Casas que viajam no tempo

Há casas que nos abraçam.

Simplesmente não conseguimos nos desvencilhar do perfume de seus corredores, de suas vozes, de suas imagens que sempre voltam dando movimento aos porta-retratos, como em um carrossel de histórias.

Vamos entrando pelas ruas nas quais ficavam esses endereços (mesmo muito depois de o tempo varrer tudo) e sentimos um nó na garganta, os olhos umedecidos – coisa que disfarçamos no vai-e-vem de carros e pedestres.

Há casas onde mora Deus e Ele é a eternidade em pessoa! Por isso, a partir deste ponto, vamos chamá-las de lares e não de casas. Quanto consolo no meio da tarde, oferecido sob forma de chocolate quente! Quanto desejo de sentarmos em um canto perto do muro, por onde sobe a hera…

Já tentei descrever esses lugares, que ficam muito além das lojas de móveis de design, mas isso é complicado e inacessível. Sempre fracasso na captura dos detalhes que tocam o intangível: o aroma do bolinho de polvilho com café? O abraço adicional ao pé da porta? A prateleira com mimos? Avencas nos vasos?

Minha tentativa didática não me parece hospitaleira o suficiente.

Estou falando aqui de gargalhadas trocadas ao redor de uma mesa já desordenada. Quero mencionar coisas que nunca esqueceremos – como primos fugindo de jatos de água fria da mangueira ou de um casal pendurando os primeiros quadros na parede nova em folha. Essas coisas vivem marcadas em nossos cinco sentidos. Elas são como a face de Cristo que convida (como fez a Marta, um dia): deixe um pouco os afazeres e sente aqui comigo!

Hoje, desejo fazer um tributo a esses memoriais que viajam no tempo e que ofertamos a outras gerações, por meio de coisinhas guardadas. Em minha própria caixa, algo como o bordado que uma saudosa tia fez para meu primeiro bebê.

Assim, com essa reflexão, proponho uma comunhão, onde tenhamos casas repletas de memórias e delicadeza. Casas amadas dentro da alma e que viajam no tempo, deixando um legado para a próxima geração.

Hoje, você pode dizer que essa descrição se aplica ao seu lar?

Andréa Faulhaber

Jornalista, autora do livro: “Volte ao Lar...antes que o dia termine”.

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