra os ensinos e as práticas da igreja. Assim, os pré-reformadores não concordavam com as atitudes observadas, e passavam a combater as irregularidades e as imoralidades do cléro. No entanto, a Igreja conseguiu calar esses movimentos por alguns anos.

Assim, esses movimentos esporádicos ficaram conhecidos como “pré reformadores”. Alguns deles liderados por John Wycliffe (Inglês), “a estrela da alva da reforma”, um precursor da reforma que traduziu o novo testamento para o inglês. Na Itália, Jerônimo Savonarola, um padre italiano, considerado o grande precursor da reforma, pregou muito contra as atitudes da Igreja Católica e foi sentenciado a morte no ano de 1498, queimado na fogueira em praça pública.

Outro precursor importante da Reforma foi John Huss, (discípulo de Wycliffe) da região da Moravia, na Alemanha, um erudito pregador da capela de Belém, em Praga. No cárcere, antes de ser queimado vivo, Huss disse: “Podem matar o ganso (em alemão, sua língua natal, huss, é ganso) mas daqui a cem anos, Deus suscitará um cisne que não poderão queimar”. Huss foi queimado na fogueira, em praça pública.

Quem foi Martinho Lutero?

Foi nesse cenário religioso e político que nasceu Martinho Lutero no dia 10 de novembro de 1483, em Eisleben. Ele era de família de camponeses, e seu pai trabalhava arduamente para  vestir, alimentar e educar seus sete filhos.  Em 1501, na Universidade de Erfurt, estudou filosofia nominalista com tendência relativista, que eliminava a harmonia entre a ciência e a fé.

Certa vez, a caminho da universidade, quando tinha 22 anos de idade, foi quase fulminado por um raio; em consequência, fez o voto a Santa Ana de que entraria no convento se não morresse. Contrariando o pai, em julho de 1505, Lutero entrou para o convento dos agostinianos, uma das ordens mais rigorosas da época. Em 1507, ele foi ordenado presbítero.

Lutero tinha um temperamento escrupuloso e pessimista, tinha um sentimento profundo da sua própria pecaminosidade, temia o juízo de Deus sobre os seus pecados; algo que o deixava inquieto ao pensar na sua fragilidade moral e nos juízos de Deus. Jejuava, praticava vigílias de oração, mas sem conseguir paz. Na expressão “justiça de Deus”, ele se sentia completamente pecador. Muitas vezes era encontrado em sua cela desacordado de tanto se martirizar e se flagelar, tentando expurgar seus próprios pecados.

Anos depois, em 1515, foi nomeado professor de Sagrada Escritura, para dar aulas de Teologia em Wittenberg. E em uma dessas aulas, Lutero estava ensinando as cartas de Paulo aos Romanos, quando ele se deparou com o versículo de Romanos 1:17 “O justo viverá pela fé” e sua mente se transformou naquele momento, pois ele percebeu que a justiça de Deus vinha através do sacrifício de Jesus na cruz e não pelas suas próprias obras.

A justiça é revelada em Cristo e foi derramada sobre Jesus no calvário. A partir de então, ele teve convicção da sua própria salvação e seus olhos se abriram para as coisas que estavam acontecendo dentro da Igreja Católica e o “rumo” para qual caminhava. Martinho se vê liberto por esse texto. Como ele mesmo relata:

“Senti que havia nascido de novo e que as portas do paraíso me haviam sido abertas. Todas as Escrituras tiveram um novo sentido. A partir de então, a frase “justiça de Deus”, não me encheu mais de ódio, mas se tornou indizivelmente doce em virtude de um grande amor”.  (Martinho Lutero).

No ano de 1517, no dia 31 de outubro, o “cisne” Martinho Lutero, afixou suas 95 teses na porta da igreja do Castelo, em Wittenberg, 102 anos depois da morte de John Huss na fogueira, o mesmo enganara-se em apenas dois anos na sua predição. A própria intenção de Lutero não era causar uma reação, não foi um ato de rebeldia como muitos pensam, e sim fazer um convite acadêmico para debater esse tema, pois era justamente ali, na porta da igreja onde os acadêmicos costumavam colocar suas propostas de debates. O teor das 95 teses de Lutero resume-se em que Cristo requer o arrependimento e a tristeza pelo pecado, e não a penitência.

Aqui, destaca-se dois pontos importantes da Reforma Protestante que divergem completamente da Igreja Católica: salvação e autoridade. Como que alguém pode ser salvo? Qual é a fonte de autoridade última para a Igreja? A partir de então não é mais o papa que é infalível, mas as Escrituras são vistas como  inerrantes.

No entanto, esse ato não foi visto com bons olhos e a reação do papa foi promulgar uma bula pedindo que Lutero se retratasse dentro de 60 dias e mandou queimar toda a literatura de Martinho Lutero. Quando Lutero recebeu essa bula, o mesmo a queimou em praça pública junto com todos os livros de direito canônico da Igreja e a partir desse gesto declarava seu rompimento com a instituição. Depois disso,  Lutero foi jurado de morte pelo imperador. Então, o príncipe da Saxônia para salvá-lo de seus inimigos, o sequestrou em um bosque perto de Wittenberg e o levou para o castelo de Wartburgo, onde Lutero passou muitos meses disfarçado. Contudo, foi-lhe concedida a liberdade de escrever, onde traduziu o Novo Testamento para o alemão em apenas três meses.

A Reforma Protestante é considerada o movimento mais importante depois do pentecostes, pois não se tratou de uma inovação e sim uma volta ao Cristianismo primitivo, à doutrina apostólica. A Reforma Protestante também lançou os cinco pilares de sustentação, ou seja, os cinco fundamentos, conhecidos também como as cinco solas, sendo eles: Sola Scriptura (Somente as Escrituras), Sola Fide (Somente a fé), Sola Gratia (Somente a graça), Solus Christus (Somente Cristo) e Soli Deo Gloria (Somente a Deus a Glória).

Temos que nos lembrar que Martinho Lutero não estava sozinho, muitos fatores culminaram para que a Reforma Protestante acontecesse. Nessa época, a própria invenção da máquina de imprensa  possibilitou que os textos pudessem ser publicados com muita rapidez. O sistema político tinha suas relações com o papado enfraquecido, e tudo colaborou para que a Reforma Protestante estourasse na Alemanha.

Após isso, mudanças começaram a acontecer, os monges começaram a se casar, os cultos eram realizados na língua nativa do povo, ou seja, os cultos passaram a ser realizados em alemão, e a Bíblia foi traduzida para o alemão.

Uma das grandes conquistas da Reforma Protestante foi sobre o sistema de educação, onde o mesmo pode ser instaurado para todas as pessoas, tornando-se o pai das escolas públicas.

Kezia Christhiane Ferreira Torres

Bióloga e Ministra de Louvor IBR MUSIC

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Claudio Garcia
Claudio Garcia
1 ano atrás

Excelente texto, muito bem fundamentado, uma pena que muitas Igrejas esquecem de comemorar esta data. Um marco para a educação do povo.

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