Como evitar o AVC?

Assustamos ao ler que o número de homicídios no Brasil, que foi de 51.549 em 2018 e de 59.128 no ano de 2017. Além disso, o total de mortes por acidente de trânsito alcançou a absurda quantidade de 1,4 milhões de pessoas em 2016. Essas informações criam em nós a impressão de que as causas externas são as principais responsáveis por ceifar vidas em nosso meio. Trata-se de um grande equívoco, talvez por uma sugestão mental provocada pela enxurrada de notícias violentas tão propagadas por nossos meios de comunicação.

O fato é que a maior ameaça recai sobre o nosso próprio estilo de vida. As doenças cardiovasculares representam a expressiva maioria dos óbitos ao redor do mundo. O acidente vascular cerebral (AVC) matou 6,7 milhões de pessoas em 2012 e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, permanecerá como a segunda causa até 2030, superado apenas pelo infarto do miocárdio.

O sexo masculino, a hereditariedade e a idade mais avançada, nada disso podemos mudar, entretanto há fatores modificáveis que se encontram ao nosso alcance. Por exemplo, estima-se que hipertensão arterial esteja por trás de 80% dos casos do acidente vascular cerebral isquêmico. Tratá-la e controlá-la, poderia muito bem reduzir estes trágicos números, tanto de mortes quanto de sequelas. Fazer atividade física com regularidade, emagrecer, reduzir o sódio de nossa dieta dos habituais 12 a 15g para os preconizados 4 a 5g, comer mais frutas e verduras auxiliam na redução dos níveis de pressão arterial e, por conseguinte, representam ferramentas importantes para evitar o dano circulatório de nosso encéfalo.

Como para a hipertensão, estas orientações servem também para outros vilões do nosso sistema cardiovascular. São imensamente bem-vindas atitudes de cessar o tabagismo, evitar excesso de doces e massas, controlar bem os níveis de açúcar, afastando o risco de diabetes, ter momentos de paz e enfrentar os aborrecimentos cotidianos com mais serenidade. Sim, oração, momentos de contemplação e reflexão podem ajudar a prevenir o AVC.

A instalação aguda de um derrame cerebral pode apresentar os seguintes sintomas:  fala comprometida, desvio da boca para um dos lados, perda de força ou sentido do tato, dor em uma ou mais extremidades e convulsões ou perda de consciência. Mesmo neste cenário crítico, há recursos para salvar esta pessoa e evitar que ela passe o resto de seus dias em uma cadeira de rodas ou dependendo de outros para se alimentar ou cuidar de sua higiene íntima.

Quanto mais cedo for diagnosticado, mais benefícios teremos com o tratamento adequado. Dentro de até três horas do início do evento, levando esse indivíduo para um pronto-socorro preparado, pode-se empregar um procedimento definido como trombólise, que nada mais é do que a quebra do coágulo ou êmbolo que obstruiu a artéria cerebral. Os resultados são milagrosos. Um paciente com alteração da fala ou com um braço e perna paralisados capacita-se ao retorno de suas funções em poucos instantes.

O derrame cerebral é súbito, porém, para que isso ocorra, são necessários anos e anos de agressão à “pele” que envolve internamente os vasos sanguíneos. O processo tem princípio com o colesterol alto, diabetes descontrolado, pressão arterial descuidada e o cigarro. Com o tempo, as moléculas de gordura infiltram-se abaixo da camada de pele dos vasos e provocam uma resposta inflamatória. Células de defesa promovem uma reação de isolamento da área com calcificação e redução do tamanho do vaso sanguíneo ou com ruptura do conteúdo para dentro da artéria, que é muito irritante e permite a formação de trombos e coágulos. Esta é uma das maneiras de se ter o acidente vascular cerebral.

O aneurisma cerebral é outro motivo de lesão vascular ao cérebro. Ele se constitui em uma má-formação de uma artéria, a qual possui uma parede mais frágil e que está mais sujeita a uma ruptura, levando à inundação de sangue na cabeça, que é mais catastrófico e, graças a Deus, menos frequente que o derrame por isquemia. Dores de cabeças muito frequentes, cada vez menos tratáveis com analgésicos, muitas vezes sem náuseas ou outras queixas, em quem têm parentes próximos com antecedente de aneurisma sugerem a possibilidade deste problema. Procurar o neurologista e realizar os exames necessários é muito oportuno, uma vez que para o acidente vascular encefálico hemorrágico, mais do que em qualquer outra condição médica, a prevenção é sem dúvida muito melhor que o remédio.

Nossas vidas estão nas mãos de nosso Senhor, e Ele faz tudo para o nosso bem, como um pai amoroso deseja para o seus filhos. Também como um Pai que instrui, Ele não faz o que nos compete fazer ou o que é possível que façamos. Ter uma dieta saudável, praticar atividade física, não fumar, relaxar-se e meditar são nossas obrigações. Não se furte a isso, porque no mais Ele prometeu nos abençoar.

Dr. João Marcelo Cavalcante Kluthcouski

Médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, com residência em clínica médica e cardiologia pela mesma instituição. Membro do corpo clínico do Hospital das Clínicas de Goiânia e da Clínica Cardioprime

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