O perigo por trás de um filtro

O complexo ou mito de Narciso (personagem da mitologia grega que representa um forte símbolo da vaidade), segundo estudos da psicologia é o nome dado a um conceito onde o indivíduo preocupa-se exacerbadamente consigo e sobretudo com a sua imagem. Há uma sobrevalorização de si, uma vaidade descontrolada em alguém que geralmente necessita ser admirado e não admite que sua presença e imagem passe despercebida.

Na atualidade, essa busca de apreciação por si e por seguidores tem sido crescente. A autoavaliação e cobrança tem gerado um fenômeno que está em ascensão, o que não é considerado oficialmente uma doença, mas tem preocupado cirurgiões plásticos e especialistas em saúde mental, que é a “Dismorfia de Snapchat”. Termo  criado pelo médico britânico Tijion Esho.

De acordo com estudos da Academia Americana de Cirurgia Facial, Plástica e Reconstrutiva foi identificado que 56% dos cirurgiões plásticos notaram um aumento no número de clientes com menos de 30 anos de idade, cujo objetivo é apresentar-se melhor em suas postagens, tanto para seus seguidores, quanto em sites de relacionamentos. A referência para intervenções cirúrgicas e procedimentos estéticos não tem sido fotos de celebridades, mas a sua própria foto tratada por filtros disponíveis nos aplicativos do Snapchat, Instagram, Tik Tok e outros. A síndrome do “espelho, espelho meu” inova-se: “selfie, selfie minha”, mas o desassossego  é o mesmo.

É fato que há uma mudança de comportamento, uma mudança no ângulo da visibilidade e uma busca por aperfeiçoamento, transformação, sobrepondo a autoaceitação. Nessa busca, muitas pessoas não medem custos nem consequências, desconhecendo que em uma intervenção desse espectro o resultado pode ser um sucesso ou terminar em fracasso, compreendendo transtornos de níveis graves.

Poderíamos chamar esse comportamento de avanço? Poderíamos considerar que as plataformas sociais têm influenciado as pessoas a tornarem-se mais críticas e exigentes consigo? Que o uso de redes sociais tem tido também um impacto negativo na autoestima?

Nada errado em se cuidar, aperfeiçoar, em ter referências equilibradas, em se submeter a procedimentos estéticos e até cirurgias corretivas. A questão é: as pessoas estão em busca de uma transformação exterior, mas a grande transformação pode estar sendo necessária no seu interior, com a autoaceitação, a mudança de conceitos, o perdão liberado, a forma de pensar e agir. Vemos adultos problemáticos com o comportamento de crianças não tratadas e a solução não está na plástica, mas na alma.

Os filtros fotográficos usados cotidianamente são desenvolvidos para eliminar impurezas, imperfeições, para modelar a silhueta, remodelar detalhes do rosto, remover rugas, manchas, criar contornos e curvas, ampliar ou diminuir tamanhos, eliminar olheiras, dar brilho, modificar formatos, aplicar maquiagens com a facilidade de alguns toques na tela. Mas, a imagem desejada pode não requerer recursos tecnológicos ou plásticos, e sim uma profundidade em si mesmo, eliminando películas de complexos, preconceitos, obsessões pelo excesso de valorização da beleza, comparação com outras pessoas, dismorfias corporais e emocionais criadas pela não aceitação, pela rejeição ou por transtornos vivenciados, o que nenhum filtro poderá corrigir, pois são sintomas subjacentes com potencial nocivo à autoestima e à felicidade.

Não existe solução rápida diante de um problema não resolvido na vida. É necessário voltar a lente para o nosso interior e clamarmos Àquele que nos sonda e nos conhece, buscarmos a Sua direção, valorizarmos o privilégio de sermos imagem e semelhança d’Ele. Sejamos mais gratas e menos exigentes conosco.

Sugiro que você ative o flash da alegria em seu coração, pois, isso sim, aformoseia  o rosto com maior eficiência que qualquer filtro. Não deixe de ser você. Se cuide e siga a tendência de mais naturalidade e amor próprio.

Não há exposição mais bela que o amor. Ame-se!

Luciene Lisboa

Membro da Igreja Batista Renascer. Empresária @emporioluxe. Graduada em Design de Moda.

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