Fazei tudo como se fosse para o Senhor

“E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens”. (Colossenses 3:23).

Nesse final de 2019, envolvido em meus pensamentos, refleti sobre a real necessidade de nossa existência. Com a retrospectiva de final de ano, ouvimos e testemunhamos muitas notícias ruins e tristes. Nesse sentido, questiono-me sobre o que tenho feito para que o sofrimento deste mundo possa ser amenizado, ou melhor, o que tenho feito para o Reino de Deus com o objetivo de tentar tornar a vida de meus irmãos menos sofrível.

Nada como a experiência. Como médico, trabalho em uma unidade de terapia intensiva de um Hospital público de Goiânia. Ao vivenciar duas situações clínicas, observei o que poderia ser um início de uma resposta para este dilema.

No primeiro caso, atendi uma senhora de 28 anos, gestante de 27 semanas e que possuía um grave problema congênito no fígado, inclusive com morte na família pelo mesmo problema. Ela tinha abandonado o tratamento, viveu no Pará por cinco anos e retornou com complicações gestacionais. Submetida a um parto cesariano prematuro, ela apresentou um inchaço nas pernas e uma imensa distensão da barriga com limitação da respiração, que lhe provocou a necessidade de uma ventilação artificial.

Estranhou-me a resistência da equipe de cirurgia em querer abordar esta complicação. O argumento era que se tratava de um acúmulo de líquido no abdome pelo histórico de cirrose. O quadro se prolongou de maneira grave, até que minha colega médica se indignou e solicitou a avaliação do médico responsável da ginecologia. O médico fez a ultrassonografia, observou a cavidade inundada de sangue e, de imediato, foi para o centro cirúrgico para retirar o útero. Resultado: no dia seguinte a paciente passou a respirar espontaneamente e o inchaço desapareceu. O fato é que essa demora poderia ter lhe custado a vida.

Em contrapartida, outro dia atendi um senhor de 54 anos com um câncer avançado nas vias biliares. Ele tinha feito há poucos dias um procedimento percutâneo para descompressão destes canais associados ao fígado. Infelizmente o quadro complicou com infecção generalizada e afetou o rim. O paciente parou de urinar, teve escórias em sua circulação e até o seu mais primitivo controle dos ácidos orgânicos ficou comprometido. Cedi a vaga para o médico do pronto-socorro. Vi a situação grave do paciente e já estava me preparando para intuba-lo. Então me apareceu o colega da urgência, por sinal antigo residente de Nefrologia da instituição.

Admirei esse residente pelo seu amor à medicina. Talvez ele não tivesse feito nada pelo paciente que não lhe era familiar, mas sim pelo que jurou em sua formatura sobre o conforto de um doente. Com ar professoral, ele implantou um cateter de diálise, preocupando-se com uma via a mais para a infusão de medicações. Resultado: em seis horas, o cenário de urgente risco de vida passou para o de um homem que precisaria apenas seguir as recomendações de um paciente crônico, tanto para o rim, quanto para o câncer.

Com essas situações que vivi como médico, lembrei-me de uma conversa que tive com Deus. Eu estava muito abatido com uma tragédia em nosso meio, com pessoas da nossa igreja, e o pastor João Queiroz, ao consolar a congregação, disse que o nosso Criador tinha o direito de colher Suas flores e não apenas aqueles pelos quais a sociedade possui a maior aversão, como assassinos, estupradores e outros. Mesmo assim, insisti com Deus, e com o passar dos dias tive em meu coração a compreensão de Sua resposta:

“Meu filho, não seja ingrato e não seja egoísta, dei a você saúde e disposição, pois através da sua vida, muitos poderão conquistar o Meu Reino”.

Compreendi com essas experiências e reflexões que estamos nessa terra não apenas por nós mesmos.  Somos importantes para as pessoas que nos cercam e que por isso precisamos aprender a fazer as coisas como se fosse para o Senhor.

Não necessitamos estar em um púlpito para pregar o Evangelho, pois nossas vidas servem como cartas pelo próprio Cristo, e a conversão de pessoas queridas pode se dar pelo exemplo de como agimos com nossos valores cristãos.

Certa vez, meu professor de Histologia citou um poeta português em uma de suas aulas: “Oh, minha alma, não aspires à vida total, mas esgote o campo do possível! ”. Se o meu campo do possível como médico, é oferecer o tratamento mais eficaz para os meus pacientes, ou que eu fale do amor de Deus em meu consultório, que assim eu proceda.

Precisamos entender que as nossas ações arrastam mais do que palavras. Pense nas pessoas que encontraremos na Eternidade, porque Deus nos deu a possibilidade de sermos instrumentos de conversão e perdão.

Por isso, o meu desejo é que, assim como eu, você possa servir as pessoas à sua volta como servimos a Cristo. Precisamos fazer tudo para o Senhor, pois esse será o nosso maior legado!

Que nesses próximos dias possamos buscar muitas almas para o Reino do nosso Senhor Jesus Cristo!

Dr. João Marcelo Cavalcante Kluthcouski

Médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, com residência em clínica médica e cardiologia pela mesma instituição. Membro do corpo clínico do Hospital das Clínicas de Goiânia e da Clínica Cardioprime

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